10 de outubro, de 2022 | 16:44

Briga de foice

Nena de Castro *

O poetíssimo Mário Quintana, irônico que só ele, escreveu: “O que me impressiona, à vista de um macaco, não é que ele tenha sido nosso passado: é este pressentimento de que ele venha a ser o nosso futuro “. Bão, no caso em questão, o poeta estava criticando o Criacionismo x Teoria Darwiniana da evolução das espécies. A essa altura os meus queridos cinco amáveis e pacientes leitores devem estar se perguntando se estou querendo atear querosene à fogueira, vez que os tempos estão tão obscuros e mediavelescos que por “dá cá uma palha”, a ignorância explode.

Antes que os ditos “cristãos fundamentalistas” me bosteem em praça pública, esclareço que creio em Deus e na Bíblia. O problema é se os que não creem resolverem me empalar ou mandar pra fogueira e é aí que a porca torce o rabo, causa de quê o trem tá feio, feíssimo, já não se discutem idéias mas parte-se logo para a briga como se fôssemos nearthendais com tacapes nas costas (ou metralhadoras e revólveres!)

Quem começou esse papo foi o Zé, meu boneco de contar Histórias, que tal qual a minha excêntrica sabiá Gertrud, bate longos papos comigo. (A bem da verdade com a GER eu não tenho muita paciência, já a mandei pro exílio três vezes, ela conversa mesmo é com as tia Bugra Velha e Lady Zefa e tô cansada de separar brigas. Felizmente, inteligentes que são, amam a Cultura e a Liberdade e vão todas votar no meu candidato, intonce num deu quiprocó não, grazaDeus!

Zé hoje é quem está “pholhosofante”, jururu, meditabundo, sorumbático, achando tudo nauseabundo e eu fico doida aqui, evitando escrever o feminino desses dois adjetivos pra não ser censurada.

- Zé meu fi, deixa de sê besta, num dianta ficá nessa marmotice macambúzia, que o mundo é imundo e ói que tô nele há mais de sete décadas, e de hora em hora...

- Vai caçá o que fazê, plantá mandioca, engarrafá vento, plantá bananêra (dos dois jeitos) coiê taioba, dexa de sê trapaiado, dexa de sê goiaba, vacaiado, chega de bobice, de manota, de ingrizia! Não seja uma dessas almas desamparadas, propensas a amar o subhumano ! E vê se vota dereitim, senão a cobra fuma pro nosso lado! Tudo há de miorá, Zé! (E nada mais digo!)

* Escritora e encantadora de histórias

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço