23 de junho, de 2017 | 16:47

Moradores da Ilha do Rio Doce cobram indenização da Samarco

A intenção era bloquear a EFVM, mas devido o policiamento ostensivo, os manifestantes foram impedidos

Fernando Lopes

Wôlmer Ezequiel
Policiais Militares impediram aproximação dos manifestantes da linha férreaPoliciais Militares impediram aproximação dos manifestantes da linha férrea
Um grupo de moradores do bairro Ilha do Rio Doce, pertencente ao município de Caratinga, realizou uma manifestação às margens da Estrada de Ferro Vitória Minas (EFVM) no cruzamento de nível com a via que dá acesso ao Aeroporto Regional do Vale do Aço. O manifesto, no início da tarde desta sexta-feira (23), durou cerca de uma hora.

Os moradores reclamam da morosidade do processo indenizatório em relação aos prejuízos causados após a catástrofe ambiental na área da Samarco/Vale/BHP, em Mariana em novembro de 2015. O bairro fica às margens do rio Doce na divisa de Caratinga com o município de Santan do Paraíso. A comunidade alega que além de prejudicar a pesca, que complementava a renda de muitas famílias, a água dos poços artesianos está contaminada com metais pesados.

Devido ao forte policiamento na área, os moradores não conseguiram realizar o bloqueio da linha férrea, na passagem de nível. A manifestação aglomerou cerca de 20 pessoas. Oito homens da Polícia Militar, de posse de armas não letais (bala de borracha), cacetes e spray de pimenta garantiram a continuidade do tráfego ferroviário.

Coceiras

Angélica Guilhermina Cezária de Oliveira, conta que trabalhava no Areal Rio Doce, mas está desempregada há dois anos. “Perdi meu emprego, sem direito a seguro desemprego e FGTS. Além disso, tem os perigos de saúde gerados pela poluição do rio, principalmente sobre as crianças”, revela.
Wôlmer Ezequiel
Desempregada há dois anos, Angélica pede que Samarco dê soluções aos problemas dos moradoresDesempregada há dois anos, Angélica pede que Samarco dê soluções aos problemas dos moradores


Segundo a moradora, teste realizado pela Samarco no poço artesiano de sua residência, indicou a presença de chumbo e mercúrio na água, o que acarreta doenças de pele e disfunções no aparelho digestivo. “A água está muito pesada, com um sabor horrível e não temos condições de comprar água mineral. As crianças estão com coceiras pelo corpo todo, tem gente que dá diarreia. Daqui um tempo essa água pode até causar em um câncer nestas crianças que acabaram de nascer”, destaca.

Demora

Os manifestantes acreditam que as empresas responsáveis não dão respostas satisfatórias e que não há respeito aos atingidos. O morador da Ilha do Rio Doce, Noé Martins da Silva afirma que equipe da Fundação Renova, entidade autônoma que está à frente das ações de reparação da tragédia, já esteve no bairro por três vezes, mas não foram apresentadas soluções.
Wôlmer Ezequiel
Os moradores reclamam da morosidade do processo indenizatório em relação aos prejuízos causados após a catástrofe ambiental na área da Samarco/Vale/BHPOs moradores reclamam da morosidade do processo indenizatório em relação aos prejuízos causados após a catástrofe ambiental na área da Samarco/Vale/BHP


“Mesmo com a análise de água, a Samarco só fala que irá tomar providências, mas elas nunca são tomadas. Queremos os nossos direitos, estamos cansados de esperar”, ressalta Noé.

Seca

A moradora Márcia Rosa Souza informa que em sua residência possui dois poços artesianos, ambos desativados e a família está na seca. “Não tem condições de consumir aquela água, até as bombas e canos estão sendo corroídos pelos resíduos que vêm nela”, conta. Já o morador Irineu Luiz dos Santos afirma que utilizava a pesca como fonte de renda complementar e que hoje não possui mais esta alternativa. “A pesca ajudava a pagar as contas do mês. A equipe da Fundação Renova não fez nada, de mais ou menos 550 moradores que o bairro tem, apenas sete foram cadastrados”, relata.

A empresa

Em nota enviada ao DIÁRIO DO AÇO, a Fundação Renova afirma que "somente neste ano de 2017, cinco reuniões foram realizadas com lideranças e representantes da Ilha do Rio Doce, em Caratinga. O objetivo das reuniões é esclarecer dúvidas e fornecer informações sobre o cadastro integrado e o Programa de Indenização Mediada (PIM)".

A entidade ainda declara que "especificamente na Ilha do Rio Doce, a Fundação começou em maio os atendimentos do PIM por danos gerais, que é destinado a pessoas e micro e pequenas empresas que tenham sofrido perdas materiais referentes às suas atividades econômicas, em consequência do rompimento da barragem. Esse é o caso de pescadores, agricultores e comerciantes, por exemplo. Os atendimentos acontecem em um escritório em Ipatinga, no Vale do Aço".

"Primeiramente foi feito o cadastro emergencial, logo após o rompimento da barragem de Fundão. Para levantar informações sociais e econômicas detalhadas de todos os impactados, a Fundação realizou um cadastro integrado. A partir desses dados, estão sendo definidas ações de reparação e integração das pessoas aos programas previstos pela Fundação. Também por meio do cadastro, as equipes da Renova estão entrando em contato com os moradores para atendimento de indenização", completa a Fundação.

Questionada sobre a qualidade da água a Fundação informa que "desde o rompimento da barragem, foi iniciado o monitoramento da qualidade da água e sedimentos em 115 pontos distribuídos ao longo dos rios impactados, afluentes e zona costeira. Em julho de 2017 será iniciado um novo programa de monitoramento desenvolvido pela Fundação Renova, em conjunto com órgãos ambientais e agências de água, que será executado nos próximos 10 anos. Esse programa prevê o monitoramento da qualidade de água e sedimentos em 93 pontos de amostragem e 22 estações de monitoramento automático na bacia do Rio Doce e praias próximas à foz do Rio Doce".


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