26 de julho, de 2022 | 01:00
Projeto mundial Beyond Walls” apresenta arte inédita em Minas
O artista francês Saype concluiu com sucesso a 16ª etapa do seu projeto mundial Beyond Walls (além dos muros), em Brumadinho, com a realização de uma pintura gigantesca no campo de futebol do Córrego do Feijão, nesse fim de semana. A intenção é ressignificar o local que os bombeiros usaram para aterrissar helicópteros com corpos de vítimas do rompimento da barragem da Vale, em 2019.Fotos: Saype Artiste
População de Brumadinho dá abraço coletivo em torno de obra de arte de Saype: união e solidariedade
População de Brumadinho dá abraço coletivo em torno de obra de arte de Saype: união e solidariedade
Nesta segunda-feira (25), a tragédia que deixou 272 mortos e devastou o meio ambiente da região completou três anos e meio. O lugar onde, antes do ocorrido, as crianças brincavam e depois virou sinônimo de trauma para os moradores, se transformou em palco de uma obra de arte que evoca o dar as mãos por um mundo mais justo. Com essa pintura em Minas Gerais, Saype busca gerar repercussão nacional e internacional acerca dos impactos da mineração.
Brumadinho entrou para o rol das 30 cidades ao redor do mundo escolhidas pelo artista para deixar sua marca com o Projeto Beyond Walls, que foi iniciado em 2019 e deve ser concluido em 2023. Saype é o nome artístico de Guillaume Legros, um dos pioneiros da nova geração de land art” (arte com e na natureza), cujo trabalho está sempre relacionado com questões socioambientais.
Acredito que somente juntos poderemos enfrentar os diferentes desafios que a humanidade tem atualmente. Estou em Brumadinho para mais uma etapa de um projeto que vai criar simbolicamente a maior corrente humana do mundo. Imagino que seja difícil para as pessoas que vivenciaram o rompimento da barragem do Córrego do Feijão criar um futuro promissor, e sendo um artista, posso ampliar a voz e apoiar essas pessoas em sua luta”, declarou Saype.
Sobre a indústria da mineração, ele afirmou que precisamos das minas e suas matérias-primas, e meu objetivo é dar visibilidade aos aspectos socioambientais do setor, e enfatizar que é necessário que a indústria garanta condições de trabalho seguras e que respeite a vida e o meio ambiente.”
A presidente da Associação de Familiares de Vítimas e Atingidos pelo Rompimento da Barragem Mina Córrego Feijão Brumadinho (Avabrum), Alexandra Andrade, destacou as formas como o trabalho do artista se relaciona com a causa da cidade. O Saype desenvolve uma pintura que impacta de várias formas: seu tamanho gigantesco, o uso de um material que não agride o meio ambiente e também porque ela é efêmera, desaparece, mas deixa um símbolo na cabeça da gente de união, de solidariedade, de luta. Não queremos que essa tragédia caia no esquecimento. 272 pessoas foram engolidas vivas pela lama, e isso não pode ser em vão, não pode ser esquecido”, afirmou.
Em sintonia com os anseios das comunidades de Brumadinho e Córrego do Feijão, Saype declarou: enquanto eu estava pintando a minha obra no campo de futebol, fiquei pensando nas 272 vítimas e seus familiares. Espero que a minha arte, de alguma maneira, traga um pouco de leveza e esperança”. Para o artista francês, a questão da mineração e seus impactos é um problema mundial e muito atual no âmbito da sustentabilidade e do cuidado com a vida humana”.
O convite ao francês partiu do Projeto Legado de Brumadinho, idealizado pela Avabrum em memória do maior acidente de trabalho do Brasil e criado na tentativa de estabelecer uma nova mentalidade na sociedade sobre a importância das políticas de saúde e segurança no trabalho. O projeto é realizado com recursos destinados pelo Comitê Gestor do Dano Moral Coletivo pago a título de indenização social pelo rompimento da barragem em Brumadinho, em 25/1/2019, que ceifou 272 vidas.
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