31 de dezembro, de 2022 | 08:20

''Suicídio é um dos principais problemas de saúde pública na atualidade'', alerta psiquiatra

Álbum pessoal
''Praticamente 100% dos suicidas estavam passando por uma doença mental no momento em que se suicidaram'', informou Humberto Correa''Praticamente 100% dos suicidas estavam passando por uma doença mental no momento em que se suicidaram'', informou Humberto Correa

Falar de suicídio pode soar de forma negativa, assustadora, para algumas pessoas, sobretudo porque o assunto ainda é tratado como um tabu. Apesar do receio em abordar o tema, o autoextermínio é uma realidade na sociedade, melhor dizendo: é um problema de saúde pública concreto que não pode ser desprezado. Para se ter uma noção, em todo Estado de Minas Gerais, segundo a Secretaria de Estado de Saúde de Minas Gerais (SES-MG), foram registrados 8.182 casos de suicídio nos últimos cinco anos (2018-2022). Somente no Vale do Aço, este ano, os dados oficiais apontam 28 ocorrências de autoextermínio.

“O suicídio é um dos principais problemas de saúde pública na atualidade, causando graves problemas na esfera pública, familiar e individual”, afirmou o presidente da Associação Mineira de Psiquiatria (AMP), Humberto Correa. Segundo o psiquiatra, as taxas de suicídio, em praticamente todo o mundo, têm caído, o que pode ser um reflexo de esforços de políticas públicas. Mas o Brasil é uma das poucas exceções. “No nosso país, nas duas últimas décadas, as taxas aumentaram cerca de 40%”, informou.

Minas Gerais
Nos últimos cinco anos, os números mostram uma pequena oscilação nos registros de suicídio, mas não há o que se comemorar, pois os dados não revelam uma queda expressiva. Em 2018, foram 1.534 registros de óbitos em MG; em 2019, 1.746; 2020, 1.661; 2021, 1.770 e 2022, 1.471. O número de internações hospitalares por lesões autoprovocadas voluntariamente no estado também chama a atenção. Nos últimos cinco anos (de janeiro de 2018 a outubro de 2022) foram 7.501 registros.

Vale do Aço
Na macrorregião de Saúde do Vale do Aço, composta por 35 municípios, foram registrados 251 casos de autoextermínio nos últimos cinco anos. Ao comparar os números de 2018 com 2022, nota-se um aumento. Em 2018 foram 38 suicídios; em 2019, 44; em 2020, 58 casos; em 2021, 55 ocorrências; 2022, 56. Somente neste ano, na Região Metropolitana do Vale do Aço, foram 28 suicídios: Ipatinga, 10; Timóteo, 8; Coronel Fabriciano, 7; e Santana do Paraíso, 3.

Depressão
Em entrevista à reportagem do Diário do Aço, Humberto Correa explicou que parte considerável daquelas pessoas que cometem suicídio passava por alguma doença mental. “Praticamente 100% dos suicidas estavam passando por uma doença mental no momento em que se suicidaram, sendo a depressão a doença mental mais associada ao suicídio”.

Segundo o médico, o tratamento rápido e efetivo das doenças mentais, e em particular da depressão, é um importante fator de prevenção. Mas apesar disso, o psiquiatra lembra que as doenças mentais não são tão levadas “a sério” como as outras. “As doenças mentais sofreram, e ainda sofrem, infelizmente, de um estigma social que muitas vezes dificulta o acesso das pessoas aos melhores tratamentos disponíveis. Para piorar esse cenário, no Brasil, como em outros países da América Latina, estudos mostram uma falta de acesso a tratamentos em saúde mental para a maior parte da população”, lamentou.

Complexo e multifatorial
Perguntado se existe um grupo ou perfil de pessoas que apresentam risco mais acentuado ao cometimento do suicídio, o médico psiquiatra explicou que o autoextermínio é complexo e multifatorial e que muitos fatores devem ser considerados. Ele apontou alguns deles:

No aspecto sociodemográfico, em evidência estão os homens, as pessoas mais jovens e os idosos. “Sabemos que o sexo masculino está associado a maior risco de suicídio. Em praticamente todo o mundo, exceção à China, homens se suicidam cerca de três vezes mais do que as mulheres. Em termos de faixa etária sabemos que os idosos (acima de 65 anos) são o principal grupo de risco para suicídio. Entretanto, nas últimas décadas, observamos um aumento importante nas taxas de suicídio em jovens de 15 a 29 anos”, detalhou.

Fatores estressores também estão ligados aos casos de autoextermínio, explica o médico: “Os eventos que conferem estresse agudo, perdas, experiências de desmoralização, tais como humilhação pública ou rejeições sociais, frequentemente podem desencadear atos suicidas”, disse o psiquiatra. Eventos adversos na infância também podem estar ligados aos registros. “História de abuso na infância: ter sofrido abuso físico, psicológico ou sexual na infância é considerado um importante fator de risco para comportamento suicida futuro”, pontuou.

Papel da sociedade
Por fim, o médico Humberto Correa enfatizou o papel fundamental da sociedade para mudar a realidade. “O suicídio é ainda um assunto tabu, negligenciado enquanto problema de saúde pública”, afirmou. Ele defende que o tema seja abordado. “Temos que falar abertamente, de forma adequada, e pressionar os poderes públicos a criarem no Brasil políticas públicas de prevenção”, concluiu.
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