31 de julho, de 2022 | 10:30

Jovem fabricianense, preso por tráfico em 2014, se torna confeiteiro bem-sucedido em São Paulo

(Stéphanie Lisboa - Repórter do Diário do Aço)

Diariamente a população acompanha histórias de jovens recrutados pelo tráfico de drogas que perderam a vida para o crime. Vivianderson Silverio Rodrigues, natural de Coronel Fabriciano, poderia ter entrado para as estatísticas desse cenário, mas no meio desse caminho, percebeu que ainda era possível abandoná-lo.

Aos 36 anos de idade, casado, pai de uma menina de oito anos, morando em Osasco (SP), com um bom emprego, ele sabe que valeu a pena trocar as ilusões nutridas no tráfico pela paz de estar com a família. O jovem que foi notícia das páginas policiais em 2014, no jornal Diário do Aço, volta a ser notícia, mas dessa vez, para contar um pouco de tudo o que aconteceu nesses quase oito anos que se passaram.

Início do envolvimento

Antes de escolher o tráfico de drogas, quando ainda estava na adolescência, lá pelos seus 14 anos, Vivianderson ganhou sua primeira oportunidade profissional como ajudante de padeiro, em uma padaria localizada em Coronel Fabriciano. Foi a partir dos 20 anos que Vivianderson começou a se envolver com o tráfico. “Foi por conta própria, né? Meu bairro colaborava muito, o tráfico era muito forte, querendo ou não, você vai entrando devagar. Quando você vai ver, já está no meio, todo enrolado”, explicou.

Ilusão


Vivianderson reconhece que a ilusão fez parte desse período da vida dele. “A gente sempre ilude, achando que vai ser feliz por meio disso, mas quando você pensa que não, você já perdeu família, já perdeu amigos”, alertou.

Começo da mudança

Ver que muitas pessoas próximas estavam morrendo devido ao envolvimento com o tráfico acendeu um alerta. Pensar na dor de sua mãe também foi um fator decisivo para que ele optasse pela mudança. “Você vê muita mãe de amigo seu chorando. Aí você pensa: o dia de amanhã pode ser minha mãe, né? A gente não quer isso para mãe da gente. Eu pensei na minha mãe e na minha esposa”.

Viagem para São Paulo

Com o objetivo de ir em busca de uma nova vida, aos 26 anos de idade, Vivianderson se mudou para o estado de São Paulo com a esposa. Lá conseguiu um trabalho no ramo da panificação, mas ele sabia que a qualquer momento poderia ser preso por conta de um mandado de prisão expedido em seu desfavor pelo crime de tráfico de drogas. Trabalhou por um ano e meio, até que foi preso em outubro de 2014. Na época, a esposa dele estava grávida de oitos meses.

Prisão

Vivianderson foi condenado a dez anos de prisão. Passou quatro anos preso em São Paulo. Durante o período de reclusão, trabalhou por cerca de três anos e meio como encarregado da cozinha e conta que aprendeu muitas coisas. “O período da prisão trouxe muito ensinamento. Aprendi lá dentro a liderança, a me comunicar”, compartilhou. Ele também conviveu com o sofrimento. “Você fica longe da sua família, dos seus filhos, e não tem coisa pior do que isso”, lamentou.

Saída da prisão

Em junho de 2018 Vivianderson foi solto. Dois meses após a saída da cadeia, em agosto daquele ano, ele conseguiu o emprego no supermercado Compre Certo, no interior paulista. E desde o início, ele escolheu a sinceridade e contou sua história aos contratantes. Começou como confeiteiro, passou a encarregado, depois a gerente e atualmente é supervisor geral do setor de padaria e confeitaria das sete unidades do supermercado.

Como supervisor, ele cuida de uma equipe composta por 65 pessoas, é responsável pelas compras dos insumos da padaria e confeitaria, e pelas contratações e demissões do setor. “Está sendo uma experiência grande. É uma responsabilidade grande”, descreveu.

Reconhecimento


Aos poucos, o profissional vai conquistando seu espaço no mercado. A maior prova disso é que entre os dias 19 e 22 julho deste ano, Vivianderson viveu uma das experiências mais importantes da carreira: participou da Fipan, maior feira de Panificação e Confeitaria da América Latina. No evento ele teve a oportunidade de apresentar seu trabalho. “Para mim, entrou como superação. Foi um reconhecimento do lado profissional”, contou orgulhoso.

Exemplo e felicidade

Ao ser perguntado se ele se vê como um homem bem-sucedido, Vivianderson foi certeiro ao responder que sim. “A gente não ganha muito dinheiro igual quando fazia as ‘correrias’, só que a gente é feliz. Só de ser feliz, você já se torna bem-sucedido. Porque a felicidade é tudo”, definiu.

Vivianderson se enxerga como um exemplo para muitos jovens que estão envolvidos com o tráfico. “Um exemplo grande de que quando você decide mudar de vida, se você próprio decidir, não tem como dar errado”, concluiu.