30 de julho, de 2022 | 13:00

E você... vai reclamar de que hoje?

Fernanda Rodrigues*

Certa vez, uma amiga de trabalho estava estressada diante de um problema, paramos e perguntamos o que havia acontecido, pois não era comum vê-la assim, quando ela prontamente respondeu: “Não se preocupe gente! Deu tudo errado, mas eu não quero resolver agora, eu só quero RECLAMAR mesmo”.

Depois do acontecido, aquela frase ficou guardada na minha mente, pois parei para refletir sobre o assunto e cheguei à conclusão que reclamar é muito bom, faz bem, é como se aliviasse aquela raiva que está presa.

Você já reparou que quando as pessoas estão em uma fila, por exemplo, e querem puxar assunto, elas comentam sobre o tempo?...Mas nunca elogiando, sempre reclamando: “Nossa, hoje está tão quente né:”, “Que frio é esse que não passa”, ou comentam: “Esta fila não anda, os funcionários só podem estar enrolando, devem estar tomando café e batendo papo”.

Basta o primeiro abrir a boca para reclamar que os demais começam a opinar sobre o assunto e a partir daí surgem boas conversas e a tal da fila anda até mais rápido. É como se a reclamação tivesse o poder de unir as pessoas e de aproximá-las.

O grande problema são os extremos, pois uma pessoa que reclama de tudo é considerada chata, mas realmente parece que tem gente que nasceu para ser do contra: se chove reclama, se faz sol reclama, se está bom reclama, se está ruim reclama.

Alguns fazem tanto isso, que vira um hábito, nem percebem e se tornam mal vistas por onde passam. Em todo lugar, sempre tem um que reclama de tudo, aposto que já veio o nome de alguém em sua mente.
O que colocamos em questão aqui, é aquela reclamação gostosa, que não é para resolver nada mesmo, é só para aliviar o estresse, para desabafar, para ficar mais leve.

“O que colocamos em questão aqui, é
aquela reclamação gostosa, que não é
para resolver nada mesmo, é só para
aliviar o estresse, para desabafar”

Não se pode deixar de ressaltar que, algumas vezes reclamar é necessário e resolve sim, tanto que existe um dispositivo legal sobre isso. O próprio Código de Defesa do Consumidor permite e legaliza as reclamações a fim de sanar os problemas com algum produto ou serviço, o que não é nada agradável, pois esse tipo de reclamação não alivia ninguém, pelo contrário, só cansa mesmo.

Outro ponto curioso é que as reclamações não respeitam as idades, uma criança, por exemplo, mal aprende a falar e já sabe reclamar, reclama de tomar banho, de dormir, de comer, depois vira adolescente e reclama de estudar, de acordar cedo e até de passar uma vassoura na casa, depois que se torna adulto então, aí sim têm motivos de sobra para reclamar.

Além disso, ficamos constantemente em conflito, pois o tempo todo somos orientados pelas redes sociais e especialistas a ter atitudes positivas, a pensar sempre no melhor, porém não somos máquinas e muitas pessoas sentem a necessidade de explodir.

O site RECLAME AQUI é bem conhecido e serve para que o consumidor resolva seus problemas, mas o mais interessante é que ele serve e muito para pesquisa, por meio dele as pessoas procuram o nome de uma empresa antes de comprar algum produto e, se o índice de reclamação for alto, muitas vezes elas desistem das compras, agora imaginem se as pessoas adotassem a máxima do pensamento positivo e não reclamassem nunca, várias outras correriam o risco de serem lesadas também.

Outro fator que gera conflito é que as pessoas são diferentes e expressam suas emoções de formas distintas. Uma pessoa extremamente estressada pode reclamar de forma mais escandalosa, enquanto um indivíduo calmo reclama educadamente ou guarda aquela raiva para si.

O grande ponto dessa temática é que reclamar é bom e gostoso só para quem o faz, contudo para quem tem que ouvir, pode ser muito chato e irritante, pois o ouvinte ficará só com a parte ruim da história. Dessa forma, procurar um terapeuta pode ser uma saída para reclamar com alguém que, digamos, saiba acolher aquela informação de forma mais delicada.

Ahh, vamos falar a verdade? Reclamar é bom demais.... E você...
Vai reclamar de que hoje?

* Aluna do curso de Pós-graduação em Técnica Redacional e Revisão de Textos da Faculdade Arnaldo/Centro Educacional Flávia Rita

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço