06 de junho, de 2022 | 08:20

MPF será acionado por causa de ataques a jornalista que denunciou esquema de fake news eleitoral

Reportagem indica que grupo oferece pagamento para quem disseminar notícias falsas que favoreçam o presidente em sua campanha eleitoral Reportagem indica que grupo oferece pagamento para quem disseminar notícias falsas que favoreçam o presidente em sua campanha eleitoral

O Ministério Público, a Polícia Federal e a Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados serão acionados nesta segunda-feira (6), em função de ameaças e atentados já praticados contra o repórter Lucas Neiva, do site Congresso em Foco, no fim de semana. O deputado Fábio Trad (PSD-MS) afirmou neste domingo que as ameaças merecem investigação. Para o parlamentar, não devem ficar sem respostas, os ataques foram dirigidos ao jornalista, após ele revelar a existência de um esquema de fake news pró-Bolsonaro em uma plataforma da internet.

“Graves e hediondas as ameaças sofridas pelo jornalista do Congresso em Foco, Lucas Neiva. Vou requerer à Comissão de Direitos Humanos da Câmara Federal a adoção de providências urgentes porque o jornalismo brasileiro não pode ficar à mercê de delinquentes covardes que manipulam fatos e se escondem no anonimato para mentir impunemente”, disse o deputado.

Segundo ele, os órgãos devem impedir qualquer tentativa de intimidação ao exercício do jornalismo no país. “Além disso, o Ministério Público Federal deve intervir para que a Polícia Federal investigue de forma rigorosa essa abominável intimidação ao exercício da livre imprensa”, acrescentou.

Já a Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo (Abraji), afirmou em nota que é "extremamente preocupante" que grupos anônimos se proliferem nas mídias sociais, assim como nas redes do submundo da internet, difundindo campanhas de desinformação e ataques coordenados contra jornalistas pelo simples exercício de sua função de informar. “A Abraji repudia esses ataques e pede às autoridades policiais que, mesmo diante da dificuldade de identificar os autores, as investigações sejam levadas a cabo com celeridade”, publicou neste domingo,

Entenda como isso começou

As ameaças contra o jornalista Lucas Neiva foram feitas no sábado (4) no site 1500chan.org, considerado o imageboard mais ativo do país. O imageboard, também chamado pelos usuários de chan, é um fórum anônimo em que internautas se comunicam sem qualquer tipo de identificação, não havendo distinção entre eles. Ataques a movimentos sociais, propaganda de extrema-direita, divulgação de conteúdo declaradamente racista e antissemita, bem como teorias de conspiração ocupam o topo das abas políticas desses sites.

“Parece que alguém vai amanhecer morto”, escreveu um dos usuários. “Eu ri do jornalista esfaqueado em Brasília e queria que acontecesse mais”, acrescentou outro no 1500chan. Nas mensagens também são tramados ataques à honra do repórter com fake news, em uma espécie de campanha de difamação.

Na reportagem publicada sábado, o jornalista Lucas Neiva revelou que um usuário da plataforma se propõe a pagar com recursos próprios, em criptomoeda, a criação de conteúdo eleitoral em favor de Jair Bolsonaro que viralizar na internet. O anúncio vem acompanhado de instruções para fazer com que o conteúdo viralize, bem como do endereço de uma carteira de bitcoin para quem quiser doar para a campanha de fake news e uma orientação clara: o criador não precisa acreditar no que diz.

O jornalista informou que passou a monitorar o imageboard após receber de uma fonte denúncias sobre a produção organizada de fake news no fórum.

No 1500chan, o apoio a Jair Bolsonaro é absoluto. O anúncio para a produção de desinformação a favor do presidente não é único. Em outra publicação, o usuário sugere “fazer a esquerda sangrar”, e propõe montar uma biblioteca de material midiático para ser usado em favor do chefe de Estado, pois “a mídia de massa já mostra claramente que fará campanha contra o nosso presidente”.

Usuários do site clandetino destilam ódio contra jornalistas de maneira geral. Em troca de mensagens neste sábado, uma pessoa que se apresenta como Aristides Braga, “o maior propagador de fake news do Brasil”, defende o assassinato com requintes de crueldade de profissionais da imprensa.

“Fui o autor do blog Big Bosta Brasil 2022, e não vou parar com a distribuição de ódio. Todo jornalista deve ser estripado e afogado em seu próprio sangue enquanto todas as mulheres de sua família serem estupradas e mortas com requintes de crueldade. Jornalista tem mais é que ser arremessado ao mar com as mãos atadas nas costas”.
Fábio Trad: Fábio Trad: "O jornalismo brasileiro não pode ficar à mercê de delinquentes covardes que manipulam fatos e se escondem no anonimato". Foto: Pablo Valadares/Agência Câmara

Ataques e divulgação de endereços

No mesmo tópico em que foram feitas ameaças de execução, outras respostas identificavam o profissional de imprensa com nome e perfil no Twitter e divulgavam o seu endereço.

Além de citar Neiva, uma publicação expõe o perfil da editora do Congresso em Foco Insider Vanessa Lippelt, chamada no texto de “autista”. Assim como o colega, Lippelt investiga grupos de extrema direita.

Expor dados pessoais em um ambiente hostil configura a prática chamada doxing, que pode vir a ser considerada crime.

Imageboards são fóruns virtuais para discussão de tópicos - um usuário levanta um tema, e os outros respondem. Tudo isso sem requerer identificação de seus membros, o que torna difícil responsabilizá-los por suas declarações. “Ataques a movimentos sociais, propaganda de extrema-direita, divulgação de conteúdo declaradamente racista e antissemita, bem como teorias de conspiração ocupam o topo das abas políticas desses sites”, explica a matéria assinada por Neiva.

Na madrugada de domingo (5), o site do Congresso em Foco foi alvo de ataque hacker e chegou a ser derrubado. A equipe de tecnologia do veículo investiga qual a abordagem usada pelos criminosos para tirar o site do ar.

Um Boletim de Ocorrência foi registada pelo comunicador, na 9ª Delegacia de Polícia Civil em Brasília. Provas foram entregues às autoridades e indicam que os membros do imageboard cogitam a possibilidade de associar conteúdos forjados de nazismo e pedofilia ao jornalista, em uma tentativa de assassinato de reputação.

Para se prevenir de possíveis ataques e preservar seus dados, o repórter tornou suas contas em redes sociais privadas, limitando o acesso. “Foi do meu Facebook, que nem usava mais, que estavam retirando informações sobre mim e minha família”, relatou à Abraji.

Após as ofensivas, o site onde foram publicadas as ameaças substituiu sua interface pela imagem de uma caravela, tornando seu conteúdo acessível somente para usuários que utilizarem ferramentas específicas do navegador. A técnica é chamada pelos usuários de “máscara de chumbo”, e é adotada em fóruns anônimos quando são descobertos pelo público.
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Comentários

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Edivaldo

07 de junho, 2022 | 14:16

“A mídia podre é o pt, vai perder de 75% de bolsonaro.”

Paulo

06 de junho, 2022 | 17:35

“República da mentira, comanda por um falso moralista, apoiado por pseudos Cristãos.”

Viewer

06 de junho, 2022 | 10:10

“Engraçado que ninguém nunca ouviu falar desse tal site.
Mais parece um false flag criado para criminalizar a opinião de um espectro politico.

Enquanto isso o Oswaldo Eustáquio continua preso pelo skinhead togado.”

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