19 de julho, de 2022 | 12:00

Pelas matas em busca de um sonho...

Nena de Castro *

Ano da graça de 1895. Em Guanhães, no sudeste de Minas, um homem sonhava. Tinha 13 filhos e queria ter terra para dar segurança à família...Resolveu então ir em busca de um lugar de terras devolutas, para se instalar com os seus. Para conquistar tal terra, o único jeito era entrar na mata virgem e caminhar até achar um local condizente. Era uma empreitada perigosa, chamaram-no de louco, o povo alertava sobre os perigos da mata, animais selvagens, índios, a malária... O homem rezou muito, pediu orientação a Deus, juntou os poucos animais que tinha, arranjou os gêneros necessários, a água e partiu com sua família, entrando na floresta. Árvores enormes entrelaçadas, emaranhado de cipós e moitas de espinhos dificultavam a caminhada.

E assim, enfrentando toda sorte de dificuldades, resolveu tomar a direção de Peçanha e Coroaci, viajando 3 dias por lugares escuros dentro da mata, sobe morro, desce morro, até encontrar a famosa montanhas de Escadinha. A caravana seguiu mais 15 km, agora sem água e pisando em chão cercado por bambus espinhentos. Até que chegaram a um lugar onde havia uma clareira...

E o homem que se chamava Marcelino José da Cunha viu que ali era o seu lugar. A mata que circundava a clareira era formada por pés de peroba, ipê, sapucaieira, braúnas, cedros e muitas outras madeiras preciosas. Animais selvagens viviam por ali, e encontraram também uma tribo de índios selvagens, cujo cacique se chamava Chonin. Havia também alguns trabalhadores rurais vindos do povoado de Santo Antônio do Porto de Figueira, futura Governador Valadares.
Marcelino comprou os terrenos dos agricultores, mas permitiu que continuassem vivendo e cultivando as terras.

Tratava as pessoas como se fossem irmãos. Contudo, as dificuldades continuavam e da necessidade de fazer compras de remédios, sal, utensílios para agricultura, tecidos, nasceu a ideia de se abrir uma estrada até Itambacuri.

Chefiando um grupo de corajoso, entraram na floresta e foram abrindo no muque, uma estrada. Outra vez os perigos, os animais ferozes, os insetos que comiam todos vivos... E foram abrindo picadas, derrubando árvores, tudo enfrentando, até que encontraram uma turma que abria a estrada vindo de Itambacuri!

Foi uma alegria, pois assim tiveram certeza de que estavam no caminho certo. Os padres capuchinhos, contatados por Marcelino, tinham enviado os trabalhadores para encontrá-los.

Mas o desbravador pagou um preço alto, contraiu a temida malária na empreitada. Quando percebeu a proximidade da morte, escolheu como sucessor seu genro Marçal Ciríaco da Silva, dando-lhe instruções de como continuar sua obra, pediu aos filhos e a todos que respeitassem o novo guia e faleceu aos 54 anos.

O novo líder da comunidade seguiu seus passos, e Chonin prosperou, com atividades agrícolas, com a fundação de uma escola estadual a criação de uma banda de música, a ampliação da igreja de Nossa Senhora da Piedade e muitas outras medidas que beneficiaram os chonienses. Marçal lutou para que Chonin viesse a ser um distrito, o que conseguiu, foi vereador, juiz de paz e era amado pelos habitantes do povoado.

Muitos dados sobre o distrito foram fornecidos por um antropólogo dos Estados Unidos, descendente de finlandeses, de nome Kalervo Oberg, que trabalhou na fundação SESP na década de 1960 em Chonin e fez um relatório completo sobre a localização geográfica, recursos naturais e outros dados para o governo de seu país. O original está na Biblioteca do Congresso dos EUA.

A Bugra aqui, acha que ele era um espião xeretando nossas coisas, pois “eles” sempre estiveram de olho no Brasil. (HUMPF)

Bem o fato é que Marcelino José da Cunha, o desbravador e Marçal Ciríaco da Silva, o benemérito continuador de sua obra, foram grandes homens que lutaram por uma vida melhor para todos.

E nada mais digo a não ser que tenho muito orgulho de meu bisavô e avô que tinham espírito de bandeirantes, mas tratavam a todos com igualdade, buscando a paz!

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Tião Aranha

19 de julho, 2022 | 12:31

“O marxismo e a psicanálise falam que o homem não é mais aquilo que ele faz. O reino do homem não é na terra. O problema todo é acatar o compromisso da responsabilidade com o mundo inteiro. Sartre tinha razão. O princípio ateu do existencialismo tb diz o mesmo. Risos.”

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