18 de dezembro, de 2021 | 10:00
Parque do Rio Doce trabalha em projetos para identificar espécies com risco de extinção
Anderson Figueiredo
''O Parque Estadual é uma joia, de extrema importância, com uma biodiversidade muito rica'', diz fundador e presidente do Instituto de Conservação de Animais Silvestres, Arnaud Desbiez
''O Parque Estadual é uma joia, de extrema importância, com uma biodiversidade muito rica'', diz fundador e presidente do Instituto de Conservação de Animais Silvestres, Arnaud Desbiez
Diversos biólogos e pesquisadores se reuniram no Parque Estadual do Rio Doce (Perd) para compartilhar dados e resultados de pesquisas de campo, realizadas dentro da unidade de conservação, para localização e observação de espécies raras e com risco de extinção. O encontro ocorreu durante o primeiro Seminário de Pesquisas Integradas do Parque Estadual do Rio Doce, no centro de Treinamento da unidade de conservação, no município de Marliéria.
O fundador e presidente do Instituto de Conservação de Animais Silvestres (ICAS), o francês Arnaud Desbiez, explica como a oportunidade é importante para conhecer, integrar e responder às demandas do Perd. Precisamos unir esforços e destacar como esse lugar é único e importante para a conservação da biodiversidade do Brasil, porque aqui tem espécies que não existem em outros lugares”, explica.
Ainda conforme Arnoud Desbiez, a partir deste evento a ideia é integrar esforços junto a outros projetos e buscar políticas públicas para fortalecer o parque em diversas áreas, além de trabalhar em apoio à gerência da unidade de conservação. Deixar o parque forte e valorizado na parte de comunicação e educação ambiental, para que a população local e de todo o Brasil se dê conta que o Parque Estadual é uma joia, de extrema importância com uma biodiversidade muito rica”, destacou.
Projeto Tatu Canastra
Um dos principais projetos do ICAS é a pesquisa com o Tatu-canastra. O projeto já registrou cerca de 70 espécies diferentes utilizando tocas abandonadas, principalmente em períodos em que há variações climáticas extremas, pois, o local mantém uma temperatura constante de aproximadamente 25°C e que a extinção do Tatu-canastra pode resultar na simplificação ou diminuição dos habitats fossoriais, atingindo negativamente espécies que dependem destes ambientes.
Considerado o gigante das Américas e ameaçado de extinção, o Tatu-canastra é o maior e um dos mais raros entre os tatus. No Brasil, pode ser encontrado nos biomas da Amazônia, Pantanal, Cerrado e Mata Atlântica, sendo a último a região mais crítica para a existência da espécie, que atualmente só tem registros na Reserva Biológica de Sooretama (RBS), Reserva Natural Vale (RNV), ambas localizadas no Espírito Santo (ES), e no Perd.
São muitos anos de pesquisa científica e dedicação neste trabalho que está nos permitindo descobrir mais sobre essa espécie, que apesar do seu tamanho, é muito raro de ser avistado e do qual não se sabia praticamente nada e o que conhecíamos ainda era incerto, como, por exemplo, a biologia e reprodução desse animal, onde o macho atinge a maturidade sexual entre sete e nove anos e que a gestação de uma fêmea dura cinco meses, com o nascimento de apenas um filhote com um intervalo de três anos entre cada gestação, tornando a espécie mais vulnerável às ações antrópicas,” ressaltou Desbiez.
A iniciativa do Projeto já ocorre dentro do parque, que passará a realizar visitas nos fragmentos do entorno do Perd, com o objetivo de confirmar a presença ou ausência dessa espécie em outras áreas e, com isso, gerar resultados que poderão ser transformados em ações mais efetivas para a conservação dessa espécie, classificada como vulnerável na lista vermelha internacional de fauna ameaçada da UICN (União Internacional para a Conservação da Natureza), que além do Brasil, também pode ser encontrada na Colômbia, Venezuela, Guiana Francesa, Equador, Peru, Bolívia, Paraguai e Argentina.
Assinatura com Oscip possibilitará ampliação das pesquisas
Para o gerente do Perd, Vinícius de Assis Moreira, o seminário foi exclusivo e único, possibilitando um nivelamento técnico e com mais percepções para as pesquisas em andamento dentro da unidade de conservação. A união de todos os protocolos de pesquisa é importante construir pontes, canais de diálogo para oportunizar o melhor esforço e alcance de resultados no monitoramento da biodiversidade e na compreensão dessas espécies raras e endêmicas”, pontuou.
Com a assinatura do Termo de Parceria com a Oscip vencedora do edital de investimento do Perd, que deve ocorrer na próxima semana, quando serão investidos cerca de R$ 21 milhões nos próximos quatro anos, as pesquisas serão ainda mais fortalecidas e ampliadas para a identificação e preservação das espécies. A gente só vai preservar aquilo que a gente conhece, e geração de informação, divulgação científica é a melhor estratégia que a gente tem para convencer a sociedade do óbvio, que é preservar o maior remanescente de Mata Atlântica de Minas Gerais”, complementou Vinícius.
A gerência do Perd pretende realizar um segundo seminário no fim do ano que vem, com a participação de mais servidores do Instituto Estadual de Florestas (IEF) para nivelação de conhecimento técnico.
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