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01 de março, de 2023 | 14:00

Opinião: Um abismo chama outro abismo II - Os abismos de Macbeth

Wanderson R. Monteiro *

Em meu artigo, chamado “Um Abismo Chama Outro Abismo”, mostrei, com a história do rei Davi, como que escolhas e decisões ruins podem nos levar a drásticas consequências, de forma que, para mascarar essas consequências ruins, muitas vezes somos levados a tomar outras decisões que tem, em si, o potencial de nos trazer consequências ainda piores do que as primeiras, nos colocando em um ciclo quase infindável, de forma a se tornar real a ideia exposta no provérbio que diz que "Um abismo chama outro abismo".

Mas, hoje, quero dar outro exemplo, que também ilustra muito bem a ideia desse provérbio judaico, exemplo esse, tirado de uma famosa peça de Shakespeare: Macbeth.

A tragédia de Macbeth, escrita por Shakespeare, no século XVII, é movida por duas motivações simples: ambição e medo. O personagem Macbeth, inicialmente, influenciado por sua esposa, Lady Macbeth, comete inúmeros atos horrendos pela ambição de alcançar um lugar que ele julgava ser seu, lugar esse que foi profetizado sobre ele e, instigado por sua esposa, Macbeth começa a fazer com que tal profecia viesse a ocorrer com suas próprias mãos e que, como vimos no texto anterior que "um abismo chama outro abismo", Macbeth, por medo de que seus primeiros crimes e atos sejam descobertos, e pela ganância e medo de perder sua posição, começa a praticar atos ainda piores que os primeiros, atos esses que, como consequência inevitável, levam Macbeth a ruína, não sem antes levar sua esposa, lady Macbeth, à completa perturbação mental, que culmina em seu suicídio.

Inicialmente, pela profecia, Macbeth fica sabendo que, um dia, ele seria o rei da Escócia, lugar que era ocupado por seu primo. Quando essa profecia é dada para Macbeth, seu amigo Banquo estava com ele, e também recebe uma profecia: ele seria pai de reis. Inicialmente, Macbeth não percebe a importância dessa profecia relativa a Banquo, mas, quando essa estava prestes a acontecer, Macbeth percebe que os filhos de Banquo iriam ocupar seu lugar no trono, o que fez com que Macbeth fizesse tudo o possível para que isso não acontecesse. O ato contra seu primo, o rei Duncan, foi o primeiro passo que Macbeth dá em direção ao abismo.

“Os caminhos das decisões erradas nos levam às
consequências de nossos atos e superam, em muito,
as glórias que os mesmos poderiam nos lograr”


O rei estava dormindo em sua casa, então, Lady Macbeth vê aí a oportunidade para o cumprimento da profecia, e instiga seu marido a matar seu primo, para que, depois de alguns "acasos", ocupasse seu lugar como rei. Macbeth, em um impulso, mata o rei enquanto ele dormia, e já se arrepende de imediato, não conseguindo matar os guardas que estavam próximos a ele, também dormindo, embebedados por Macbeth e sua esposa, por ideia dela. Então, a própria Lady Macbeth termina o serviço, e dá cabo dos guardas, ato esse que a perturbará pelo resto de sua vida. A partir desse ato, o assassinato do rei Duncan, Macbeth começa a descer um caminho sem volta, onde a violência e a traição se tornam seus principais instrumentos para manter-se no poder, de maneira que, a medida que Macbeth avança em sua escalada rumo ao poder que ele julga ser seu direito, ele se torna cada vez mais paranóico e inseguro, alimentando ainda mais sua ambição e sua sede de sangue. A morte do rei Duncan é apenas o primeiro passo em uma série de assassinatos e conspirações que culminam no colapso da sociedade escocesa.

Depois que Macbeth assume como rei, já que os filhos de Duncan fugiram após a morte de seu pai, ele se dá conta da segunda parte da profecia: Banquo se tornaria pai de reis. Assim, Macbeth, agora por conta própria, decide matar seu melhor amigo, com o filho, e arma uma emboscada para eles. Desse ato, Fleance, o filho de Banquo, escapa vivo e, no resumo da ópera, depois de alguns anos acaba se tornando rei.

Macbeth é morto em batalha por Macduff - aquele que não foi nascido de mulher, como diz outra profecia dirigida a Macbeth pelas bruxas -, um nobre escocês que tinha grandes desconfianças contra Macbeth, principalmente, com relação ao regicídio cometido por ele, se aliando então a Malcom filho do rei Duncan, na luta pela recuperação do reinado. Malcom assume seu lugar de direito depois que Macbeth morre em batalha, tentando, em sua ganância, se manter no poder.

Assim, a ordem se estabelece. Depois da morte daquele que é o protagonista da história, Macbeth, a história encontra seu curso "natural", mostrando que, por mais glamorosos que sejam, os caminhos das decisões erradas só nos levam a caminhos tenebrosos, onde as consequências de nossos atos superam, e muito, as glórias que os mesmos poderiam nos lograr.

A peça "Macbeth" de Shakespeare retrata a ambição desmedida do protagonista, que o leva a um abismo de loucura e destruição. Assim como na história do rei Davi, exposta e comentada no artigo anterior, o provérbio "Um abismo chama outro abismo" é perfeitamente aplicável à história de Macbeth, pois suas ações levam a uma sucessão de eventos trágicos e catastróficos. A violência e traição geram mais violência e traição, criando um ciclo vicioso de destruição e morte. A história de Macbeth serve como um lembrete dos perigos da ambição desmedida e como ela pode levar a um abismo do qual é difícil sair.

* Formado em Teologia, graduando em Pedagogia. Coautor de 4 livros, e vencedor de três prémios literários. ([email protected]) (São Sebastião do Anta - MG
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