29 de outubro, de 2021 | 06:16

Lucro da Petrobras chega a R$ 31,1 bilhões e remuneração de acionistas dobra

Mesmo com a disparada do preço internacional do petróleo, a Petrobras registrou lucro de R$ 31,1 bilhões no terceiro trimestre de 2021 e dobrou o valor dos dividendos distribuídos aos seus acionistas, que chegarão a R$ 63,4 bilhões em 2021.

O lucro bilionário é anunciado em um momento de escalada dos preços dos combustíveis. Nesta quinta-feira, o presidente Bolsonaro, que ao assumir o governo manteve a mesma política implementada pelo ex-presidente Michel Temer, que prioriza acionistas, a Petrobras deveria ter um viés social e lucrar menos.

Com o resultado do trimestre, o lucro acumulado pela companhia em 2021 soma agora R$ 75,1 bilhões. Após anunciar a distribuição de R$ 31,6 bilhões aos acionistas no fim do primeiro semestre, a direção da estatal petroleira propôs nesta quinta-feira (28), pagar mais R$ 31,8 bilhões aos investidores em ações. No período a Petrobras produziu 2,83 milhões de barris de petróleo e gás, número que representa alta de 1,2% em relação ao trimestre anterior.

"A distribuição considera as perspectivas de resultado e geração de caixa da Petrobras para o ano de 2021, sendo compatível com a sustentabilidade financeira da companhia, sem comprometer a trajetória de redução de seu endividamento e sua liquidez", informou a companhia em nota.

A empresa acrescentou que o lucro do terceiro trimestre teve forte influência de fatores não recorrentes, como revisões de valores contábeis de ativos pela valorização do petróleo e recuperação de investimentos feitos no campo de Búzios, no pré-sal.

O lucro recorrente, desconsiderando os fatores extraordinários, seria de R$ 17,4 bilhões. "Atingimos nossa meta de endividamento muito antes do planejado e estamos dividindo parte das riquezas geradas com a sociedade e nossos acionistas através de impostos, dividendos, criação de empregos e investimentos", afirmou o presidente da estatal, general Joaquim Silva e Luna.

Os dados divulgados também mostram que a Petrobras teve no trimestre as melhores vendas de óleo diesel desde 2015, com 867 mil barris/dia.

As vendas de gasolina, de 441 mil barris por dia, foram as melhores para um trimestre desde 2017. O preço médio da cesta de combustíveis da companhia subiu 5,2% em relação ao trimestre anterior, para R$ 421,97 por barril.

Consumidores pagam a alegria de acionistas

Os números otimistas da petroleira são bancados pelos consumidores, muitos deles com dificuldades para manter seus carros rodando. Neste ano o preço da gasolina nas refinarias já acumula alta de 74%. Já o diesel subiu 65% e o gás liquefeito de petróleo, o GLP, ou gás de cozinha, tem alta acumulada em quase 40%.

A escalada vem ajudando a pressionar a inflação, que atingiu na prévia de outubro o maior patamar desde 1995, com alta de 1,20%.

A insatisfação com o elevado preço do diesel já motivou protestos de transportadoras no Rio de Janeiro e em Minas Gerais e de caminhoneiros no Pará. Entidades ligadas a caminhoneiros autônomos prometem para esta segunda (1º) uma paralisação nacional. Mas, afinal, por que os combustíveis sobem sem parar? (Com informações da Petrobras e Agência Brasil)

Entenda o que é o PPI implantado no governo Michel Temer na Petrobras

Deste outubro de 2016, quando o governo Michel Temer (MDB) implementou na Petrobras o Preço de Paridade de Importação (PPI), o custo dos combustíveis não para de subir.

Os economistas apontam que o PPI favorece dois setores da economia, especificamente, os importadores de derivados (Shell e Mubadala), que cresceram no país a partir de 2016 e aqueles que querem comprar as refinarias. Além disso, assegura rentabilidade para quem comprou ação da Petrobras, à custa de quem paga os preços altos nas bombas.

A formação de preços no PPI é explicado da seguinte forma pela a diretora da Federação Única dos Petroleiros (FUP), Cibele Vieira: “Ao invés de formar o próprio preço considerando os custos para fazer cada derivado, [com o PPI] a Petrobrás pega o valor internacional e acrescenta o custo de importação para ficar no mesmo preço que os importadores têm para vender aqui no mercado brasileiro. Ao invés de fazer o preço o mais baixo possível para concorrer no mercado contra os importadores, a Petrobrás aumenta o dela para ficar igual ao dos concorrentes. Na prática, há uma dolarização do combustível para que ceda espaço ao mercado internacional”, detalhou.