24 de abril, de 2024 | 11:00

Ditadura à brasileira

Antônio Nahas Junior *


Recebi esta semana de um amigo querido aqui de Ipatinga, a quem admiro e respeito, a seguinte mensagem via zap: “...Não deixa de ser interessante sua experiência: depois de ter sido vítima de uma ditadura agora torce pelos ditadores”. Sem rodeios, na sua opinião, vivemos numa ditadura! E perguntamos: nos anos 1970, um Governo civil tinha sido derrubado por militares; não havia eleições. Greves eram reprimidas e a imprensa era censurada. Como é possível que pessoas inteligentes e cultas considerem semelhantes estes dois momentos vividos pelo país?

Esta visão sobre o país não é apenas dele, mas de milhares e talvez milhões de pessoas. É consequência da polarização e calcificação das posições políticas no país, que cresceu e se fortaleceu após as eleições presidenciais de 2018. Esta polarização chegou a tal ponto que as diversas correntes de pensamento existentes na sociedade passam a se reconhecer como inimigas; excludentes; irreconciliáveis e diametralmente opostas.

Como relata os autores do ótimo e atual livro Biografia do Abismo (2), “parte dos eleitores considera que de fato está vivendo em trincheiras, pronta para um ataque no qual possa ganhar algum terreno de vantagem sobre os adversários. É uma disputa que se trava nos elevadores, nas salas de jantar, nos estádios e passou a ser um ato identitário, presente no cotidiano do consumo, do estilo de vida, hábitos e escolhas.”

Os afiliados vivem numa “bolha”, como dizem os cientistas políticos. São imunes às opiniões alheias e consideram que a verdade lhes pertence, se informam pelas mesmas redes sociais; trocam informações entre si; não acreditam em informações originárias de outras fontes.

Não existe nada de positivo fora da sua “bolha”. E, em paralelo, emerge a intolerância.

A política transborda para o cotidiano e as partes polarizadas passam a buscar não consenso, mas o dissenso: procurar as diferenças para exacerbar os conflitos, o que passa a ser a finalidade de todo o processo.

A incapacidade de ouvir, respeitar e tolerar outros pontos de vista acaba por consolidar interpretações sobre o Império da Ditadura no Brasil de hoje.
“A polarização chegou a tal ponto que as diversas correntes de pensamento existentes na sociedade passam a se reconhecer como inimigas”


As consequências desta visão podem ser muito prejudiciais a todos. Se vivemos sob uma ditadura, não há meios democráticos para mudar a realidade. Teremos então que partir para outros caminhos, mesmo que sejam violentos e antidemocráticos.

A prática de atos antidemocráticos levará à retaliação do aparelho de estado: prisões, apreensões. E, da parte dos atores, mais ira e confirmação da certeza que já possuem sobre a Ditadura Brasileira.

Vide o que vivemos no 8 de janeiro de 2023, com as condenações – muitas exageradas e até mesmo absurdas -, atingindo pessoas que lá estavam lá sem medir as consequências dos seus atos.

Sem diálogo, debate, negociações, acordos, alianças, não há democracia. E os problemas enfrentados num país diverso e complexo como o Brasil exigem diálogo constante.

Todo o país perde com a calcificação das posições políticas. Ambas as posições políticas que dominam a política brasileira são legitimas, devem ser respeitadas e toleradas.
“A maior responsabilidade para que sejam dados passos para a distensão política é de quem está no poder”


Ao mesmo tempo, estas correntes políticas devem respeitar e valorizar as regras do jogo. Quem não respeita a democracia não pode dela participar.

Não se pode, em nome de uma liberdade de expressão sem limites, naturalizar o ódio, o preconceito e a intimidação.
É muito necessário que haja a mudança deste quadro. A maior responsabilidade para que sejam dados passos para a distensão política é de quem está no poder. Chamar os adversários de “covardão”, como fez o nosso Presidente, só serve para acirrar os ânimos e fortalecer as posições mais radicais.

Bom exemplo de capacidade de governar para todos e distensionar os polos, vem de Contagem, onde a Prefeita Marilia Campos deverá receber votos de bolsonaristas, lulistas e demais correntes políticas.

Aqui em Ipatinga, o mesmo desafio está posto: o debate político nas eleições vai se dar em torno dos problemas vividos pela cidade ou será um show de impropérios e xingamentos, como vimos recentemente em programas de propaganda partidária capitaneado por políticos de fora da cidade? Esperamos que prevaleça o bom senso. Nossa cidade merece.

(2) Biografia do Abismo. Autores: Felipe Nunes e Thomas Trauman.

* Economista. Empresário. Sócio-diretor da NMC [email protected]/

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Comentários

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Antonio Nahas

25 de abril, 2024 | 07:21

“Gildazio: obrigado pelo comentário. Marco Antônio Villa, historiador, iniciou esta revisão, alegando que o governo Figueiredo (1979/84 ) não foi uma ditadura. Daí a importância de sempre trazermos os fatos históricos para conhecimento de todos.”

Gildázio Garcia Vitor

24 de abril, 2024 | 12:12

“O que tem de "gente inteligente e culta" (?), inclusive Professores de Ciências Humanas, que afirma que o período histórico brasileiro, denominado Ditadura Militar (1964-1985), não era uma ditadura, é bem maior que os prováveis 20% de bolsonaristas.”

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