06 de junho, de 2017 | 12:53

A Duplicação da BR-381

Sérgio Orlando Pires de Carvalho

Divulgação
A duplicação da BR-381, que liga Belo Horizonte a Governador Valadares, no Vale do Rio Doce, é a principal obra de infraestrutura e logística em Minas Gerais no momento. Amargamente, tem sido uma novela que se arrasta desde 2014, a qual tem prejudicado motoristas e usuários que transitam pela estrada, além da população das cidades que margeiam a rodovia.

A previsão inicial da obra era de que as primeiras etapas seriam entregues aos motoristas em 2016, o que, de fato, não ocorreu. A duplicação abrange 303 km de extensão, e não é considerada grande. Porém, é preciso levar em conta a complexidade de execução da obra, dado o elevado grau de desnível da região, com muitas montanhas e pedreiras a serem vencidas.

Com licitação prevista para oito lotes de execução, a obra caminha dentro das possibilidades orçamentárias governamentais e do processo de burocracia já conhecidos no Brasil. Concluídos mesmo estão os túneis do Rio Piracicaba e os de Antônio Dias e Prainha.

Por outro lado, enquanto as obras não avançam satisfatoriamente, os acidentes trágicos continuam acontecendo. Defasada no tempo, a BR-381 tem características obscuras, como pistas simples sem divisão física entre as direções opostas, asfalto precário em longos trechos, ausência de acostamento em boa parte a estrada e sinalização deficitária, tendo ainda a enorme quantidade de curvas como outra armadilha enfrentada por motoristas e passageiros.

Apenas nos 110 quilômetros entre a capital mineira e João Monlevade, na região central da estrada, há cerca de 200 curvas, de acordo com a PRF.

Outra dificuldade importante no andamento da rodovia é a fraca mobilização política da chamada “bancada mineira” no empenho constante em Brasília para exigir dotações orçamentárias que deem suporte à conclusão da rodovia. É preciso, portanto, uma articulação mais intensa entre a mencionada “bancada mineira” e o Ministério dos Transportes.

Além disso, é preciso que a obra tenha uma constância de atividades para não gerar desperdício, pois obras paralisadas e inacabadas são as que mais prejuízos causam aos cofres públicos, que, por sua vez, recaem nos impostos pagos pelos brasileiros.

Considerando o conceito econômico do “efeito multiplicador”, que corresponde a um incremento de recursos através de um investimento, seja em uma obra de infraestrutura de grande porte ou outra qualquer, o qual nos diz que o investimento dado pode gerar um incremento maior que o recurso injetado inicialmente.

Simplificadamente, podemos dizer que a cada R$ 1 investido na duplicação da rodovia, R$ 3 deverão ser gerados no entorno da obra, portanto, no centro-leste do estado. Como a obra está orçada em R$ 4 bilhões, seu efeito multiplicador se dará a R$ 12 bilhões, o que poderá alavancar os negócios e a economia da região como um todo.

A obra em si já traz números interessantes, como a contratação de 5.729 empregados; utilização de 1.220 máquinas e a terraplenagem de 48,2 milhões de metros quadrados de área para ampliação de pistas, além de consumo de 14 milhões de refeições, segundo a FIEMG (Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais).

Em números, a Nova 381 registra mais de R$ 4 bilhões em investimentos; mais de 205 Km de pistas duplicadas; 64 obras de arte especiais, como 17 pontes e 47 viadutos; 5 túneis com 2.385 metros de extensão; 20 passarelas; 99 paradas de ônibus e mais de 83.300 metros de defensas metálicas (dispositivo ou sistema de proteção contínua da estrada).

Outro aspecto interessante é a posição geográfica central de Minas Gerais; ponto de acesso, ligação e escoamento da produção proveniente do sul e sudeste para abastecer o norte e o nordeste do país, o que coloca o estado como centro de integração na economia nacional, especialmente entre as regiões Sul e Sudeste e as regiões Norte e Nordeste.

Neste cenário, a rodovia é um dos elos de importância do desenvolvimento socioeconômico de Minas Gerais, direcionando um novo caminho que liga Minas Gerais e o Leste de Minas ao Norte o país.

Analogamente a isso, cabe aos setores públicos constituídos no entorno da rodovia a disposição de aproveitar essa injeção de recursos na região para dotar seus municípios de uma boa infraestrutura de educação; saúde; turismo e do setor de serviços; vislumbrando o desenvolvimento de projetos conjuntos para atração de empresas para compor o cinturão da rodovia.

Como inspiração eu lembraria projetos ligados ao aço; computação e afins; a instalação do CEASA e de um porto seco na região; a qualificação da mão de obra local; a criação de “corredores industriais” com investimento na qualificação profissional e incremento de escolas técnicas locais; a dinamização do setor de serviços; a criação e desenvolvimento de um polo de excelência médico-hospitalar; o setor de bioenergia; de energia solar.

E mais: o fortalecimento da educação e saúde como centros de excelência; o fortalecimento da indústria metal mecânica e de componentes automobilísticos; a atração de centros de distribuição; a implantação de um parque tecnológico; a dinamização do turismo de negócios; a implantação de condomínios industriais para empresas de médio porte; e o desenvolvimento de referência em educação e comércio.

Por fim, as cidades precisam se tornar reconhecidas pela variedade de serviços públicos oferecidos, principalmente, através da Internet como abertura de empresas em plataformas on-line, etc.

* Economista, MBA Executivo em Gestão Empresarial, PG em Administração de Empresas e Organizações, PG em Metodologia do Ensino Superior, Consultor Econômico-Financeiro e autor dos Livros “Economia & Administração” e “Guilhermina de Jesus e a Família Brasileira”. E-Mail: [email protected]. Blog: http://zaibatsum.blogspot.com.
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