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17 de novembro, de 2022 | 14:02

Antiliberalismo 2022

Márcio Coimbra *

O mundo passa por momentos estranhos. Renascimento de nacionalismos surgem de forma consistente em diversos cantos do mundo. O enfraquecimento do centro e da moderação política entram no tabuleiro na medida que os radicalismos tomam forma cada vez mais definida. É como se o mundo voltasse cerca de um século atrás, quando a paz mundial subitamente passou a ser ameaçada.

O avanço de líderes de vertente autoritária na direita e esquerda já se tornou uma realidade na Europa. Um processo que começou com os impulsionadores do Brexit, mas que vem tomando consistência na Hungria, Turquia, Polônia e até em países como a França. Nos Estados Unidos, Trump desestruturou as bases dos republicanos, que há tempos deixou de ser o partido de Lincoln. Os populismos passaram a dar as cartas ou serem influentes de forma consistente.

Ao mesmo tempo que estes campos radicais ganham impulso, as forças moderadas de centro que construíram o equilíbrio político internacional no pós-guerra parecem perder tração. A centro-direita e também a centro-esquerda, perderam protagonismo eleitoral na Itália, foram abaladas na Espanha, começam a sentir o avanço do radicalismo nos Bálcãs e sofrem ataques no Reino Unido. Isto não é uma mera coincidência.

Isto sem falar no avanço autocrático de Putin, que terminou por exterminar qualquer traço de democracia na Rússia, enquanto tenta colocar a Ucrânia de joelhos mediante uma guerra de conquista, uma prática que deveria estar aposentada na geopolítica internacional. Em Pequim, Xi Jinping rompe a tradição de apenas dois mandatos e caminha para se tornar o líder mais longevo e poderoso desde Mao Tse Tung, o que levará certamente para sua perpetuação no poder chinês.

“O avanço de líderes de vertente
autoritária na direita e esquerda já
se tornou uma realidade na Europa”


Esta onda autocrática evidencia um claro enfraquecimento do liberalismo, caracterizado pela economia de mercado, interdependência econômica e democracia com alternância de poder. Os valores liberais não dialogam com aqueles que querem sepultar suas estruturas e os ingênuos, mais uma vez justificam o caminho para o autoritarismo como forma de fortalecer o liberalismo. Um erro grotesco. Os autoritários apenas usam os liberais iludidos como instrumentos. Assim que o poder é consolidado, precisam optar pela conversão conveniente ou são simplesmente descartados.

O Brasil entrou na rota dos radicalismos pela polarização que vivemos. O duelo entre radicais tem sempre uma vítima fatal, o povo, que iludido pelo populismo torna-se uma fácil massa de manobra. As eleições expressaram de forma consistente esta equação.

Primo Levi, sobrevivente do Holocausto, escreveu que “aqueles que esquecem o passado, estão condenados a revivê-lo”. Tudo leva a crer que o aprendizado e a memória dos horrores do século passado estão sendo enterrados com uma geração que aos poucos se despede da vida. Que seus ensinamentos e legado não sejam em vão. Nem sempre contamos com um Churchill para resolver o problema. O antiliberalismo de 2022, este que joga fora do campo democrático, talvez seja o grande mal que nós, moderados, tenhamos que enfrentar para evitar que a face mais dolorida da história se repita mais uma vez.


* Presidente do Conselho da Fundação da Liberdade Econômica e Coordenador da pós-graduação em Relações Institucionais e Governamentais da Faculdade Presbiteriana Mackenzie Brasília. Cientista Político, mestre em Ação Política pela Universidad Rey Juan Carlos (2007). Ex-Diretor da Apex-Brasil e do Senado Federal

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

17 de novembro, 2022 | 15:25

“Excelente! Parabéns! Obrigado!”

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