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08 de outubro, de 2022 | 09:38

''Do ponto de vista ético, pedir voto no altar é questionável'', aponta professor

Bruna Lage
Professor destaca que as instituições protestantes começaram a participar institucionalmente do poderProfessor destaca que as instituições protestantes começaram a participar institucionalmente do poder

Em ano eleitoral, o debate a respeito de política é inevitável. Presente em todas as rodas de conversa, a eleição e seus candidatos lideram os assuntos nas praças, lares e igrejas. O Diário do Aço conversou com o professor e advogado Hermundes Flores e também com o mentor na estação Caminho da Graça, Herbert Sathler Brito, que opinaram a respeito do altar ser utilizado para fins eleitoreiros. Ambos atuam em Ipatinga.

Hermundes recorda que a religião tem tudo a ver com política, não necessariamente com a política partidária, mas no sentido mais puro da palavra, de ação de um grupo organizado que provoca transformações, que age na esfera pública. “As legiões, todas elas, são coletividades de pessoas com visões de mundo semelhantes, isso é uma ação política. Independentemente do modo como as pessoas percebem a religião, fazer parte de uma religião é aderir a um projeto político”, aponta.

Segundo o professor, grandes coletividades, independentemente das denominações religiosas, agindo de forma sincronizada, como na escolha de candidatos, avaliações positivas ou críticas a decisões do Congresso... Tudo isso é ação política. “Então, sobre a interferência da religião na política, eu diria que é inevitável porque as organizações religiosas, a ação coletiva que qualquer religião pressupõe, é sempre uma ação política”, reitera.

Relação
Álbum pessoal
Herbert Sathler Brito é mentor na estação Caminho da GraçaHerbert Sathler Brito é mentor na estação Caminho da Graça

Hermundes observa que a religião sempre esteve institucionalmente associada à política. “A desvinculação entre política institucional e religião ocorreu após o século XIX. Em termos institucionais, política e religião estiveram ligados até os anos de 1800, aproximadamente, e nos países islâmicos continua até os dias atuais”, lembra.

No contexto atual, aponta, chama a atenção a importância das organizações, principalmente evangélicas, protestantes e parte da Igreja Católica – grupos ligados à renovação carismática, Opus Dei, grupos que se apresentam sob título de conservadores -, com destaque das igrejas protestantes. Para ele, o grau de participação das igrejas protestantes nessa eleição e na última é um dado a se pensar.

“E aí vale a pena a gente fazer algumas reflexões. A primeira faço inspirado em Rubem Alves, escritor e teólogo protestante. Em seu livro Religião e Repressão, ele lembra que o protestantismo nasceu no século XVI, como movimento de protesto contra as instituições políticas colocadas. E o protestantismo, nos seus 300 anos (séculos XVII, XVIII e XIX, principalmente início do XX), sempre esteve associado à liberdade”, salienta.

Mudança

O professor explica que, a partir da segunda metade do século XX em diante, principalmente com o movimento pentecostal, depois neopentecostal e por último os movimentos ligados à chamada teologia da prosperidade, principalmente no Brasil, as instituições protestantes começaram a se organizar para participar institucionalmente do poder.

Álbum pessoal
Hermundes Flores, de Ipatinga, é professor e advogadoHermundes Flores, de Ipatinga, é professor e advogado

“Comprando rádios, jornais, redes de televisão e finalmente fundando partidos políticos. Então, hoje, o protestantismo neopentecostal está organizado no campo da comunicação, no campo político, fundando partidos. Há bancadas dentro dos parlamentos em seus diversos níveis, que são diretamente eleitos pelos protestantes, que votam em bloco e isso lhes dá uma força política muito grande, porque eles votam de forma organizada e elegem candidatos”, frisa Hermundes Flores.

A política no altar

O advogado pontua que a Igreja Católica não tem esse costume, mas as denominações protestantes, boa parte delas, recebem os seus candidatos preferidos no altar e pedem votos, expressamente. “E aí não em termo jurídico, mas do ponto de vista ético pode ser discutido sim que um líder religioso, que conta com a confiança de seus fiéis, aproveite desse espaço para pedir voto. Aí é possível fazer críticas éticas, certamente. Agora, se não estiver ferindo legislação eleitoral, a princípio, juridicamente não é proibido”, avalia.


“O pastor deve ficar restrito à espiritualidade do seu rebanho”


O mentor na estação Caminho da Graça, movimento que caminha diametralmente oposto ao que hoje se chama de igreja, Herbert Sathler Brito também avalia o assunto. “Basta ligarmos a TV e logo vemos igrejas que se tornaram verdadeiros palanques políticos. É muito comum no meio evangélico de hoje o tal ‘curral eleitoral’, em que o pastor se torna cabo eleitoral do candidato (vide Silas Malafaia, líder dos evangélicos no Brasil) e não deveria ser assim. A figura do pastor deve ficar restrita à espiritualidade do seu rebanho, não se tornando um fanático ideológico, motivado na maioria das vezes por interesses pessoais”, afirma.

Resultado

Questionado sobre o que espera dessa eleição, Beto, como Herbert Sathler é mais conhecido, quer que seja a representação do clamor da maioria. Para ele, isso é o que se espera de uma democracia. “Mas sinceramente, desejo que o ódio seja vencido pelo amor. Tá tudo tão polarizado que o amor vai esfriando do coração de quase todos, a religião se imiscuiu com a política e não se discerne mais o que é o quê. Espero que o eleito seja a oposição a este governo que aí está, Jesus jamais se uniria a esse espírito, e por favor (aos extremistas e polarizados), ele também não seria de esquerda, mas seria coerente com o que seja evangelho na prática e também na oração”, conclui.
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

10 de outubro, 2022 | 07:38

“Uma pequena informação para aqueles que, por temerem as verdades, desfazem do conhecimento alheio: o jovem DOUTOR Hermundes, é Graduado em Direto pela UFV, uma das melhores Federais do Brasil; tem Mestrado pela Universidade de Coimbra, uma das mais antigas e melhores do mundo; e Doutorado pela Unisinos. Realmente, "esse advogado aí, não sabe de nada".
Eu, que não passo de um velho e medíocre Professor, formado em uma Faculdade "de fim de semana", em Caratinga, onde estou neste momento, na Rodoviária, esperando uma perua para Realeza, só queria o curso de Viçosa dele.
Parabéns DOUTOR! Sucesso sempre em sua vida acadêmica e profissional.”

Marcos Guimarães

09 de outubro, 2022 | 20:51

“"Curral Eleitoral"? " Evangélicos votam em blocos sob orientação de Pastor?"
Quando eu vejo um engravatado Ateu "descendo o pau" na população Evangélica, dá nojo!
Essa coisa de Movimento é típico do mundanismo que entrou e aparelhou a maioria das Igrejas, mas não contaminou a Verdadeira Obra do Senhor.
Nossos Altares não cedem e nunca cederam espaço para Politico pedir votos, Oramos pelas Autoridades e nosso voto é tão secreto que somente sob a orientação do Deus no qual cremos, é que votamos.
Se estes Setores Religiosos investiram em meios de comunicação e se perverteram em Relação à Palavra de Deus, cada um responderá por seus atos.
Do ponto de vista Legal, se o seu Pastor dá espaço para Incrédulo e Ateu em Púlpito, troque de igreja e Pastor.
E esse advogado ai, não sabe de nada.”

Paulo

09 de outubro, 2022 | 10:01

“Qdo as igrejas Evangélicas começaram a ganhar musculatura no Brasil na década de 90 parecia algo sem muitas pretensões, apenas uma forma de aliviar o sofrimento do povo através da fé. Mas hoje tornou um negócio lucrativo pra grandes denominações. Pastores entraram pra política e tem o controle de muitos votos. E a grande questão é o não pagamento de impostos, e tudo fica registrado em nome da denominação pra fugir da taxação. Ou seja virou um grande negócio, por isso vivemos nesta guerra santa.”

Humberto de Souza Abreu

09 de outubro, 2022 | 09:52

“Em primeiro lugar, matéria muito oportuna .2-Excelente a escolha das pessoas ouvidas.3-De fato, altar não pode ser palanque. 4- Sobre o comentário final do Professor Hernandes, cabe lembrar os ensinamentos do Apóstolo Paulo: Nem tudo que é lícito me convém.”

Gildázio Garcia Vitor

08 de outubro, 2022 | 13:37

“Para entender, pelo menos em parte, as igrejas Pentescostais e as Neopentecostais, sugiro a leitura de um livro, lançado no final da década de 1980: "Os Demônios Descem do Norte", de Delcio Monteiro de Lima. É, para mim, Ateu não praticante, uma obra meio panfletária e corajosa em defesa da Igreja Católica.”

Jucá

08 de outubro, 2022 | 12:56

“Independente do político que esteja eleito, devemos orar,resar,para abençoar os seus pensamentos e colocar mão Deus em primeiro lugar.”

Eu

08 de outubro, 2022 | 11:05

“Houve o tempo em q se pedia votos nas igrejas...hoje em dia se EXIGE, se OBRIGA, sob ameaças e terror psicológico que os membros votem em candidatos alinhados com a denominação. E a eleição do boçalnato provou isso...quem ganha são as grandes denominações q tem muitos empresários no rebanho, e eles q estão ganhando muito dinheiro nesse governo pagam altos dízimos...já as igrejas pequenas estão fechando, pois suas ovelhas pobres não tem nem dinheiro pra contribuir nas mesmas. Os pastores de igrejas pequenas vão se lascar se o bozo for reeleito, suas igrejas fecharão por falta de fiéis, cada vez mais individados e famintos...”

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