29 de janeiro, de 2023 | 06:00

Esticou a corda

Fernando Rocha

Na coluna da última terça-feira, escrevi sobre a queda de braço entre o Cruzeiro e a Minas Arena/Mineirão, que estava só começando e ainda “daria muito o que falar”.

Só não esperava que a SAF do Cruzeiro esticasse logo a corda, a ponto de romper relações e transferir seus jogos como mandante do Mineirão para o Independência.

Ronaldo Fenômeno está ciente que, a partir de julho deste ano, o Cruzeiro será o único potencial clube-cliente no radar do Mineirão e, por isso, vai tentar extrair o máximo de vantagens nas futuras negociações.

Ao seu lado, mas com um pé atrás, estão o atual e omisso governo estadual, além do rival Atlético, que ainda vai jogar no Mineirão até o meio do ano, quando seu estádio ficará pronto. O Galo, também, está insatisfeito com as altas taxas cobradas pela Minas Arena, além dos bloqueios de datas do futebol para realização de shows, o que, no momento, inviabilizaria a realização de um dos seus jogos pela Libertadores, caso consiga passar à terceira fase da competição.

Outra realidade
No Brasil, os maiores estádios do país se transformaram em “arenas” multiuso, após as reformas feitas - com dinheiro público e privado - para a Copa de 2014.

O Mineirão caiu nas mãos de três empresas, que formaram o consórcio denominado Minas Arena, responsável pela administração do estádio sentado em um contrato confortável denominado “PPP - Parceria Público-Privada”, onde o estado paga o prejuízo quando a empresa não consegue extrair lucro suficiente para cobrir as despesas, que só este ano já sangraram os cofres públicos em cerca de R$ 69 milhões.

Todo mundo sabe a bagunça que é o calendário do futebol brasileiro e sul-americano, agravado ainda mais por ter de acomodar os interesses das TVs que patrocinam as transmissões, ao contrário da área de shows artísticos que marca seus eventos com absoluta antecedência.

Se, por um lado, a Minas Arena, enquanto empresa privada, precisa arrecadar e obter lucro, e por isso prioriza os shows, por outro não pode, simplesmente, escantear o futebol, que é a razão da existência do Mineirão.
Um dos fundadores da Rádio Vanguarda, o saudoso radialista Ulisses do Nascimento, costumava dizer em situações complexas como esta que é preciso “comer a carne sem matar o boi”.

FIM DE PAPO

Uma das críticas pertinentes do presidente do Atlético, Sérgio Coelho, nesse imbróglio do Mineirão, diz respeito à qualidade do gramado, castigado pelo pisoteio de milhares de pessoas nos shows, sem que haja tempo hábil para sua recuperação, devido ao calendário apertado com jogos semanais.

Por experiência própria, vivida nos muitos anos à frente da administração do Ipatingão, posso afirmar que não existe proteção adequada ou algum tipo de grama que resista ao pisoteio de milhares de pessoas por várias horas, sem que necessite de, no mínimo, 30 dias de posterior descanso e com tratamento especializado para sua completa recuperação visando à prática do futebol.

Há alguns meses, quando começou o plantio de grama natural na “Arena MRV”, registrei aqui na coluna minha estranheza tendo em vista que o novo estádio do Galo pretende ser um forte concorrente da Minas Arena/Mineirão no segmento de shows artísticos e culturais e, por isso, imaginava que iniciaria suas atividades com o gramado artificial ou misto.

Há, também, o exemplo recente do “Allianz Parque”, que detém a maior agenda de shows da capital paulista, onde o Palmeiras precisou trocar o gramado natural pelo artificial, para ter qualidade no piso em seus jogos. Então, a meu juízo, o Atlético erra ao iniciar as atividades em sua Arena MRV com grama natural, correndo sério risco de ter outro gasto logo adiante para fazer a troca pelo piso artificial, pois se é possível “comer a carne sem matar o boi” nas negociações dos clubes com a administração do Mineirão, em se tratando de gramados esportivos é humanamente impossível. (Fecha o pano!)
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