05 de junho, de 2022 | 07:00

O ferro que escoa sobre o ferro

Projeto do fotógrafo Rodrigo Zeferino investiga cotidiano de comunidades localizadas às margens das ferrovias da mineração no Brasil

Fotos: Rodrigo Zeferino
Comunidade do Horto da Baratinha, localizada entre a ferrovia e o rio Piracicaba Comunidade do Horto da Baratinha, localizada entre a ferrovia e o rio Piracicaba
O “artista visual da fotografia” Rodrigo Zeferino vem acompanhando, desde o início de 2022, o caminho percorrido pelo minério, partindo das jazidas de onde é extraído no “quadrilátero ferrífero”, na região central de Minas Gerais, até o litoral capixaba, onde a maior parte de sua produção - em 2021, foram produzidas mais de 120 milhões de toneladas de minério de ferro em MG - é embarcada em cargueiros, no porto de Vitória (ES), com destino aos países importadores da commodity.

O trem carregado de minério margeando o município de Antônio Dias: vida cotidianaO trem carregado de minério margeando o município de Antônio Dias: vida cotidiana
Em seu mais recente projeto, “Terra em Trânsito”, patrocinado pelo Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, Zeferino segue fotografando as comunidades localizadas às margens da ferrovia Vitória a Minas, pertencente à Vale, e cuja principal finalidade é escoar o mineral extraído no estado.

O projeto tem a colaboração dos fotógrafos e pesquisadores Nilmar Lage, que prepara um vídeo documentário sobre o trabalho, e Ricardo Alves, responsável pelo texto de apresentação do ensaio fotográfico, além do fotógrafo Igor Silva, que registra os bastidores da ação, e da jornalista Mariana Penna na assessoria de comunicação.

Moradia a poucos metros da ferrovia em Ipabinha, comunidade pertencente a Santana do Paraíso Moradia a poucos metros da ferrovia em Ipabinha, comunidade pertencente a Santana do Paraíso
Para identificar as comunidades e suas respectivas lideranças comunitárias, e propiciar a sua inserção e o diálogo com os moradores de cada lugar, Zeferino e equipe contam com a parceria do Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), instituição que trabalha junto a pessoas que sofrem os diversos impactos causados pela mineração no território mineiro e brasileiro.

O material começou a ser produzido em 2020, quando Zeferino atuava individualmente e por conta própria. No ano seguinte, veio a seleção no XVI Prêmio Funarte Marc Ferrez de Fotografia, o que permitiu ao artista dedicar mais tempo ao projeto e percorrer a estrada de ferro que cruza Minas Gerais e o Espírito Santo e os respectivos municípios instalados em sua extensão. O valor de R$ 10 mil oferecido na premiação foi essencial para arcar com os custos do projeto, especialmente os relacionados a transporte.

Moradora convive com o trem a poucos metros de sua casa, no bairro Drummond, em Nova EraMoradora convive com o trem a poucos metros de sua casa, no bairro Drummond, em Nova Era
Vida cotidiana
Ao aportar em um desses municípios, a equipe se propõe a conversar com os moradores, na tentativa de inserir-se na comunidade, de modo que as pessoas sintam-se à vontade na presença dos profissionais, e que estes tenham a oportunidade de captar a essência da vida cotidiana naquele determinado lugar.

Igreja católica ao lado da linha férrea, em Nova Era Igreja católica ao lado da linha férrea, em Nova Era
O propósito elementar do projeto “Terra em Trânsito”, segundo Zeferino, é entender um pouco da relação entre os habitantes e a ferrovia. “Como a linha férrea influencia a vida de quem mora por perto e, principalmente, qual a percepção que essas pessoas têm sobre a quantidade de riqueza que escoa por essa estrada todos os dias, invariavelmente, diante dos seus olhos”, analisa o artista, que se propõe a traduzir em imagens essas questões levantadas.

O fotógrafo salienta que a ferrovia Vitória a Minas é, apenas, uma etapa do projeto “Terra em Trânsito”. A proposta engloba, também, outra importante estrada de ferro voltada à mineração no Brasil, que vai de Carajás, no Pará, até o porto de Ponta da Madeira, em São Luís, no Maranhão. O plano é finalizaros dois percursos, até 2023, e editar um livro com as fotografias produzidas nessa empreitada artística e sociológica.
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