29 de abril, de 2022 | 13:00

Ipatinga de todos nós!

Léo Patrick *

Sempre digo que nascer em Ipatinga não foi uma escolha minha, mas sim a consequência de uma decisão dos meus pais. Eles, como tantos outros moradores, vieram pra cá atraídos pela promessa de desenvolvimento aliada à qualidade de vida que uma cidade do interior proporciona aos seus moradores. Sua rápida expansão se deu principalmente pela presença de uma grande indústria de aço e seu impacto na economia local. Rapidamente, a expectativa de um grande centro urbano veio a se consolidar, a partir da eleição de governos comprometidos em colocar o orçamento municipal a serviço de políticas públicas que fizeram Ipatinga ser destaque nacional. A criação da Região Metropolitana do Vale do Aço é um marco deste tempo, possibilitando o desenvolvimento de ações integradas para enfrentar desafios que já não eram de uma cidade somente.

O que era novidade em modernização administrativa à época, experimentamos. Os projetos na educação pública (na qual obtive minha formação), o Parque Ipanema — obra projetada pelo grande paisagista Burle Marx, as iniciativas culturais que marcaram apresentações nos teatros e nas ruas, o futebol e o Kart aos domingos. As quadras e praças nos bairros. Árvores plantadas por toda cidade. Ruas largas e avenidas de faixa dupla. Isso fez com que o sentimento de quem nasceu aqui não fosse menos que um amor genuíno em cada detalhe de uma cidade pensada por gente da gente. Como é meu caso, que mesmo tendo de deixar Ipatinga para estudar, sempre estive presente nas questões centrais que fizeram parte de nossa política. E na primeira oportunidade de retorno, aqui estou de novo.

Não posso, no entanto, me deixar levar pelo saudosismo. Como jovem que sou, não me cabe compromisso com o passado. Pois ainda que tenha sido um tempo muito bom, precisamos entender que aquela Ipatinga já não existe mais. Nossa cidade não é como antes, porque nós também mudamos. E quando por vezes tentamos voltar ao passado, as realizações não aconteceram com o mesmo vigor de antes. Isso justifica a máxima de que o tempo é uma das coisas da vida que realmente não dá pra voltar. Mas a matriz desse passado breve pode nos ensinar em como agir no presente de modo a sermos construtores de um novo futuro.

“Precisamos nos afastar dessa
tentadora superficialidade que
não traça soluções aos problemas
estruturais que fizeram com que
aquela grande Ipatinga infelizmente
virasse coisa do passado”


Os gargalos pelos quais hoje se afunilam nossa organização política, social e econômica, fazem dos 58 anos de emancipação política e administrativa de Ipatinga um desafio que não pode mais esperar. Por muito tempo estivemos na esteira de um ciclo desenvolvimentista cuja prosperidade do mercado de aço e altos investimentos empresariais do setor foram propulsores de uma expansão minimamente justa para toda a cidade. Um modo de desenvolvimento que, com os retrocessos social e econômico vividos no Brasil nos últimos anos, se mostra insuficiente e esgotado, na medida em que evoluem as necessidades mais urgentes da maioria da população.

Essas são apenas algumas das constatações pertinentes à realidade que vivemos hoje. Mas afinal, como nos acomodamos em não pensar o futuro? Talvez por estarmos entretidos com os bons resultados conquistados a curto prazo. E é justamente por desconhecer a centralidade imposta nos desafios que muita gente é levada a acreditar em soluções fáceis para os complexos temas que atualmente permeiam a administração pública. Com isso, os espaços existentes nas instituições para elaboração e avaliação das políticas públicas municipais já não são mais suficientes para apontar um caminho seguro que tenha como diretriz principal o tripé da sustentabilidade: uma cidade socialmente justa, ecologicamente correta e economicamente viável.

Tudo isso nos responsabiliza a pensar a Ipatinga de hoje com a sensibilidade capaz de potencializar as vocações existentes no município e investir no surgimento de novas vocações. Dessa forma, poderemos estabelecer outros ciclos econômicos capazes de consignar um crescimento que seja aliado ao desenvolvimento social. É um importante passo que precisa ir além da boa fé que embalou os sonhos daqueles que ajudaram a construir Ipatinga até os dias de hoje. Envolve sobretudo a ousadia em garantir a linearidade de políticas públicas para que elas ultrapassem a propriedade dos governos, sendo vistas como metas que devem ser cumpridas por todos e todas que se comprometam com um futuro já em andamento.

Mesmo que cause incômodo em dizer, precisamos nos afastar dessa tentadora superficialidade que não traça soluções aos problemas estruturais que fizeram com que aquela grande Ipatinga infelizmente virasse coisa do passado. Que os 58 anos de nossa cidade sejam o motivo de celebração na vida de todos que com sua força de trabalho constroem cotidianamente a história de Ipatinga. Da dona de casa ao atendente de farmácia. Do mototaxista ao feirante. Da salgadeira à professora da escola. Do dono da mercearia ao trabalhador da Usiminas. Nossa cidade é cada um e cada uma que trazem consigo essa identidade. Somos muitos. Que isso faça verdadeiramente com que Ipatinga seja de todos nós.

* Analista de Políticas Públicas e bolsista de pesquisa do Projeto de Educação Ambiental Pescarte, IPEAD-FACE-UFMG, com financiamento da Petrobras. Também é membro do Grupo de Estudos e Pesquisas Urbanas e Regionais – GEPUR com atuação em temas sobre Desigualdades, Territorialidades, dinâmicas culturais e poder, da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro.

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Comentários

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Gildázio Garcia Vitor

29 de abril, 2022 | 17:38

“Que viagem! Parece discurso de político. Mas deu para lembrar das grandes obras realizadas pelas administrações de Lamego, Chico Ferramenta e João Magno.”

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