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19 de março, de 2010 | 21:46

Como é viver ilegal na terra de Obama

Dificuldades na travessia via México fazem surgir nova rota de imigração clandestina para os EUA

Luan Barros


ILEGAL NOS EUA

NOVA IORQUE - Muitos dos mineiros da região do Vale do Aço permanecem ilegais nos Estados Unidos, e alguns ainda se lembram de como arriscaram a vida na perigosa travessia pelo México. Ao pesquisar sobre como vivem os brasileiros ilegais na terra de Obama, a reportagem do DIÁRIO DO AÇO acabou por descobrir um novo caminho feito a partir das ilhas do arquipélago de Bahamas, no Caribe.
Para muitos imigrantes, o motivo da longa estadia na EUA está relacionado à ilegalidade. Basta tomar Nova Iorque como exemplo e ter a dimensão deste problema para o governo dos Estados Unidos. A cidade mais famosa do mundo abriga aproximadamente três milhões de imigrantes em condições legais, mais de um terço de sua população total. Quem entrou no país sem a autorização do governo, de variadas formas contrárias à lei, não possui obviamente nenhum documento que os identifiquem como moradores daquele pedaço de terra.
São invisíveis deste ponto de vista, mas saltam aos olhos nas ruas. Os incontáveis brasileiros, mexicanos, cubanos, chineses, japoneses, haitianos, jamaicanos, indianos, russos e mais dezenas e dezenas de povos  se cruzam todos os dias nas esquinas da Times Square, em Manhattan, a ilha cercada pelo rio Hudson de um lado e pelo East River de outro – o coração da cidade mais frenética do planeta, onde tudo acontece primeiro e, “se não encontrou lá, é porque não existe”, como é costume dizer por essas terras de cá.
Em conversa com imigrantes dos Vales do Aço e Rio Doce, cada um conta histórias que dariam filme, novela ou minissérie.
“Duda” (nome fictício), 27 anos, foi entrevistado pela reportagem do DIÁRIO DO AÇO na estação de trem de Newark, a maior cidade do estado de New Jersey, localizada a apenas 13 quilômetros de Nova Iorque e conhecida como uma das principais comunidades brasileiras nos Estados Unidos.
Na sala de televisão da sua confortável casa ele mostrou à reportagem um “game” que simula a chegada de um imigrante ilegal aos Estados Unidos, algo bem parecido com o filme Scarface, com o lendário Al Pacino no papel de um cubano que vem a se transformar em um gangster nos EUA. “Esse jogo é igual à realidade, cara. É tudo real. Olha só Nova Iorque, igualzinha”, vibrava, enquanto tentava escapar da imigração no jogo.
 
Luan Barros


MANHATAN EUA

 
Ilegalidade: estímulo à permanência
Duda é valadarense. Aos 15 anos, fez sua primeira travessia ilegal, via México. Seu pai é uma das pessoas que “organiza” há muito tempo essas excursões. Por isso, nunca nem passou por sua cabeça tentar solicitar o visto. “Quando o moleque faz 15 anos em Valadares ele já pensa em ir atravessar o México”, arremata. Por causa do vínculo familiar, ele foi direto para “a rota”.
Ele conta que todo o “pacote turístico” custa em média US$ 12 mil (algo em torno de R$ 21 mil). O “passageiro” faz o pagamento a uma pessoa, no caso ele ou seu pai, e “garante” ônibus até São Paulo, avião até a capital mexicana – Cidade do México –, suborno para a polícia federal mexicana, hospedagem em hotéis modestos, transporte até uma cidade que faça fronteira e, finalmente, o encontro com o coyote, a pessoa que conduz o grupo até os Estados Unidos.
“Mas sempre recomendo levar um dinheiro a mais, separado na meia, na mochila e nos bolsos, porque a qualquer momento você pode ter que fazer um pagamento extra. Eu também sempre levo uma camisa do Brasil ou coisas do Brasil que eu possa dar de presente, trocar na hora de negociar com alguém”, conta.
A rede da corrupção se estende até o México, mas muda do outro lado da fronteira, destaca: “A conversa com os patrulheiros nos EUA é rígida. Eles nunca estão no jogo”, explica Duda, que chegou a morar quatro meses no México para atuar como o responsável pela “descida”, ou seja, receber os brasileiros que chegam à capital mexicana.
Miguel (nome fictício), 39 anos, é ipatinguense do bairro Esperança e está nos Estados Unidos há seis anos. Chegou pelo México. Uma viagem normal Brasil-EUA tem duração de 8h a 10h. A de Miguel durou quase quatro semanas, com direito a alguns dias andando pelo deserto do Arizona, um pé inchado e a quase desistência no meio da travessia.
Mas o pior ainda aconteceria. “Quando terminamos a travessia do deserto, chegamos a Huston. Depois de muito esperar um contato do coyote, que iria ao nosso encontro, recebemos dele um documento falso. Ao tentarmos passar, a polícia chegou e nos prendeu”, relatou.
Encaminhado para a cidade de Nebrasca, Miguel ficou quase cinco meses detido. Para sua sorte, uma irmã, que mora no Canadá, o ajudou com o pagamento de advogado e da fiança. Livre, teria que comparecer a uma corte de julgamento. Passou para a clandestinidade e nunca se apresentou.
Quando Miguel saiu do Vale do Aço já falava inglês e pensava em arrumar algum emprego de intérprete. Hoje, mora em Newark e trabalha como garçom em um restaurante. Diz ganhar bem, ser feliz, admite sentir saudades de casa, mas não sabe se quer voltar. “A gente cria laços de amizades e uma rotina. Gosto daqui”, finaliza.
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