22 de janeiro, de 2023 | 08:00

Professores avaliam uso do termo ''bolsonarismo''

Alan Santos/PR
Bolsonaro aglutinou seguidores país afora, pessoas que passaram a ser classificadas como bolsonaristas Bolsonaro aglutinou seguidores país afora, pessoas que passaram a ser classificadas como bolsonaristas

Ao longo dos últimos meses, o termo bolsonarismo ganhou os noticiários país afora. Apesar do fim do período eleitoral e da posse de um novo presidente, o presidente que saiu, Jair Bolsonaro (PL) e seus posicionamentos continuam vivos na mídia. Se o uso do “ismo” nesse caso pode parecer incorreto, o movimento de extrema-direita, da qual fazem parte os bolsonaristas, é real no Brasil, como avaliam os professores e ex-vereadores Diogo Siqueira de Souza e Edem Almeida Arruda.

O entendimento é que, se a referência for em relação a ideias radicais, extremistas, o correto seria dizer “grupos de extrema direita” ou “extremistas” e não simplesmente “bolsonarismo”, mesmo porque, o movimento no Brasil faz parte da reorganização mundial da extrema direita que apenas “pegou carona” na adesão à ascensão do político brasileiro.

Século passado
Diogo é graduado em História, Sociologia e Pedagogia e também especialista em Ensino de Sociologia. Vereador no município de Timóteo entre 2017-2020, foi também presidente da Câmara. Ele afirma que, em termos históricos, a extrema-direita surgiu na Europa no fim da Primeira Guerra Mundial, inicialmente na Itália, com o movimento fascista.

Essa ideologia política foi apresentada como uma terceira via, uma espécie de alternativa entre a democracia liberal e o socialismo. Após a derrota do nazifascismo na Segunda Guerra Mundial, a extrema-direita recuou em quase todo o mundo, mas voltou a ganhar força no cenário global após os efeitos desastrosos da crise de 2008.
Álbum Pessoal
Diogo lembra que na linguagem da Ciência Política o sufixo ?ismo? traduz a semântica de ideologiaDiogo lembra que na linguagem da Ciência Política o sufixo ?ismo? traduz a semântica de ideologia

Atualmente, embora mantenha um discurso de “combate ao comunismo”, os movimentos de extrema-direita elegeram como adversários ideológicos prioritários a globalização e o progressismo social. Desse modo, apresentam-se como movimentos nacionalistas e conservadores, invocando valores como Deus, pátria e família. Aliás, a expressão Deus, pátria e família foi muito utilizada pelo fascismo italiano da primeira metade do século passado.

“Essa nova onda de extrema-direita tende a se aglutinar em torno de líderes carismáticos e populistas, que acabam por se tornar símbolos ou encarnações da ideologia. Isso aconteceu, por exemplo, com Donald Trump nos Estados Unidos; como Viktor Orban na Hungria; com Giorgia Meloni na Itália e com Jair Bolsonaro no Brasil. Nesse sentido, podemos afirmar que o bolsonarismo é a maior expressão da extrema-direita no Brasil contemporâneo”, avalia.

Uso do sufixo “ismo”
Diogo Siqueira lembra que na linguagem da Ciência Política, o sufixo “ismo” traduz a ideia de movimento ou ideologia. Sendo assim, o bolsonarismo seria um movimento constituído em torno da figura de Bolsonaro. É nesse mesmo sentido que se fala, por exemplo, em trumpismo nos EUA.

“O bolsonarismo, infelizmente, é uma realidade com a qual teremos que lidar no cenário político e social brasileiro nos próximos anos. Trata-se de um movimento radicalizado, violento e reacionário, que fez de Bolsonaro a personificação de uma visão de mundo autoritária, preconceituosa, excludente e antidemocrática”, opina.

Situações distintas
Edem é pós-graduado em História e professor de História, Geografia, Filosofia, Sociologia e disciplinas afins. Foi vereador em Coronel Fabriciano entre 2013 e 2020. Para ele, o termo “ismo” possui diversos significados e se encaixa em situações muito distintas.
Álbum Pessoal
Para Edem, alguns bolsonaristas são radicais de uma extrema-direita perversa que tem as instituições oficiais como inimigasPara Edem, alguns bolsonaristas são radicais de uma extrema-direita perversa que tem as instituições oficiais como inimigas

Pode estar relacionado à religião (Cristianismo, Islamismo e etc.), sistema político (presidencialismo, parlamentarismo), doença, ideologia, dentre outros. “Se considerarmos o bolsonarismo como doença, dois caminhos se formam: trato deselegante e até violento aos que seguem as ideias da direita, tendo como atual ícone o ex-presidente Bolsonaro. Como se eles, de forma generalizada, fossem fanáticos doentes. Isso, definitivamente, precisa ser evitado, por razões humanitárias, de respeito e pelo momento delicado que vive o Brasil”, pondera.

Outro caminho é: isenta de culpa os que, em sã consciência, usam de discursos e atos violentos contra os divergentes, e manipulam parte da opinião pública. “Não são doentes e este movimento muito menos foi criado ou liderado por uma pessoa que há apenas quatro anos pertencia ao baixo clero da Câmara dos Deputados. Não! Não são bolsonaristas e não cabe a eles o sufixo ismo. São radicais de uma extrema-direita perversa que sabem o que fazem e tem a democracia e as instituições como inimigas”, frisa.

Extremismo
Edem frisa que o bolsonarismo como doença é violento, tanto nos atos de “gatos pingados” que professam a violência como método, como na tratativa de outros grupos aos seguidores de Bolsonaro. “Ou seja, chamar todos correligionários de bolsonaristas também tem um ar de violência verbal, pois como já refletimos aqui neste espaço, os trata como doentes ou como fundamentalistas perigosos. Bolsonarismo como doutrina política ou ideologia também não se afirma, pois o que na verdade existe é um movimento da extrema-direita, este sim consolidado e organizado no mundo”, contextualiza.

Movimento esse, segundo Edem, que pegou para si um deputado medíocre (não no sentido de ofendê-lo, mas no sentido de ser da média, do baixo clero, sem muita relevância política nos seus 28 anos de Legislativo) e usou seus discursos e associou a ele os interesses dos radicais da extrema-direita, que assim como a extrema-esquerda, é violenta.

“Extremos não são bons em nenhum aspecto da nossa vida. Até na Bíblia o extremo é combatido: o extremo do descanso é a preguiça, o pecado do ócio. O extremo do comer é a gula, do acumular é a avareza. Ou seja, o desequilíbrio compõe o pecado. O extremismo corrói a democracia e precisa ser combatido”, conclui.
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Comentários

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Paulo Cesar

23 de janeiro, 2023 | 16:48

“extremistas”

Marcelo Costa

23 de janeiro, 2023 | 11:28

“Para mim ficou muito claro que nem todo bolsonarista é de fato extremista. Apenas seguia o político num verdadeiro efeito manada. Já os extremistas, que sempre existiram, viram no político alguém que os espelhasse e decidiram aderir em apoio. É sabido por estudiosos do comportamento humano que, quanto mais fraco, inculto, solitário e desesperado for o sujeito, como já percebia Freud, maior será o desejo de integrar movimentos autoritários que prometem redimi-lo de sua insignificância, pequenez e frustrações cotidianas. Sim, eu sei que são palavras duras, mas é o que há.”

Betão

23 de janeiro, 2023 | 09:27

“A Invasão a aos Três Poderes e tentativa de explosão do Aeroporto se resume a que veio o Bolsonarismo e a Extrema Direita.
Roubar, Matar e Destruir.
Alguém aqui sabe de quem são essas qualidades? Kkkkkkk”

José Geraldo Pereira

22 de janeiro, 2023 | 12:59

“Ismo de inconformismo. Onde um ladrão usa do órgão que deveria presar pela constituição para se dar bem com ajuda de.muitos órgãos de comunicacão que estão manipulando parte da população. Solta presos em favor do sistema que se abastece com o imposto do povo.”

Gildázio Garcia Vitor

22 de janeiro, 2023 | 10:03

“O Sr. Bafo De Bode está corretíssimo, a expressão bolsonarismo não passa de um eufemismo para FASCISMO.”

Bafo de Bode

22 de janeiro, 2023 | 08:03

“Não é bolsonarismo.. é FASCISMO mesmo
Não sei pra que inventar nome praquilo que já tem nome”

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