05 de junho, de 2022 | 11:00

O sumiço da esquerda católica

Luiz Flávio Arreguy Maia *

2022 marcará a História pela consolidação ou fracasso de grande virada da opinião pública, desde 2013, vitoriosa em 2018. Ao avaliar fatores do processo político até as eleições, identificaremos pontos fortes e fracos, estimando as chances de cada lado. O desfecho da batalha, relevante no País, trará reflexos sobre todo o Ocidente.

Um fenômeno curioso: um segmento que se esperava protagonista, de maneira curiosa, sumiu! Falo da Esquerda Católica. Especulemos porque isso ocorreu.

Neste século, a mentalidade popular profunda aflorou manso, à brasileira, mas não parou de crescer. Apareceu num despertar de sonolenta acomodação, iniciada depois da vitória contra o comunismo em 1964. Hoje exibe suas componentes genuínas mais entranhadas: o apreço pelas conquistas da Civilização Cristã. Herdamos de nossos maiores valores como moral, livre iniciativa, tradições que vinham em dessoramento. Agonizavam, substituídas inadvertidamente em processo sutil, levando à mentalidade completamente oposta, designada inadequadamente “progressismo”. Dissolução de costumes, aborto, estatismo e ameaças à propriedade, com outros males da moral e da economia, prosperavam.

Tal movimento jamais surgiria por geração espontânea, sem a colaboração, com que contava, de setores da Igreja. A “Esquerda Católica” teve seus “heróis”, como o arcebispo vermelho Helder Câmara e o cardeal Arns, de São Paulo, apoiador do sindicalismo dominado pelos comunistas. Além, claro, de outros prelados e religiosos. Eram precursores de gestos que vemos hoje, com dor na alma, quando Francisco recebe sorridente, de Evo Morales, um crucifixo blasfemo em forma de foice e martelo; ou quando abençoa um ex-presidente, carregado de crimes contra a Pátria, amistosamente recebido em Roma.

Nas sacristias nasceu o Partido dos Trabalhadores, agora rejeitado maciçamente pela população, depois de descobertas as manobras dilapidadoras de nossa prosperidade e bons costumes. Nada trouxe de progresso, mas sim retrocesso econômico e práticas pagãs muito antigas. A degradação incluía, como no resto do mundo, a ruína da Igreja Católica e demais Confissões Cristãs, e sua substituição por uma religião pan-ecumênica: sem moral nem contornos nítidos, ela serve a todas as utopias, patrocinada pela ONU e demais impulsionadores da chamada Nova Ordem Mundial.

Esperava-se agora o engajamento eclesiástico do passado, mas não veio. Por exemplo, nas eleições de 1989, que perderam, e nos anos seguintes, ouvíamos, em inúmeros púlpitos, campanhas contra a corrupção. Em 2022, depois de um impeachment de presidente, assistimos cenas inesperadas, as multidões se manifestando nas ruas por causas conservadoras. Como dizemos os mineiros, cadê a esquerda católica?

“Herdamos de nossos maiores
valores como moral, livre
iniciativa, tradições que
vinham em dessoramento”


Onde estão antigos padrinhos de governantes comunistas, o ex-frei Leonardo Boff, ou o notório Frei Beto, que até do governo participou?! Não dizemos que sumiram, na realidade nem apareceram. Anteviram espertamente o fracasso, para pular do navio que afunda, antes dos demais ratos que infestam a vida pública brasileira? Entendamos o significado e a relevância deste vazio, no quadro das lutas até outubro.

Inicialmente, ver claro: são dois silêncios. O de protagonistas tão faladores, sempre pontificando coisas “modernas” na religiosidade popular; e um segundo: sua falta tampouco foi notada pela grande mídia, cujo papel analisamos (aqui) em 1.4.22. Fato tão bom, a ser comemorado, precisa ser melhor percebido.

Aparentemente quase sem pastores, os católicos se levantaram na onda conservadora, com força, como também os protestantes e os evangélicos, cuja mobilização foi notável. Ocorreu ainda com todas as pessoas de bem, com religiosidade nem sempre é acompanhada de práticas formais. Tal contingente, mais jovem, agora existe em grande quantidade, devido ao virtual banimento do ensino do Catecismo, no aggiornamento suicida que se iniciou nos anos 1950/60 (matéria que não cabe aqui). Desolação nas hostes religiosas progressistas, convictas que sua pregação, acompanhada de maus exemplos, frutificava em avanços da Revolução anticristã. Tiveram sucesso sim, contribuíram para a decadência, mas também deram, sem querer, origem à reação, silenciosa mas consistente. Reação de um povo que incorporou o sentimento cristão no DNA, e já não tolera o ativismo canhoto do passado.

Como continuam fortes mundo afora, intriga sua omissão no cenário nacional. Há explicações. A ironia que fizemos, sobre a antevisão do fracasso intuída, é uma delas. Mas talvez a principal seja outra: com experiência acumulada há séculos, as forças revolucionárias possivelmente perceberam o que seu aparecimento provocaria: indignação maior ainda, empurrando mais para o fundo sua turma. O futuro permitirá identificar os reais motivos e o peso de cada um.

Melhor para o Brasil! Ao focar a luta do bem contra o mal em seu discurso, a Direita brasileira operou inspirada. Inibiu a Esquerda dita católica, e acertou o alvo, a ponto de mostrar-se cada vez mais bem posicionada para as eleições deste ano.

Discretos reflexos começam a aparecer. Destacarei a sutil mudança dos institutos de pesquisa. Em 2018, presentes todos os dias na grande imprensa, apontavam o futuro ganhador sempre perdendo, contra as evidências em contrário. Fracassaram a ponto de errar na véspera do pleito, e até na boca de urna, pesquisada no momento da votação. A Direita perdia em todos os cenários, contra qualquer dos concorrentes.

“O milagre brasileiro cresce para
tomar um grande espaço, prenunciando
novos rumos para o mundo todo”


Agora, começaram reincidindo, mostrando seu caráter de instrumento dos verdadeiros senhores, o famigerado establishment. A partir das últimas semanas, porém, começaram a mudar. Disfarçando velada coordenação, um a um os institutos começam a apontar “mudanças” na opinião: o esquerdista nunca cai, mas o oponente sobe...

Na mídia, os fatos sempre têm viés, pelo uso da palavra ‘mas’. Lembra o conselho sábio da língua inglesa: never say NO, say YES, BUT. As agora famosas expressões tornaram-se frequentes nas notícias, confiando na preguiça de quem não lê a matéria completa. Exemplos: desemprego cai, mas ainda atinge ‘x’ milhões de pessoas; economia melhora, mas o risco ainda é alto. Um energúmeno criativo inovou a linguagem: “economia despiora”! Afinal, importa “garantir” que a Direita não produzirá jamais o progresso. Nossas próximas análises permitirão vislumbrar para ela um cenário vencedor, com alta probabilidade de concretização, não obstante poderosíssimas forças contrárias.

Resumindo, o milagre brasileiro cresce para tomar um grande espaço, prenunciando novos rumos para o mundo todo. Sem a “Esquerda Católica”, que jamais deveria ter existido.

* Advogado e administrador, com longa experiência na gestão de organizações públicas e privatização de estatais


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Comentários

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Rodrigo Graziani Oliveira

05 de junho, 2022 | 19:20

“A teologia da libertação é uma obra do marxismo cultural que tenta conferir alguma credibilidade para uma ideologia baseada no ressentimento e na vaidade desenfreada.
Como católico vejo com muita tristeza usarem a Igreja de Cristo para serviço da "causa".
Não fosse a resistência heróica dos nossos irmãos protestantes o Brasil já teria sucumbido ao socialismo/comunismo.
"O comunismo não deu errado. Ele é o próprio erro".”

Tião Aranha

05 de junho, 2022 | 13:17

“A partir do Concílio Vaticano segundo a opção passou a ser em direção aos pobres, subtraindo da igreja católica a participação na Política. Esse movimento liderado por dom Arns e dom Helder envolvendo sindicato e classe operária durou até 1968. Nesta época e, em todo o mundo, existia uma juventude muito mais participativa no que tange às mudanças sociais da sociedade. A ditadura militar quebrou todo esse ciclo. Aqui, a direita apóia os militares com cargos na administração federal. Deveria ter uma disciplina da ciência política nas escolas. Risos.”

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