04 de janeiro, de 2023 | 13:00

Opinião: Muita calma nessa hora! Ansiedade tem tratamento, mas não com medicações

Sarina Occhipinti *

Falta de ar, palpitações, sensação de aperto no peito, suor excessivo e por aí vai. Se você conseguiu se identificar com esses sintomas, é provável que saiba bem o que é sofrer com as crises de ansiedade. Aliás, há uma multidão de pessoas no Brasil que sofrem do mesmo problema. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), por aqui são mais de 18 milhões de ansiosos – cerca de 8,5% dos brasileiros. O hexa no Qatar a gente não levou, mas em ansiedade o 1º lugar do mundo é dos brasileiros.

Durante o isolamento por conta da pandemia, quando as pessoas ficaram mais tempo reclusas dentro de casa, houve um aumento dessas estatísticas. Mas, independentemente da covid, já faz uns bons anos que a expectativa de tratar a ansiedade é motivo para formar uma fila de pacientes nos consultórios médicos e nos psicólogos. E é a partir deste ponto que precisamos esclarecer alguns pontos importantes para as pessoas que enfrentam a ansiedade.

A primeira coisa é entender que a ansiedade tem mais a ver com os comandos cerebrais do que propriamente com os sintomas descritos antes. Isso ajuda a explicar por que em situações extremas que envolvem medo e preocupação o problema pode impelir o indivíduo a tomar certas ações ou simplesmente travá-lo. Mas por que, afinal, isso ocorre? Qual o efeito neurológico que faz desencadear a crise e por consequência os sintomas da ansiedade?

“Em situações de medo, entram em ação duas
pequenas estruturas cerebrais com formato
de amêndoas, chamadas amígdalas cerebrais”


Em situações de medo, entram em ação duas pequenas estruturas cerebrais com formato de amêndoas, chamadas amígdalas cerebrais – não confunda com as amígdalas presentes na nossa boca. Elas são responsáveis diretas pela regulação da corticotrofina (ACTH), um dos hormônios que agem em circunstâncias negativas, e que têm papel central nos casos de ansiedade. No cérebro da pessoa que sofre do transtorno, as amígdalas simplesmente apresentam disfunções nesse controle hormonal, liberando quantidades maiores de ACTH no organismo.

Outro agente importante nesse processo é a noradrenalina, produzida pela medula suprarrenal. Trata-se de um neurotransmissor que também é ativado em situações de perigo, sustos e emoções mais fortes. Assim como a ACTH, a noradrenalina é controlada pelas duas amígdalas presentes no cérebro, expandindo não apenas sua relevância no controle da ansiedade como também dando-lhe protagonismo quando ocorre o transtorno.

Existe hoje uma crença generalizada de que o uso de ansiolíticos ou de antidepressivos seria capaz de solucionar o problema, como se, na prática, resolvessem a disfunção das amígdalas. Mas, infelizmente, não é essa a realidade da ciência na atualidade. Os ansiolíticos até conseguem diminuir as crises de ansiedade, enquanto os antidepressivos podem ajudar nos surtos e nos sintomas, mas não são capazes de tratar a ansiedade.

Para dizer de forma mais clara, ainda não dispomos de uma cura definitiva para a ansiedade. As diretrizes médicas sempre orientam que os pacientes façam terapia neurocomportamental. De forma gradativa, mudando pequenas práticas no dia a dia, é possível dar nova aprendizagem ao cérebro, de modo que ele consiga driblar as situações em que as amígdalas respondem de forma equivocada. As estratégias neurocomportamentais têm mostrados ótimos resultados e realmente mudam a vida dessas pessoas.

* Médica com especialidade em Clínica Médica, pós-graduada em Endocrinologia, com curso de Endocrinologia Avançada pela Universidade de Washington, nos Estados Unidos - [email protected]

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