Expo Usipa 2024 02 - 728x90

02 de setembro, de 2022 | 09:30

IBGE aponta queda no desemprego, mas ocupação no Brasil é puxada pela informalidade

Emmanuel Franco
Geógrafo salienta que, nesse momento, a pandemia já não impacta mais no mercado de trabalhoGeógrafo salienta que, nesse momento, a pandemia já não impacta mais no mercado de trabalho

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgou que a taxa de desocupação, que mede o desemprego no país, caiu para 9,1% no trimestre encerrado em julho. Essa taxa representa uma queda de 1,4 ponto percentual na comparação com o trimestre anterior, terminado em abril. É o menor índice da série desde o trimestre encerrado em dezembro de 2015, quando também foi de 9,1%. Apesar dos números, o geógrafo e especialista nas estatísticas do IBGE, William Passos, aponta que o cenário ainda é ruim.

Conforme dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, divulgada na quarta-feira (31/8), o contingente de pessoas ocupadas foi de 98,7 milhões, um recorde na série histórica, iniciada em 2012. Depois de dois anos, o rendimento real habitual voltou a crescer e chegou a R$ 2.693 no trimestre. O acréscimo de pessoas no mercado de trabalho também foi disseminado quando observadas as categorias de emprego. Destaque para o número de trabalhadores domésticos (5,9 milhões de pessoas), que subiu 4,4% frente ao trimestre anterior e para o número de empregadores (4,3 milhões de pessoas), que cresceu 3,9%.

O número de empregados com carteira de trabalho assinada no setor privado (exceto trabalhadores domésticos) também subiu: 1,6% contra o trimestre anterior, alcançando 35,8 milhões. Já a quantidade de trabalhadores por conta própria foi de 25,9 milhões de pessoas, o que significa um crescimento de 1,3%.

Informalidade

Já o número de empregados no setor público foi de 12 milhões, aumento de 4,7% no trimestre. Por fim, o número de empregados sem carteira assinada no setor privado bateu recorde da série histórica e chegou a 13,1 milhões de pessoas, um aumento de 4,8% em relação ao trimestre encerrado em abril. A taxa de informalidade foi de 39,8% da população ocupada (contra 40% no trimestre anterior) e chegou a 39,3 milhões. Entre as pessoas sem ocupação, a população fora da força de trabalho ficou estável em julho e foi de 64,7 milhões de pessoas. Já a população desalentada caiu 5% e chegou a 4,2 milhões de pessoas.

Explicação

Para William, o que explica esse cenário é a baixa atividade da economia, que deve crescer menos de 2% neste ano. Sem crescimento da economia, não há geração de emprego suficiente para criar oportunidade de trabalho para todos os brasileiros. Por isso, aponta, o número de trabalhadores sem carteira assinada, ou seja, na informalidade, vem batendo recordes.

O geógrafo salienta que, nesse momento, a pandemia já não impacta mais no mercado de trabalho, que passa a depender dos estímulos do governo, que não tem política nem de geração de empregos nem de desenvolvimento por causa da orientação ideológica neoliberal. “Segundo esta orientação, defendida pelo ministro da economia, Paulo Guedes, o mercado deve ser deixado sozinho, sem qualquer ação de intervenção do governo. E sozinho, como estamos vendo, o mercado não consegue gerar nem crescimento da atividade nem emprego e renda para todos os brasileiros”, frisa.

A PNAD Contínua divulgada pelo IBGE mostra, ainda, que o rendimento real habitual voltou a crescer depois de dois anos e chegou a R$ 2.693 no tri encerrado em julho. Questionado se o cenário não é tão ruim assim, William pondera que, como o próprio IBGE aponta, a ocupação no Brasil está sendo puxada pela informalidade, pelo trabalho por conta própria e pelo serviço público, ou seja, não está sendo puxada pelo emprego formal com carteira assinada e direitos da CLT.

Isso gera um efeito estatístico que puxa para cima o rendimento do trabalho e mascara a realidade, escondendo a verdadeira situação da maioria da população.

Fome no Brasil

Ainda segundo William, dados de diferentes fontes mostram que aumentou a fome no Brasil. De acordo com a segunda edição do Inquérito Nacional Sobre Segurança Alimentar no Contexto da Pandemia de Covid-19 no Brasil, por exemplo, divulgado pela Rede Penssan (Pesquisa em Soberania e Segurança Alimentar e Nutricional) em junho deste ano, há 125 milhões de pessoas em insegurança alimentar (em grau leve, moderado ou grave) no país.

“Desse total, são mais de 33 milhões em situação de fome (insegurança alimentar grave). Se aumentou a fome no país é porque o cenário é muito ruim, para não dizer que vivemos uma tragédia social e econômica”, conclui William Passos.
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
MAK SOLUTIONS MAK 02 - 728-90

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Envie seu Comentário