24 de dezembro, de 2021 | 13:00

Um Feliz Natal a todos

William Passos *

Nicolau, provavelmente, nasceu na antiga cidade de Patara, na Ásia Menor, atual Turquia, entre os anos 275 e 280 da Era Cristã. Homem de bom coração, deixava saquinhos com moedas próximas às chaminés das casas das pessoas pobres. Durante os três primeiros séculos da nossa era, não havia o costume cristão de celebração do Natal. Somente no século IV, quando o Papa Júlio I encomendou um estudo intensivo sobre a data do nascimento de Jesus Cristo, é que a festa natalina começou a ser introduzida.

No Brasil, a comemoração do Natal, por razões elementares, sofreu forte influência portuguesa. No entanto, guarda diferenças. Além da saudação “Boas Festas”, em vez de “Feliz Natal”, como se diz no Brasil, em Portugal ocorrem festas em honra a São Nicolau, sendo a mais tradicional a da cidade de Guimarães, situada no distrito de Braga, região Norte do país, cuja origem remonta ao ano de 1664.

É a São Nicolau, aliás, que está associada a figura do Papai Noel, em Portugal chamada de Pai Natal. Em países como México e Estados Unidos, Papai Noel é chamado de Santa Claus. Pessoalmente, se ainda fosse criança, simpatizaria mais com o nome dado na Alemanha e na Holanda, que pode ser traduzido como “Homem do Natal”. Além de imponente, dá a impressão de que poderia trazer mais presentes. Já me contentaria com a impressão. Papai Noel trabalha muito no Natal. Não tem tempo para achar a casa de todas as crianças, mesmo as que já aprenderam a escrever e colocaram carta no Correio.

Por outro lado, há semelhanças entre as celebrações nos dois países. Além da forte conotação religiosa, especialmente dentro do universo católico (os cristãos não católicos são menos de 0,5% em Portugal), o Natal é a festa da família, ocasião para deixar as desarmonias de lado, confraternizar, trocar presentes, esquecer temporariamente todas as desavenças e posar, sorridente, para as fotos que vão parar no Instagram, com todos aqueles primos, tios, etc. que não se falam, como se fossem a família mais feliz e perfeita do mundo.

“O Natal seria muito mais Natal
se o Natal de todos fosse mais igual,
se o salário de todos os trabalhadores
fosse mais semelhante, se todos pagassem,
proporcionalmente, os mesmos impostos
e se houvesse a mesma escola para que
todas as crianças tivessem oportunidades”


Uma das contradições mais curiosas, a meu ver, são os desejos individualistas de uma festa, em tese, que, de acordo com o espírito de Natal, ao menos o espírito cristão, contido na mensagem do nascimento de Jesus, deveria despertar o desprendimento pessoal, o amor ao próximo e a partilha sincera: desejos, normalmente, restritos a pessoa e à família do interlocutor – um Feliz Natal (só?) para você e toda a sua Família...

Não é mau que o Natal desperte estes desejos, além das campanhas de solidariedade e dos atos de doação, na maioria dos casos, traduzidos em partilha material direcionada àqueles que têm menos (naturalmente, há os voluntários que também doam tempo e trabalho). Entretanto, são sempre curiosos os atos de generosidade com validade curta e que não incomodam interesses estabelecidos. No país com uma das maiores desigualdades do mundo, o Natal seria muito mais Natal se o Natal de todos fosse mais igual, se o salário de todos os trabalhadores fosse mais semelhante, se todos pagassem, proporcionalmente, os mesmos impostos e se houvesse a mesma escola para que todas as crianças tivessem oportunidades mais iguais e aí sim os melhores fossem realmente os melhores, e não aqueles que nasceram em melhores berços.

Assim, as mesas do 25 de dezembro seriam mais iguais e a celebração do Natal seria mais próxima de sua mensagem original, ao menos dentro da tradição cristã, aproximando-se da belíssima exortação: “Amai-vos uns aos outros e tornai o mundo mais belo”.

Obrigado pela leitura, compartilhamento dos artigos e pelas opiniões e comentários manifestados em 2021. Muita saúde e um ano melhor em 2022!


* Geógrafo, doutorando pelo IPPUR/UFRJ e colaborador do Jornal Diário do Aço. Email: [email protected]

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Comentários

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Javé - do Outro Lado do Mundo

24 de dezembro, 2021 | 21:34

“Fez-me lembrar de Martin Luther King. Os homens são iguais, as oportunidades é que são diferentes. Risos.”

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