24 de janeiro, de 2023 | 15:00

Opinião: Narrativas, dor, desesperança...

Nena de Castro *

Indignado pela traição da esposa, a quem matou, o sultão Shariar baixou um decreto e decidiu ficar casado só por uma noite, mandando assassinar a noiva pela manhã. O reino passou a viver em polvorosa, com pais desesperados pela dor de perder suas filhas naquela crueldade absurda.

Sherezade, uma moça sábia, filha do grão-vizir, com a intenção de livrar seu povo daquele pesadelo, armou um estratagema para acabar com os assassinatos e praticamente obrigou a pai a leva-la ao sultão apresentando-se como a próxima noiva. Ela tinha uma irmã chamada Dinazarde e pediu ao sultão, em prantos, que permitisse que a moça passasse a noite ali, nos aposentos reais, para que pudesse se despedir. No meio da noite, seguindo o plano, a irmã acordou Sherezade e pediu que essa lhe contasse uma história. Com a permissão do sultão, a moça começou a narrar a história intitulada O Mercador e o Gênio. O sol raiou, a manhã chegou, ela interrompeu a narrativa.
-Ah, como eu gostaria de saber o que aconteceu com o mercador- suspirou a irmã.

O sultão também queria saber o resto da história. E foi cuidar de seus afazeres sem ordenar a morte da moça.
E assim sucedeu a cada madrugada, com Sherezade contando incríveis aventuras até que o sultão percebeu que já se haviam passado mil e uma noites. Seu espírito estava mais brando, diminuíra a prevenção contra as mulheres, achava emocionante a coragem com que a moça enfrentara a morte para conseguir ser sua esposa e libertar as mulheres de sua terra. Então revogou a lei e deu a Sherezade o título de Libertadora de todas as mulheres do reino. E foram muito felizes!

Ao contrário dessa escriba que se acha em estado de total infelicidade por causa da tragédia dos yanomanis, morrendo de inanição e contaminação pelo mercúrio do garimpo devastador, que não se importa com vidas. Ai, Tupã, é muito sofrimento do seu povo, meu povo, nosso povo! Os verdadeiros donos da terra, dizimados, explorados, mortos por fome e doenças sob um (des) governo que os ignorava! Só no ano passado, 99 crianças morreram de desnutrição. Aos idiotas de plantão, que vivem emulando o nazismo, espero que pensem no que estão propondo. Emulação tem a ver com a possibilidade de reconstruir um sistema a partir do entendimento do funcionamento do mesmo, de forma que o resultado seja bastante semelhante ao original. Ah, que falta faz ler, entender e estudar História.

E voltamos ao essencial papel da Educação que abre mentes e corações para a luz! Treblinka e Auschwitz, longe de nós! Brasil, olhe por TODOS os seus filhos! Como Adélia Prado, repito: "E morra a puta que pariu minha tristeza"! (E nada mais digo!)

* Escritora e encantadora de histórias

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