
07 de setembro, de 2012 | 00:00
As histórias contadas sobre a Independência do Brasil
O palco histórico do 7 de setembro de 1822 pode ter sido muito menos significativo do que é celebrado pela nação
DA REDAÇÃO Relatam os livros didáticos que, em 7 de setembro de 1822, Dom Pedro I, então príncipe herdeiro do trono português, rompe com o seu país e proclama a independência da colônia mais rica de seu Império, o Brasil. O filho de Dom João VI estava num cavalo, segurando uma espada, todo arrumado e, de repente, ressoou a famosa frase independência ou morte”. Mas há controvérsias sobre o feito do príncipe regente, retratado na emblemática pintura de Pedro Américo. Historiadores, pesquisadores, jornalistas e interessados na história do país defendem a ideia de um momento menos representativo do que nos é narrado.Como tudo na história, há sempre diversas versões e descobertas que alteram o que se sabe até então sobre um fato. Várias publicações recentes contam a história do Brasil de uma maneira inusitada, divertida e até mesmo polêmica de como ocorreram os fatos, como é o caso das pesquisas do jornalista Leandro Narloch retratadas com humor no Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”, que popularizou o que já discordavam estudiosos quanto aos acontecimentos.
O mestre em História da Ciência e professor do Centro Universitário do Leste de Minas (Unileste), Breno Martins Zeferino, revela alguns pontos não tão gloriosos sobre o cenário do século XIX em torno da Proclamação da Independência do Brasil. Segundo conta, a emancipação política do Brasil, à época, por exemplo, não modificou características políticas, econômicas e sociais do país, permanecendo o mesmo contexto do período colonial - o trabalho escravo, a monocultura, o latifúndio e os privilégios da aristocracia.
Já a participação popular, por sua vez, não ocorreu em momento algum. Contrariamente ao que é ensinado há muito tempo, a maior parte da população brasileira estava alheia aos acontecimentos. Não obstante, a chegada da corte portuguesa ao Brasil, em 1808, já havia iniciado um processo de emancipação da ainda colônia. Em 1815, o Brasil foi elevado à condição de Reino Unido a Portugal e Algarves, o que já determinava uma nova condição para o país. Além disso, já ocorriam diversas revoltas contra o domínio de Portugal no Brasil, como a Inconfidência Mineira e a Conjuração Baiana.
A ideia de que a independência resolveu os problemas da nação, implantando no país em uma nova estrutura social vigente é produto de uma história positivista. Era preciso olhar para trás e ver o que tinha de mais heroico, para contar a história do país”, observa Breno.
Identidade
O historiador destaca que marcos históricos foram definidos ao longo da formação do país para se contar um passado positivo em face de uma história de heroísmos que a pátria não teve. A construção heroica de como se deu a Independência do país, expressada pelo quadro de Pedro Américo, é uma forma de colocar que tivemos um momento brilhante como, por exemplo, a tomada da bastilha na Revolução Francesa, ou como a petição dos direitos na Inglaterra, a declaração de independência dos Estados Unidos, ou ainda a Revolução Russa. Procurou-se incentivar esses mitos para construir uma identidade nacional”, revela.
Todavia, se a história registrada e contada é burocratizada, elitizada ou positivista, é ela o que nos identifica, defende Zeferino, em contrapartida. Foram marcos que viraram pontos chaves da nossa história, da nossa formação política e histórica”, reitera.
Ensino
Apesar de discussões historiográficas que vão muito além da independência do país, os livros didáticos apresentados à educação básica dificilmente serão modificados. Breno Zeferino acompanha e estuda as publicações produzidas para o ensino da história do Brasil. Os livros não abordam a desconstrução dos símbolos históricos. O que pode ser mudado é a forma de abordar o acontecimento, de forma mais política ou menos política. A história da Independência, contudo, assim como muitas outras, não irá mudar porque é um marco burocrático nosso, além de ser chave da formação política e histórica da formação da nação”, sentencia o historiador.
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