12 de outubro, de 2022 | 12:00

Crônica: A culpa é do licor de jabuticaba

Rodrigo Alves de Carvalho *

Quando o Norberto conheceu a Edneia, todo mundo falava que não ia dar certo. O Norberto era chegado numa cervejinha, gostava das festinhas animadas na casa dos amigos, e às vezes, passava da conta e dava um vexaminho aqui e outro ali, quando misturava cerveja com destilado.

Já a Edneia, não bebia e não dava vexame, sequer dançava axé e pagode com as amigas e com o Norberto, que não perdia tempo nas coreografias do “Andou na prancha, cuidado tubarão vai te pegar”.

Por sorte, a Edneia tirou carteira de motorista naquele mesmo ano que se conheceram (o Norberto até sabia dirigir, mas reprovou quatro vezes nas provas teóricas, e acabou desistindo da carteira).

E dessa forma, com o Norberto bebendo e dando vexame, e com a Edneia de cara fechada, levando o namorado embora para casa, os dois continuaram se amando.

Todo mundo achava que depois de casados, o Norberto iria maneirar, afinal, o chefe da casa teria que ser um cara responsável...

Que nada! Norberto continuou na sua pegada de bebedor de cerveja e dançador de pagode.

Tiveram um filho, e o Norberto parece que deu uma segurada. Continuou a beber nas festinhas e encontros com os amigos, mas os vexames foram diminuindo. Em algumas ocasiões, apenas cantorias altas horas da madrugada, com vizinhos chamando a polícia, de saco cheio de tanto ouvirem “Boate Azul”.

E foi justamente no aniversário de 18 anos de seu filho, que a Edneia inventou de experimentar o licor de jabuticaba. Sua vida nunca mais foi a mesma.

O licor de jabuticaba foi a porta de entrada para outras bebidas que ela decidiu tomar, só para saber que gosto tinha, entretanto, quando experimentou a cerveja, que seu marido tanto gostava, também se apaixonou.

Por algum período de tempo, Norberto e Edneia bebiam juntos, se divertiam juntos, se embriagavam juntos e iam embora para casa de carona com amigos. Mas, a Edneia começou a despirocar quando bebia. Dançava em cima da mesa, perdia o sapato, caia no chão.

Norberto, no começo dava risada, mas depois não achava mais graça. Onde já se viu uma senhora respeitável dar tanto vexame?

Os amigos adoravam a Edneia, afinal de contas, ela passou a alegrar o ambiente nas festinhas e encontros com os amigos. Dias desses atrás, o Norberto voltou a tentar tirar sua carteira de motorista e, finalmente, ele conseguiu.
E é dessa forma, com a Edneia bebendo e dando vexame, e com o Norberto de cara fechada, levando a esposa embora para casa, que os dois continuam se amando.

* Jornalista, escritor e poeta possui diversos prêmios literários em vários estados e participação em importantes coletâneas de poesia, contos e crônicas. Em 2022 relançou seu primeiro livro individual intitulado “Contos Colhidos” pela editora Clube de Autores, disponível na Amazon, Americanas.com, Estante Virtual e Submarino
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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

12 de outubro, 2022 | 12:49

“Belíssima crônica! Parabéns!”

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