12 de janeiro, de 2023 | 13:00

Opinião: Patriotismo hipócrita alimenta o terrorismo

Gustavo Ramos *

A extrema direita, onde o núcleo do bolsonarismo habita, nunca propôs construir algo de bom para o País e sua gente humilde e trabalhadora, mas se arvora de “patriota”. Seguramente não é um patriotismo altivo, na concepção positiva que se possa cogitar, que eleve as características e a cultura de um povo e o proteja, compreendendo, mesmo assim, que toda humanidade está irmanada em interesses comuns, sem que haja nacionais melhores que outros.

O patriotismo bolsonarista, porém, é um patriotismo provinciano, ultrapassado, que só habita a superfície interesseira dos que o proclamam. “Patriotismo” em favor de uma elite que quer o Estado só para si e que se envergonha de sua gente pobre (grande maioria) e de seus costumes (síndrome de vira-latas) para idolatrar práticas de outra nação mais desenvolvida economicamente. É o mesmo grupo de extrema direita que subverte os textos evangélicos, de modo absolutamente hipócrita, em nome de costumes distantes da real prática cristã. É a extrema direita que acusa e julga sem provas, idolatra a ditadura e a tortura e que pretende destruir o Estado Democrático de Direito, tão duramente conquistado no Brasil.

De fato, o bolsonarismo nunca foi pacífico. Sempre se vangloriou de discursos ofensivos, abusivos, politicamente incorretos e de violência física e moral. Desde o princípio estimula o ódio contra grupos vulneráveis e discrimina minorias, como se a qualidade da democracia não tivesse relação direta com a proteção aos grupos minoritários e excluídos. Despreza a ciência, a cultura, a história, a verdade, tudo em nome do culto irracional ao negacionismo destruidor dos privilegiados.

O resultado no tecido social brasileiro hoje é de um ecossistema que incita violência contra os Poderes da República e suas instituições, contra a democracia e contra a classe trabalhadora que se organiza coletivamente, do campo e da cidade, alimentado por usinas de fake news. Seus adeptos creem em tudo que recebem em seus aparelhos de celular acriticamente, sem checar a origem da informação e sem crer em fontes alternativas. Lobotomizados, não enxergam um palmo à frente do nariz, a maioria por opção, pois se regozijam com o que leem, ao contemplarem seus preconceitos e visão de mundo egoísta.

São criminosos, golpistas, vândalos, vikings que estiveram na Praça dos Três Poderes em Brasília, vilipendiando e destruindo nossa amada cidade, nossas obras de arte, nossos locais de trabalho e de construção coletiva na seara das leis e da justiça, expondo desavergonhadamente os comportamentos animalescos que os caracterizam. Uma semana antes, tentaram explodir o aeroporto internacional de Brasília com um caminhão tanque, quase queimaram pessoas dentro de carros no estacionamento de um shopping e quase esmagaram pessoas ao tentarem atirar um ônibus do alto de uma avenida. As destruições foram apenas materiais, por sorte. Mas tudo foi minimizado, por se admitir um sentimento legítimo de frustração como resultado das eleições. Foi o mesmo motivo pelo qual foram admitidos, dolosamente, acampamentos em que há terroristas ou pessoas distantes de qualquer racionalidade. Com seu líder ocupando a presidência da República, porém, houve destruição em todos os campos, desde as relações humanas, em nível nacional e internacional, até as políticas públicas mais comezinhas. Um desgoverno que desprezou a vida de milhares de brasileiros e brasileiras em plena pandemia, mas ainda assim é incompreensivelmente aclamado por uma horda irracional “patriota”.

A humanidade ainda tem muito a evoluir. Suas instituições não são perfeitas, mas dão rumos ao progresso, quando bem governadas. As destruições físicas à nossa cidade e ao nosso patrimônio histórico e cultural, apesar de dolorosas, certamente terão o mérito de fortalecer as instituições e de denunciar o rumo perigoso em que quase reembarcamos.

É preciso identificar, prender um por um e punir, na forma da lei de terrorismo, das leis civis, penais, administrativas e da Constituição, cada participante, ideólogo, financiador e agente da destruição de ontem, por atos comissivos ou omissivos, esteja onde estiver. A impunidade só alimentaria a balbúrdia e a desordem, que são a única pauta desses grupos terroristas que se autoproclamam patriotas. Como se sabe, a democracia não é um caminho natural e infenso a retrocessos, e sim uma conquista diária, sobretudo na atual quadra histórica, exigindo de cada cidadão e cidadã que esteja comprometido com os princípios e valores constitucionais vigilância diuturna.

*Gustavo Ramos é advogado em Brasília e mestre em Direito

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

12 de janeiro, 2023 | 13:34

“Excelente! Parabéns! Obrigado!

Samuel Johnson: "O patriotismo é o último refúgio do canalha".
Millôr Fernandes: "No Brasil, é o primeiro".”

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