13 de abril, de 2015 | 22:40
Absolvido da acusação de mandar matar o pai
Em sessão com aspectos históricos, Júri absolve réu na Comarca de Ipatinga
IPATINGA Em um julgamento que durou aproximadamente nove horas, filho acusado de ser o mandante do assassinato do pai foi absolvido pelo Conselho de Sentença da Comarca de Ipatinga.
Recolhido ao Centro de Remanejamento do Sistema Prisional (Ceresp) de Ipatinga desde o dia 21 de março de 2013, por força de uma ordem de prisão preventiva, Douglas da Costa Soares será colocado em liberdade nesta terça-feira.
Nesta segunda-feira, ele sentou-se no banco dos réus, acusado em inquérito policial de ter forjado um latrocínio (roubo seguido da morte da vítima) para justificar o assassinato do pai dele, Anedino da Costa, de 58 anos, em 17 de outubro de 2010.
O advogado Jayme Rezende atuou na defesa do réu e contou com o trabalho das advogadas Rita de Cássia Carvalho, Priscila Luiza Ferreira e da estagiária de Direito, a bacharela Chames Salles Rolim, de 98 anos.
Jayme Rezende explicou que sua equipe defendeu a tese da negativa de autoria. Por maioria, o Corpo de Jurados decidiu que Douglas era inocente.
O executor da morte do Anedino era quem acusava o Douglas. Hoje ficou comprovado que a palavra dele não tinha subsistência diante de outras provas do processo”, explicou.
Eduardo Augusto de Almeida, o Dudu, já foi levado a julgamento e condenado por latrocínio a 39 anos de reclusão. Depois que mudou a versão e passou a dizer que foi contratado por Douglas, foi novamente submetido ao Tribunal do Júri e sentenciado a 19 anos de reclusão.
Um comparsa, que participou do roubo de um carro para que Eduardo praticasse o crime, foi sentenciado por sequestro, cárcere privado e furto, a cumprir nove anos de reclusão.
Não tinha por quê o Douglas querer matar o pai, que punha bens em nome dele e mantinha a família de todas as maneiras”, concluiu Jayme Rezende.
O julgamento foi presidido pelo juiz titular da 2ª Vara Criminal, Antônio Augusto Calaes. O promotor de Justiça Bruno César Medeiros Jardini representou o Ministério Público.
O julgamento foi acompanhado pela mulher de Douglas, irmã e irmãos, que ao fim do julgamento se abraçaram na porta do Fórum Valéria Vieira Alves, comemorando o resultado.
Sessão com aspectos históricos
Além das advogadas Rita de Cássia Carvalho e Priscila Luiza Ferreira, Jayme Rezende contou com a presença da estagiária, a bacharela em Direito, Chames Salles Rolim, de 98 anos.
Jayme explicou que conhece a nonagenária desde que ela tinha uma farmácia, com o marido, José Maria Rolim, há mais de 30 anos, em Coronel Fabriciano.
Ela tinha me falado que ia estudar Direito e pedido que, quando se formasse, queria fazer um Júri comigo, pois conhecia meu trabalho. Então, agora, que estagia na área, pude trazê-la para a bancada da defesa. É a advogada mais antiga a participar de um Júri. Queremos mandar isso pro Guinness Book (livro dos recordes) e defender esse título. Ela completa 100 anos dentro de mais dois anos e está com essa energia toda. Falou durante 15 minutos”, enfatizou o advogado.
Diplomada em direito, para ser considerada advogada de fato, Chames Rolim ainda precisa passar pelo Exame de Ordem da OAB. Entretanto, a lei assegura o direito da atuação dela no Júri, desde que acompanhada por um advogado e esse trabalho seja na defesa de um réu.
Jayme Rezende é enfático quando fala da presença da nonagenária após 9 horas de julgamento. É que a gente vê a mocidade, gente de 20 anos, dizendo que está cansada. Aí, olho para uma senhora de quase um século, firme depois de um trabalho desse e fico emocionado. É um exemplo para nós. Que possamos chegar lá”, concluiu.
Perguntada sobre o que sentia após 9 horas do Júri Popular, Chames Rolim disse que o corpo sentia cansaço, mas o aprendizado a mantinha acordada, principalmente diante da vitória da tese da equipe.
A advocacia é a mais bela profissão. São as pessoas do Direito que asseguram a democracia, que tratam de assegurar o cumprimento do direito de ir e vir, ou seja, a liberdade. Sinto, pela idade que tenho, não poder aprofundar na arte da advocacia, porque é bela e essencial”, concluiu.
A advogada Rita de Cássia Carvalho, além de comemorar o resultado do julgamento, disse que foi surpreendente o trabalho com Chames Rolim. Apresentei o processo a ela, para que preparasse uma posição a ser mostrada aos Jurados. Deu certo. Convencemos o corpo de jurados de nossa tese, que era a negativa de autoria”, destacou.
Entenda o Caso Anedino
O latrocínio do agiota Anedino da Costa ocorreu na rua Visconde de Mauá, no bairro Cidade Nobre, em Ipatinga. No dia do crime, um homem invadiu o apartamento do aposentado, que entrou em luta corporal com o assassino e foi alvejado por três tiros.
O filho de Anedino, Douglas da Costa Soares, hoje com 35 anos, entrou na briga e também foi alvejado, no tórax e braço esquerdo. Ele sobreviveu, e, na conclusão do inquérito, foi acusado de ser o mandante do crime e de ter arquitetado o latrocínio.
Isso porque o executor do crime, Eduardo Augusto de Almeida, o Dudu, foi preso, acusado de envolvimento em outro assalto. Na prisão, afirmou que Douglas da Costa encomendou a morte de pai, Anedino, por R$ 50 mil.
Para a Polícia Civil, a motivação do crime era o interesse de Douglas em se apossar dos bens do aposentado. A PC afirma que, em uma trama que previa uma reunião da família, no dia 17 de outubro de 2010, em um sítio, localizado em São Sebastião do Baixio, no município de Periquito, os participantes seriam rendidos por um assaltante e o idoso assassinado. No entanto, Anedino decidiu permanecer em Ipatinga e o desfecho do crime tomou outro rumo.
Quando o assaltante chegou ao sítio, rendeu a família e roubou alguns pertences e exigiu mais, Douglas se ofereceu para ir na condição de refém até o apartamento de Anedino, em Ipatinga. O relatório da PC, inserido no processo, afirma que o bandido entrou na residência da vítima e se atracou com o morador, que também defendia sua mulher, madastra de Douglas.
Para a PC, Douglas entrou na briga, não para separar, mas para desarmar Anedino e permitir que Eduardo o matasse. O comparsa teria interpretado mal a situação e atirou contra Douglas.
Para o apoio logístico do crime, Eduardo usou um carro roubado de um casal no bairro Bom Jardim, com a ajuda de dois adolescentes. Eles mantiveram, como refém, no alto da Estrada das Lavadeiras, o casal surpreendido no veículo. As vítimas só foram libertadas depois da morte do aposentado.
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