21 de julho, de 2022 | 12:00
Os ataques de Bolsonaro e a ruptura institucional dos Poderes
Marcelo Aith *
Improbidade administrativa, propaganda eleitoral antecipada, abuso de poder político e econômico e crime contra o Estado Democrático. Essas são algumas das condutas que o Presidente da República, Jair Bolsonaro, está sendo acusado após reunião com embaixadores estrangeiros no Palácio da Alvorada na qual atacou, sem provas, o sistema eleitoral do país. Ao assumir, novamente, essa postura absurda de questionar a segurança das urnas eletrônicas e da metodologia das eleições no Brasil, Bolsonaro parte para uma grande ruptura institucional dos Poderes.
Em seu discurso para uma parte importante da comunidade internacional, o presidente aproveitou o evento para atacar o adversário político Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e os ministros Edson Fachin (atual presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF).
Não é a primeira vez e, caso nada aconteça, não será a última que Bolsonaro atacará ao STF e à Justiça Eleitoral com objetivo de invalidar os resultados das próximas eleições perante à opinião pública e à comunidade internacional. Além de estar infringindo a Lei Eleitoral ao realizar propaganda antecipada de sua candidatura à reeleição, é uma tática que pode render uma punição mais dura. E que foi considerada um "tiro no pé" por sua base aliada.
O atual presidente do TSE, ministro Edson Fachin, rebateu de imediato o discurso de Bolsonaro. Ele reafirmou a integridade do sistema eleitoral brasileiro e fez críticas a declarações proferidas pelo presidente da República. O ministro disse que o debate político atual "tem sido achatado por narrativas nocivas que tencionam o espaço social". Criticou ainda o que chamou de "teia de rumores descabidos e populismo autoritário". E também reforçou que as falas do presidente "buscam, sem muito disfarce, diluir a própria República e a constitucionalidade". E disse que há "inaceitável negacionismo eleitoral por parte de uma personalidade pública e afirmou que é muito grave haver uma acusação sem nenhuma prova". E completou: "É hora de dizer basta à desinformação. É hora também de dizer não ao populismo autoritário, que coloca em xeque a conquista da Constituição de 1988".
Ao assumir, novamente, a postura absurda
de questionar a segurança das urnas eletrônicas,
Bolsonaro parte para uma grande ruptura dos Poderes”
Importante destacar que o discurso bolsonarista serve para reforçar uma narrativa já superada sobre o sistema eleitoral brasileiro, mas também reforça a tática de tirar outros escândalos da mídia, como as denúncias de assédio contra o ex-presidente da Caixa Econômica e a PEC Kamikaze, que viraram pedras no sapato de sua candidatura à reeleição.
Vale frisar que, ao contrário do que defende o presidente, o voto no Brasil é seguro, transparente e auditável. É sempre relevante afirmar que as eleições de 2018 foram legítimas, assim como as próximas e as anteriores. Não cabem esses ataques descabidos e sem provas. E a Procuradoria Geral da República e os demais Poderes precisam avaliar tais condutas que cercam essa narrativa, muitas ilícitas por falta de provas. E preciso defender, sempre, o Estado Democrático de Direito.
* Advogado, latin legum magister (LL.M) em direito penal econômico pelo Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa IDP, especialista em Blanqueo de Capitales pela Universidade de Salamanca, professor convidado da Escola Paulista de Direito, mestrando em Direito Penal pela PUC-SP, e presidente da Comissão Estadual de Direito Penal Econômico da Abracrim-SP
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Gildázio Garcia Vitor
21 de julho, 2022 | 16:49Excelente artigo! Parabéns! Acredito, que esse discurso, além de desviar a atenção dos escândalos, serve, também, para manter sua base e justificar uma provável derrota, creditada às urnas eletrônicas "fraudadas". Perder, nem nos palitinhos, nunca é fácil. Ainda mais para um Megalomaníaco.”
Tião Aranha
21 de julho, 2022 | 15:06O mal do sistema de presidencialismo é que a pessoa do presidente é sempre a figura central da administração pública, dela demandando todas as decisões importantes do poder executivo.”