07 de outubro, de 2015 | 00:01
O 7 de Outubro que Ipatinga não esquece
Hoje se completam 52 anos em que a cidade que viria a ser uma das mais prósperas de MG ganhou uma página sombria em sua história
Nome de ginásio poliesportivo. Nome de escola. Título de documentários. Tema de monumento em praça pública e de um grafite na alça de acesso da avenida Pedro Linhares Gomes (BR-381) para a avenida Fernando de Noronha, entre os bairros Horto e Bom Retiro.
O 7 de outubro é bem mais do que um dia no calendário anual para muitos ipatinguenses. É o dia em que houve o episódio intitulado Massacre de Ipatinga, uma página sombria com muitas informações escondidas em entrelinhas censuradas e emudecidas pelos documentos desaparecidos com o tempo.
Esse fato ocorreu há exatos 52 anos, em 7 de outubro de 1963, e foi o ápice de uma crise que se arrastava por muitos meses. Forças policiais a serviço da Usiminas, à época administrada pela União, atiraram contra operários da empresa e de empreiteiras, concentrados em uma das portarias.
"A repressão aos trabalhadores constitui um dos episódios mais simbólicos das graves violações de direitos humanos de que os trabalhadores foram vítimas na história do país, numa conjugação de violações de liberdades civis e políticas e de liberdades socioeconômicas", afirma o relatório da Comissão Nacional da Verdade, movimento que buscou esclarecer fatos obscuros da época da ditatura militar no Brasil, embora o episódio ipatinguense tenha ocorrido um ano antes do golpe militar e, na opinião de muitos estudiosos do assunto, sem relação alguma com a tomada do poder pelos militares cerca de um ano depois.
De acordo com a pesquisa realizada pelo GT Ditadura e Repressão e pelo Fórum Memória e Verdade do Vale do Aço, os trabalhadores dos primórdios da Usiminas eram submetidos a condições salariais, de trabalho e de vida precárias e violadoras de qualquer concepção de justiça social. Para que a pauta reivindicatória e o comportamento dos trabalhadores não saíssem do controle da empresa, eles eram mantidos sob o controle de violenta vigilância privada e estatal.
A tragédia anunciou-se na véspera. Em 6 de outubro de 1963, após revista abusiva e prenúncio de conflito entre operários e vigilantes, policiais a serviço da vigilância da Usiminas realizaram uma ação violenta de espancamento e prisão de cerca de 300 operários do alojamento Chicago Bridge. Diante de tal violência, acirraram-se os ânimos dos operários, que decidiram não entrar na Usiminas no dia 07 de outubro e permaneceram em frente a um de seus portões, a fim de exigir melhor tratamento pela vigilância da empresa e pela PM.
Diferentes estimativas indicam que de dois a cinco mil trabalhadores estavam postados à frente da empresa, onde foram encurralados por uma cerca e um caminhão com 19 policiais militares armados, que portavam uma metralhadora.
A inabilidade da empresa e das forças de segurança privadas e estatais em lidar com a revolta operária após uma noite de espancamento e prisões arbitrárias resultou em um tiroteio com oito mortos e 79 feridos, segundo os dados oficiais. Estes números são muito controversos e estimativas alternativas apontam para cerca de 30 mortos.
Lista oficial de mortos em 7/10/1963
- Aides Dias de Carvalho
- Alvino Ferreira Felipe
- Antônio José Reis
- Geraldo da Rocha Gualberto
- Gilson Miranda
- José Isabel do Nascimento
- Sebastião Tomé de Souza
- Eliana Martins (criança de três meses atingida no colo da mãe, que passava pelo local do confronto para visitar o marido, internado em Coronel Fabriciano)
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