26 de março, de 2023 | 14:00

Opinião: Brasil: o comunismo nos espreita....

Antônio Nahas Júnior *

A última pesquisa do Instituto IPEC (Inteligência em Pesquisa e Consultoria), antigo IBOPE, sobre os primeiros meses do governo Lula, revela um fato muito importante: 44% dos brasileiros acreditam que o Brasil corre risco de se tornar um país comunista. A percepção do risco do “comunismo” é maior entre os evangélicos (57%) e na região sudeste (48%), que concentra público com boa renda e escolaridade.

Por outro lado, entre os católicos, apenas 39% consideram esta possibilidade. Temos assim um contrassenso: quem teme o Comunismo, acha que ele pode estar a caminho. Porém, quem simpatia com alguma das suas ideias, não acredita...

Não é para menos: a história do século passado foi marcada pela ascensão e queda dos países comunistas. Tivemos a revolução de outubro de 1917, na Rússia; a expansão do império soviético após a 2ª guerra mundial, com a anexação de todo o leste europeu, incluindo países como a Polônia; Tcheco-Eslováquia; Romenia; Iugoslávia além de metade da Alemanha. A China torna-se também adepta dos ideais socialistas. E alguns anos depois, parte da Coreia; Cuba e, em seguida, o Vietnã.

Porém, tudo mudou a partir dos anos 90. O regime capitalista se fortaleceu, a União Soviética deixou de existir. Todo o leste europeu se desvencilhou do domínio russo, assim como diversos outros países, como a Bielo Rússia; Ucrânia, Cazaquistão, formando a Comunidade dos Estados Independentes.

Hoje a Rússia está longe de ser socialista. Trata-se de um capitalismo de estado, manipulado por magnatas, com uma economia pouco desenvolvida, assentada num poderoso arsenal militar.

A ameaça comunista, tal como a história a desenhou não existe mais. Além disso, Lula já governou o país por duas vezes, mantendo o capitalismo brasileiro em funcionamento e aperfeiçoando-o, combatendo a desigualdade social e conseguindo taxas de crescimento econômico superiores à média dos períodos posteriores. O apoio de Biden à sua eleição encerraria a questão.

“Quem teme o Comunismo, acha que ele pode estar a caminho.
Porém, quem simpatiza com alguma das suas ideias, não acredita”


De onde vem então o temor ao Comunismo? A resposta é muito difícil e a pesquisa do IPEC não avançou nas perguntas. Fica uma opinião, ainda provisória: o conceito de comunismo utilizado não se refere a um sistema social determinado, mas uma crítica ao regime democrático atual, especialmente aos poderes judiciário e legislativo. E a isso se soma uma feroz defesa de valores morais tais como proibição do aborto; ideologia de gênero, entre outros itens. Tudo isto temperado por uma crítica ao PT, aos seus métodos; aos seus erros.

As correntes políticas que dominaram o século XX e parte do século XXI - social democracia; liberalismo; - estão dando lugar a uma avalanche crítica ao sistema capitalista, tal como ele funciona atualmente.

Estas mudanças refletem por outro lado as mudanças do próprio capitalismo: perda de poder dos sindicatos; número crescente de empregos informais; crescimento exponencial do setor de serviços; concentração de renda crescente; tecnologias de informação que subvertem qualquer discurso, mesmo os bem articulados.

O Brasil encontra-se neste torvelinho de mudanças. Só podemos esperar que estas polêmicas e transformações ajudem o país a encontrar caminhos para o nosso desenvolvimento, que assegure emprego; renda; educação e fortalecimento da nossa economia.

Enfim: o “comunismo” temido refere-se a uma defesa das instituições democráticas e à possível mudança representa uma crítica à mudança de costumes e regras da sociedade como direito ao aborto; crença na sua existência se baseia num conjunto de informações que foram sintetizadas num mesmo significado: crítica a pretensos valores morais tidos rotulados como comunistas, tais como defesa do aborto; ideologia de gênero; defesa da liberdade de gênero. Soma-se a isto uma crítica às instituições de justiça e ao Legislativo e o tempero final é dado pela presença de um líder carismático, capaz de empreender grandes mudanças. Ou seja: passadas as eleições, a propaganda política que embasou as campanhas eleitorais, continua a informar a opinião política dos eleitores.

* Economista. Participou em diversas administrações municipais em Ipatinga e Belo Horizonte. Atualmente é empresário e gerente da NMC Projetos e Consultoria

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Comentários

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Marilene Tuler

27 de março, 2023 | 13:45

“Parabéns, Antônio Nahas, pelo texto coerente e altamente esclarecedor!
Obrigada pela menção, Professor Gildazio!
Comungo da sua indignação e, da mesma forma, de seus sonhos e utopias de construção de uma sociedade igualitária... que surjam mais projetos que nem a Rede EDUCAFRO!”

Gildázio Garcia Vitor

26 de março, 2023 | 16:17

“Excelente! Parabéns! Obrigado!
As pessoas mais simples e com pouca instrução, às vezes sem o Ensino Fundamental completo, são mais fáceis de serem "induzidas", ludibriadas etc. por Pastores, Padres e políticos maus-caracteres com relação ao Comunismo, às vacinas, às urnas eletrônicas "fraudadas" etc. Portanto, não há muito o que fazer. Agora, o que não está dando para aguentar, são professores, inclusive das Ciências Humanas, que atuam na Rede Municipal e em Escolas particulares tradicionais e renomadas do nosso Vale do Aço com essa "narrativa". E para piorar, ficam postando, nos grupos de Whatsapp das Escolas, vídeos com mensagens idiotas, imbecis, tresloucados, trevosos etc. Parece-me que ainda estão vivendo no Antigo Regime, as luzes do Iluminismo não chegaram até eles. Ô COITADOS!!! Deles, de mim e de nós.
Estou pensando, seriamente, em encerrar a carreira no ensino regular, para sempre, por isso. Ficar só na Educafro, é do povo da Igreja, mas da Igreja que liberta, inclusive do fanatismo religioso. Obrigado Frei David! Obrigado Marilene Tuler! Obrigado Professor-Poeta Francisvaldo (in memoriam) Você faz tanta falta! Obrigado Reny! Obrigado a todos e todas que, ao longo desses 14 anos, puderam doar um pouco do seu tempo e dos seus conhecimentos para os nossos Estudantes!
Um fraterno abraço de um velho e iludido Comunista.”

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