18 de outubro, de 2022 | 13:46

Crônica: Arre, égua!

Nena de Castro *

"Pedro Pinto Pereira
Pobre pintor português
Pinta por precisão:
Portas, portais, painéis, panoramas
Pede passagem para Paris.
Pareço pobre, porém possuo pataco!"

Acordei no hotel nessa linda Fortaleza. Tia Bugra Velha ronca, com o indefectível facão debaixo do travesseiro, sonhando com caçada de onça. Tia Lady Zefa, com o livro que lia deixado de lado, sonha com Iracema e Martin fazendo amor na areia branca, debaixo das palmeiras...Amordaçada dentro de uma gaiola, depois da confusão que aprontou na pousada em Canoa Quebrada, querendo buchada de bode no café da manhã e falando coisas nada gentis comparando o desjejum com os que toma em Paris, Ger, minha sabiá-pesadelo, dá um tempo na marra. Sabiazinha inconveniente, veio sem ser convidada, escondida nas coisas da tia Bugra. E ainda queria ir ontem ao Castelão assistir ao jogo que terminou em confusão. Eitaaaaaa! A Bugrinha dorme, Brad e Tiago idem e eu, da " janela lateral do quarto de dormir" aprecio o horizonte...o mar, as árvores, os prédios.

Ontem, no restaurante onde estávamos, apareceu uma mocinha pedindo donativos para a ACOLD, uma Associação Comunitária que cuida de crianças com câncer. Ouço sobre o trabalho que realizam, falo sobre o nossa Associação Cuidado Humano, conto-lhe uma história e para surpresa dos meus, choramos as duas, e nos abraçamos na emoção de pessoas que se importam com o próximo. Ela me convida para a Festa das Crianças, nessa quarta-feira, meus olhos brilham mas não posso porque é bem longe e temos passeio agendado.

Não, o mundo não pode nem deve ser celeiro de celerados defensores do mal, de energumenos e trogloditas, queremos risadas gostosas, crianças brincando livres, sãs e felizes, queremos uma pátria que nos dê orgulho, "comida, diversao e arte" e " saída pra qualquer parte", matando nossa fome de amor, beleza e liberdade.

O sol vem com sua carruagem dourada iluminar meus sonhos, o mar faz festa de espuma em sua homenagem e eu agradeço ao Pintor Celestial pelas maravilhas que " minhas retinas fatigadas" podem contemplar. Ah, e você quer saber o que faz ali no início aquela brincadeira em P? Sei lá, acordei com isso na cabeça, foi mamãe que me ensinou sobre o pintor português que foi pedir uma passagem pra alguém e foi desafiado a fazê-lo usando palavras iniciadas por P.

Uai, acha que sou meio doida? O que esperar de uma macróbia que conversa com sabiá, bate papo com plantinhas e anda cantando ou assobiando pelas ruas? Toma tento, sô! E fique esperto na hora de votar, visse? E nada mais digo...

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Tião Aranha

19 de outubro, 2022 | 20:05

“Deve ser pimenta pura. Gosta de caçada de onça e ainda anda com facão. A Natureza é a fonte geratriz de toda a energia do Universo. Dizia Aristóteles. A essência da vida está Nela. Mudando de assunto, gastei da sua indicação de leitura. Manoel de Barros foi a maior referência da poesia do século passado. Nao estamos na era udenista, mas estamos precisando com urgência renovar o presente. Transformando o processo socio-politico tb transformaremos a nossa a Literatura. Temos que voltar amanhã a era modernista, mesmo sem herdar a cultura europeia. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

19 de outubro, 2022 | 14:24

“Sr. Tião Aranha, este negócio de Bugra Velha, vulgo Macróbia, conversar com aves e plantas, sei não, viu? Mais parece coisa do Mestre Manoel de Barros.

"[ ... ]
Queria que a minha voz
tivesse um formato
de canto.
Porque eu não sou da
informática:
eu sou da invencionática,
Só uso a palavra para
compor meus silêncios".”

Tião Aranha

18 de outubro, 2022 | 15:40

“Bom texto, parece que neste país das maravilhas não tem nada de sério mesmo: enquanto um arredado sobe no Rio, SP, só faltando MG o, outro pingando de pinga cai em choradeira nos palanques da vida; ou é medo da derrota ou é falta de juízo mesmo. Elis, já se foi: é pau é pedra é o fim do caminho. A velha Bugra escrevendo suas prosas, curtindo o canto do sabiá, conversando com as plantas, e um povo sozinho. Livres, mas amarrados. Risos.”

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