07 de fevereiro, de 2022 | 15:22

Mulher obtém certidão de nascimento aos 52 anos

Informações do TJMG

Divulgação TJMG
Nascida em Santa Maria de Suacuí, Francisca Wanda precisou do documento na hora de tomar vacina contra a covid em Belo HorizonteNascida em Santa Maria de Suacuí, Francisca Wanda precisou do documento na hora de tomar vacina contra a covid em Belo Horizonte

O tema da redação do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), em 2021, foi sobre as pessoas chamadas de “invisíveis”, que não têm acesso à cidadania no Brasil por não terem o registro civil de nascimento. O debate tem se tornado comum e reflete a realidade de cerca de 3 milhões de pessoas no país, como a dona de casa Francisca Wanda de Oliveira, que, só aos 52 anos de idade, conseguiu autorização da Justiça para obter a certidão de nascimento.

A mulher nasceu em Santa Maria de Suacuí, no Vale do Rio Doce, cresceu na roça, nunca se matriculou em uma escola e, sequer, teve acesso a benefícios sociais ou votou numa eleição. As informações são do Tribunal de Justiça de Minas Gerais (TJMG).

A falta de registro de nascimento impede que a pessoa tenha acesso a qualquer outro tipo de documentação, por isso são considerados invisíveis. “Ela nunca trabalhou oficialmente e não conseguiu benefícios porque falta de documentos. Na roça, as pessoas não se preocupam muito com isso”, conta seu irmão José Caetano.

Com o passar do tempo, necessitou de cuidados especiais. No início da pandemia de covid-19, Francisca Oliveira teve que se vacinar. Foi ao posto de saúde na Vila Pinho, no Barreiro, região sudoeste de BH, e não foi imunizada pela ausência da carteira de identidade. A assistente social do posto, Aline de Souza, e a agente comunitário Laura Aleixo tentaram resolver o problema e encaminharam o caso para o Cartório de Registro Civil e Notas do Barreiro.

“Nós fazemos muitos registros de nascimento tardio. E essa mulher, de fato, não possuía certidão de nascimento. No final, deu tudo certo e lavramos o registro de nascimento tardio dela, com a autorização da Justiça”, explicou a titular do cartório, Letícia Franco.

A juíza da Vara de Registros Públicos da capital, Maria Luiza Rangel Pires, elogiou o atendimento diferenciado que a mulher recebeu, com o empenho de diversos profissionais desde o primeiro momento no posto de saúde, passando pelo cartório extrajudicial até chegar com o pedido na Justiça estadual. “É preciso ter esse olhar humanizado para efetivamente resolvermos a situação de cada cidadão”.

Após confirmar a veracidade dos documentos que a mulher tinha em mãos, a titular do Cartório de Registro Civil e Notas, Letícia Franco, encaminhou o pedido de registro tardio para a Justiça.

A magistrada ressaltou que os casos de registro tardio não são situações raras no Brasil. Segundo ela, acontecem, normalmente, com pessoas que tiveram uma vida inteira em situação de rua ou com quem nasceu em regiões no interior do Estado sem acesso a esse tipo de serviço porque os cartórios de registro civil eram distantes.

Para autorizar um registro tardio, a Justiça realiza uma série de diligências para evitar fraudes ou um segundo registro. Em situações comuns, é preciso fazer uma busca detalhada em diversos cartórios da região onde a pessoa nasceu. E isso exige tempo. “O problema é que essas pessoas quando precisam do documento de identificação é em situações urgentes, como uma internação em hospital, para se aposentar ou receber um benefício social”, afirma a juíza.

Em casa, em Belo Horizonte, Francisca de Oliveira está feliz agora com certidão de nascimento em mãos. Ela foi ágil ao buscar dentro da bolsa a carteira de identidade para tomar mais uma dose da vacina contra a covid-19. “Graças a Deus, agora eu tenho um documento que vale”, disse ela ao chegar novamente ao posto de saúde no Barreiro.
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