17 de outubro, de 2022 | 09:31

Primeiro debate do segundo turno tem troca de farpas e perguntas sem respostas com desvio do assunto

Reprodução de vídeo
Os dois candidatos protagonizam a mais acirrada disputa eleitoral dos últimos tempos no Brasil; debate de domingo a noite foi o primeiro com embates diretos entre Lula e Bolsonaro Os dois candidatos protagonizam a mais acirrada disputa eleitoral dos últimos tempos no Brasil; debate de domingo a noite foi o primeiro com embates diretos entre Lula e Bolsonaro

Adversários políticos que polarizam uma das mais disputadas eleições dos últimos tempos, Jair Bolsonaro (PL) e Luiz Inácio Lula da Silva (PT) se encararam pela primeira vez pessoalmente, em um debate promovido por um grupo de veículos de comunicação (Portal UOL, Band TV, Folha de S.Paulo, TV Cultura e rádios) no começo da noite de domingo.

Diferentemente do primeiro turno, dessa vez, os dois candidatos tiveram embates diretos. Os presidenciáveis usaram o espaço para discussão de propostas e comparações entre as gestões deles no Palácio do Planalto.

No primeiro turno, o petista obteve 48,43% dos votos válidos (57,2 milhões) e o presidente Bolsonaro 43,20% (51 milhões). Entretanto, 20% do eleitorado deixou de votar. As pesquisas voltaram a apontar para a possibilidade de uma decisão apertada nas urnas no dia 30 de outubro e até lá o eleitor terá mais quatro debates para definir o voto.

Um fato que chamou a atenção foi a chegada de Bolsonaro ao debate, acompanhado de uma comitiva que tinha, entre seus integrantes, o ex-juiz federal Sérgio Moro, senador eleito pelo União Brasil. Moro foi ministro de Bolsonaro e saiu do governo em meio a embate com o presidente por discorda da forma como o governo era conduzido e acusações de ingerência na Polícia Federal. Moro foi o juiz coordenador da Operação Lavajato, cujas investigações levaram à prisão, empresário e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No debate, o petista concentrou os ataques ao atual presidente na gestão da pandemia, enquanto Bolsonaro fez da corrupção e pautas de religião e costumes como tema das perguntas ao adversário. Os adversários travaram algumas ofensas pessoais relacionadas sobre mentiras e fake news. Bolsonaro voltou a acusar Lula de se unir ao crime e mais uma citou o episódio do boné com a inscrição CPX, associada por Bolsonaro aos criminosos com Complexo do Alemão (conjunto de comunidades da favela). CPX, conforme relata um empresário criador da marca, significa CPX. Na semana passada o empresário comemorou a polêmica que fez disparar as encomendas do boné com a inscrição, fato que o obrigou a contratar mão de obra para aumentar a produção na fábrica.

O petista se defendeu dizendo ter criado cinco prisões de segurança máxima durante seu governo (2003-2010) e contra-atacou Bolsonaro tratando sobre suas relações com a milícia carioca, apontada como responsável pelo assassinato da vereadora Marielle Franco em 2018.

Mão no ombro do adversário

O debate teve quase que “momentos de descontração”, em que o tom de deboche e risada dos candidatos em relação a temas polêmicos chegou ao limite. O embate direto foi conturbado, com interrupções por parte dos participantes. Em determinado momento, Bolsonaro pôs a mão no ombro de Lula, que tentou afastar o presidente.

O fato ocorreu quando Lula e Bolsonaro discutiam sobre o escândalo do Petrolão. Após um breve silêncio, o atual presidente, que estava atrás de Lula, tocou o concorrente no ombro. “Fica aqui, Lula”, disse. O petista tirou a mão de Bolsonaro e continuou com o discurso. “Me disseram que você era um puxa-saco meu, que todo discurso seu no congresso nacional era falando bem de mim”, disse.

Lula perguntou a Bolsonaro quantas universidades e escolas técnicas foram inauguradas na atual gestão. O presidente não respondeu, afirmando que não faria sentido abrir instituições porque elas ficariam fechadas devido à pandemia.

Gestão da pandemia

O petista criticou a gestão de Bolsonaro no enfrentamento à covid-19 e focou as perguntas em episódios em que o presidente imitou pessoas morrendo com falta de ar e falas que colocaram em xeque a existência da pandemia e a eficácia das vacinas.

“Eu não faço acusações mentirosas. São dados científicos. O senhor atrasou a vacina, depois tendo um processo inclusive de corrupção definido e denunciado pela CPI. E o fato concreto é que a sua negligência fez com que 680 mil pessoas morressem quando mais da metade poderia ter sido salva. A verdade é que o senhor não cuidou, debochou, riu, dizia que quem tomava vacina virava jacaré, virava homossexual, que não podia tomar vacina. O senhor gozou das pessoas, imitou as pessoas morrendo afogada por falta de oxigênio em Manaus”, disse Lula.

Bolsonaro se defendeu ao mencionar a compra de 500 milhões de doses de vacinas e afirmou que os momentos em que imitou pessoas com falta de ar foram adulterados. “O ‘riu’ é mais uma mentira tua, basta ver o vídeo quando aconteceu a questão da falta de ar. Vocês são especialistas em pegar vídeos, filmes, e cortar o pedaço que interessa para vocês”. A troca de acusações de uso de notícias falsas permeou grande parte do debate entre Lula e Bolsonaro.

Bolsonaro também afirmou que o Brasil foi o país onde mais se vacinou contra a Covid, no mundo, fato que foi checado pelo "Aos fatos", ao vivo e acabou desmentido:"De acordo com os dados do Our World in Data, o Brasil é o 39º país no ranking de vacinados contra a Covid-19 em números proporcionais, com 80,4% da população imunizada", divulgou o serviço.

Água para o Nordeste

Outro tema que gerou discórdia entre os debatentes foi a conclusão das obras de transposição do rio São Francisco, que permitiu a chegada de água em uma área de seca nos estados do Nordeste. Bolsonaro afirmou que Lula não levou água para o povo da região onde ele nasceu. Lula rebateu afirmando que Bolsonaro apenas concluiu uma obra que seu governo deixou 88% concluída. Entretanto, de acordo com dados do Ministério da Integração Nacional, 96% da transposição já estava concluída quando Bolsonaro assumiu o governo.

Composição do STF

Ao responder à jornalista Vera Magalhães acerca de uma proposta em tramitação no Congresso Nacional, que prevê a nomeação de mais quatro ministros para a Corte do Supremo Tribunal Federal, algo que se viesse a ocorrer remeteria à atos do período da Ditadura Militar, Lula afirmou que não há a menor possibilidade de uma proposta dessa natureza progredir em seu governo. Bolsonaro seguiu na mesma linha e também descartou a medida embora tenha admitido que o assunto foi levado até ele e lembro que se trata de uma proposta antiga, em tramitação por decisão de Luiza Erundina, uma antiga parlamentar petista.

Os debates sobre a Petrobras geraram outra sequência de acusações. Bolsonaro apontou o endividamento da companhia, desvio de dinheiro, devolução por empreiteiras e dirigentes por ocasião da Lavajato e Lula contra-atacou afirmando que atual governo promoveu o desmonte da companhia e paralisou grandes obras, inclusive, de refinarias iniciadas em seu governo. “Uma ‘loucura’ abrir mão da petrolífera que poderia levar a autossuficiência energética ao país”.

Os presidenciáveis voltaram a responder de forma furtiva quando foram questionados pela jornalista Patrícia Campos Mello, da Folha de São Paulo, acerca de medidas judiciais de combate à desinformação.

Lula citou 36 decisões do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para retirada do ar de conteúdos falaciosos sobre sua campanha e disse que as outras disputas foram mais civilizadas pela ausência de conteúdos de desinformação. O petista também mencionou uma live feita por Bolsonaro na madrugada de domingo para explicar a fala sobre as meninas venezuelanas.

Por sua vez, Bolsonaro leu uma decisão do ministro do STF e presidente do TSE, Alexandre de Moraes, impedindo que a campanha do PT use o trecho de um vídeo em que ele afirma que ‘pintou um clima’ com menores de idade refugiadas da Venezuela. O vídeo viralizou no fim de semana e foi respondido em tom de defesa pelo presidente e membros de sua campanha. Foi a primeira vez que o assunto veio à tona no debate.

O jornalista Josias de Sousa indagou acerca da forma como os candidatos vão buscar apoio no congresso para governar. Josias afirmou que Lula conseguiu governabilidade comprando deputados via Petrolão, assim como Bolsonaro atualmente, usa o “orçamento secreto”, que libera dinheiro público para os deputados investirem em suas bases eleitorais.

O atual presidente se defendeu afirmando que não tem gerência sobre as emendas de relator, como fez em debates anteriores quando o tema veio à tona. Já Lula falou sobre transformar o orçamento secreto em orçamento participativo, aberto aos cidadãos, mas se absteve de entrar no tema Petrolão. O que a Lavajato provou é que cargos na Petrobras foram loteados entre membros de partidos do Centrão, desencadeando a onda de corrupção que quase levou a empresa à falência.
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Comentários

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Jose do Carmo Torres da Silva

17 de outubro, 2022 | 12:13

“Ontem, 16/10/2022, o Sr. Luiz Inácio Lula da Sila (lula - 13) deixou muito claro que é contra as privatizações. Já o Presidente Jair Messias Bolsonaro (Bolsonaro - 22) trabalha a favor das privatizações. Trabalha por um Estado menor. Nas mãos do Estado, apenas o necessário.
Nós, aqui no Vale do Aço, Minas Gerais, podemos citar dois exemplos claros a respeito desse assunto:

Durante 48 anos, a Companhia Aços Especiais de Itabira, Acesita, foi estatal. Teve prejuízo em todos os anos. Em novembro de 1992, a empresa foi privatizada. Resultados... HOJE, APERAM, LUCROS MILHONÁRIOS. EMPREGADOS RECEBENDO PLR FANTÁSTICAS. CIDADE DE TIMÓTEO, EM PLENO DESENVOLVIMENTO.

O leilão de privatização da Usiminas, realizado em 1991, foi o que marcou o início do Programa Nacional de Desestatização (PND). Resultados... LUCROS MILHONÁRIOS. EMPREGADOS RECEBENDO PLR FANTÁSTICAS. CIDADE DE IPATINGA, EM PLENO DESENVOLVIMENTO.

Dúvidas??? Dá um Google aí e pesquisem...”

Marcelo

17 de outubro, 2022 | 10:16

“? a eleição da luta de classes. Lula cresceu de 54% para 58% dos votos entre quem ganha até dois salários. Nesse grupo, apesar de todos os esforços e medidas eleitoreiras, Bolsonaro caiu de 37% para 36% no período de uma semana.
Já entre os eleitores que ganham mais de 10 salários, Bolsonaro subiu de 43% para 53% dos votos, crescimento significativo de dez pontos. Ao mesmo tempo, Lula caiu de 52% para 39% nesse eleitorado em uma semana.”

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