02 de junho, de 2022 | 14:54

O perigo ligado à tomada

João Borges * Weber Carvalho **

Você já parou e contou quantos aparelhos elétricos ficam ligados na tomada da sua casa simultaneamente? De modo geral, é aceitável afirmar que em quase a totalidade dos lares brasileiros há pelo menos um fogão, uma geladeira, um forno microondas, um chuveiro elétrico, uma televisão e um ventilador conectados à rede, além, é claro, dos pontos de iluminação. Em outros tantos lugares, somam-se a estes mais aparelhos de TV e de ar condicionado, máquinas de lavar, ventiladores de teto, air fryer, aspirador de pó, computadores, videogame, e por aí vai.

A lista é enorme. E a vida moderna carece cada vez mais de energia elétrica. Mas nem sempre a rede ou uma tomada específica tem capacidade para atender a toda a sua demanda, situação que leva a uma possibilidade de incêndio altamente perigoso. O risco se intensifica ainda mais quando deparamos com o que os brasileiros chamam “carinhosamente” de gambiarra – aquele amontoado de T’s encaixados uns aos outros para aumentar a quantidade de aparelhos acessados a uma única tomada.

Todo circuito elétrico bem dimensionado dispõe de disjuntores que protegem os fios que alimentam as tomadas que por sua vez, atendem as cargas. Quando essa carga é bastante excessiva, os disjuntores acabam desarmando por não resistirem à potência concentrada. Muitas vezes os usuários trocam esses disjuntores por aqueles de maior corrente visando não ter esse desligamento indesejado sem trocar os fios e é aí que mora o perigo. O disjuntor tem a finalidade de proteger os cabos e quando é colocado uma proteção que permite passar uma corrente maior que o cabo suporta, gera um aquecimento no circuito. Esse aquecimento que leva ao incêndio, o qual, dependendo da dimensão e dos produtos inflamáveis que houver perto, pode alcançar uma escala maior do que a própria casa, atingindo imóveis vizinhos e, pior, mais pessoas que estiverem por perto.

Não por acaso, as sobrecargas responderam por nada menos que 50% dos incêndios ocorridos em casas e apartamentos no país no decorrer de 2020, como revela a Associação Brasileira de Conscientização dos Perigos da Eletricidade (Abracopel). Considerando também todos os tipos de empresas e de indústrias, houve um total de 583 registros de incêndios por sobrecarga, que resultaram em 26 vítimas que perderam a vida. Desse total, 309 incêndios foram residenciais, culminando em 23 mortes.

“As sobrecargas [na rede elétrica] responderam
por nada menos que 50% dos incêndios ocorridos
em casas e apartamentos no país no decorrer de 2020”


Esse perigo ligado à tomada ajuda a reforçar o tamanho da importância de se ter uma instalação elétrica muito bem elaborada nas novas construções. As estatísticas da Abracopel mostram que a maior parte dos incêndios teve foco principalmente na instalação elétrica interna, e, em segundo lugar, em ventiladores de teto e aparelhos de ar-condicionado. Um sinal claro de que os projetos residenciais modernos devem ser dotados de mais pontos de acesso à rede e de uma capacidade maior de recepção de aparelhos, porque hoje eles representam uma quantidade diferente do que se usava no passado. As soluções domésticas ainda são movidas a energia convencional.

Ao mesmo tempo, é necessário ter um sistema de prevenção contra incêndio adequado ao tamanho do edifício, considerando ainda o número de imóveis. As soluções oferecidas pela engenharia elétrica devem contemplar também o uso de inovações tecnológicas, e seus sistemas devem ser pensados em conjunto com toda a equipe, reduzindo fortemente os riscos de um incêndio. Hoje dispomos de bons recursos que oferecem segurança porque fazem o controle inteligente do consumo de energia. Um ótimo projeto oferece proteção até mesmo às gambiarras. Basta explorar o máximo do que temos à mão na atualidade.

* Engenheiro eletricista e coordenador técnico da Projelet
** Engenheiro civil e diretor técnico da Projelet - [email protected]

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