10 de dezembro, de 2021 | 13:27

Quando o recuo da bateria pode ser a chance do samba continuar a pulsar

Viviane Hessel *

Para ser campeã, uma escola de samba precisa muito mais do que um enredo bonito e belas alegorias. Os jurados, colocados em posições estratégicas no sambódromo, passam por treinamentos específicos para analisar os dez quesitos definidos e, cada nota, faz muita diferença. Uma escola pode ser rebaixada para outro grupo por décimos e até milésimos. E tão minuciosa assim também deve ser a avaliação antes de liberar ou não uma das maiores festas do Brasil.

Na avenida, quando a escola atravessa a passarela do samba em tempo inferior a 65 minutos, perde pontos preciosos na nota final. Na luta contra a covid-19, isso também ocorre. Há quase dois anos, uma força-tarefa foi criada no país e no mundo para definir novas regras de convivência que incluem o uso da máscara, distanciamento social e higienização constante das mãos. Ao longo desse período, enquanto cada um buscava fazer a sua parte na avenida, equipes de pesquisadores desenvolveram em tempo recorde vacinas contra a doença, novos medicamentos e protocolos de cuidados, além de estudos valiosos sobre as sequelas da doença que, em muitos casos, têm se mostrado cruéis com os infectados.

Agora é hora apenas do recuo programado da bateria e não do silêncio do samba enredo. Pandeiro, cuíca, tamborim, ganzá e surdo seguirão a batucada, mas, mesmo não sendo obrigatória, a parada da bateria no meio do desfile é estratégica e se faz necessária para que as outras alas se aproximem e não saiam do samba. Não podemos parar de sambar antes da avenida acabar. A ala das baianas ainda precisa passar. Vivemos um momento de pausa estratégica para reforços de segunda e terceira doses da vacina e também para entendermos as novas variantes e os motivos que estão levando países europeus a fecharem novamente as portas.

“Vivemos um momento de pausa
estratégica para reforços de
segunda e terceira doses da
vacina e também para entendermos
as novas variantes”


E assim como tem o momento e o movimento certo para o recuo da bateria, também é preparado o seu retorno, para que não fiquem espaços vazios na avenida ou a batucada perca o compasso. Tudo deve ser ensaiado e orquestrado, para que a beleza seja mantida até o último folião vencer a passarela do samba. Não vale a pena correr agora nos minutos finais e perder todo esforço do mestre-sala que deu o seu suor para representar a sua escola.

Milhares de profissionais perderam noites de sono, momentos com a família e trabalharam arduamente para que cada lantejoula fosse colada e a fantasia tomasse forma para viver o grande desfile. E, mesmo que já esteja amanhecendo e seu brilho não tenha o mesmo efeito na passarela, antecipar a passagem tira pontos da escola e todos perdemos o esforço realizado na travessia do samba. Voltar ao início já não é possível, pois mais de 613 mil brasileiros não podem apreciar a beleza do carnaval, mas correr sem mostrar o samba no pé também não é o melhor a se fazer.

O mais difícil já foi trabalhado. Agora, é preciso um pouco mais de esforço para que os foliões não deixem a energia cair. Por mais cansativo e exaustivo que seja todo esse processo, ainda não é o momento de tirar a máscara e nos abraçarmos. Desistir e entregar os pontos antes de passar pela linha de chegada nunca é a atitude ideal. Falta pouco para resgatarmos minimamente rotinas que tínhamos antes da pandemia da covid-19 chegar. Igual nunca será. Mas o samba terá novas chances de pulsar.

* Infectologista e coordenadora da Comissão de Controle de Infecção Hospitalar do Hospital Marcelino Champagnat

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Comentários

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Tião Aranha

10 de dezembro, 2021 | 14:39

“O maior desafio pros laboratórios será parar de fabricar as vacinas atuais, pra começar fabricar a da nova cepa contra o omicrom, sendo que a população toda ainda não foi vacinada.”

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