20 de julho, de 2017 | 10:45
Franquias: cuidar para não multiplicar problemas ambientais e sociais
Marcus Nakagawa
O título pode ser chamativo ou exagerado, porém, é um alerta para as questões do desenvolvimento sustentável atreladas a este tipo de modelo de negócio: o franchising. Principalmente porque, nestes últimos dias, muitos colegas, clientes e amigos estiveram comentando intensamente, postando fotos nas suas redes sociais e fazendo negócios na maior feira de franquias da América Latina.Segundo a Associação Brasileira de Franquias (ABF), nos quatro dias do evento em 2017 a feira reuniu 65 mil visitantes e 400 negócios do país e do exterior. Isto só reforça o importante movimento de crescimento do setor, que, segundo a própria ABF, mostra que no primeiro trimestre o segmento cresceu 9,4%, em época de saída da recessão econômica.
Escutei muitas histórias de colegas e alunos que perderam o emprego e a solução foi investir o fundo de garantia de anos em um negócio, e nada melhor do que empreender numa marca já consolidada, com modelo financeiro montado e processos bem definidos. Ou ainda, tiveram uma ideia, começaram desenvolvendo um negócio, depois, para poderem crescer, resolveram ser franqueadores e multiplicar o seu negócio.
Sim, franquia é um modelo que pode ser muito rentável e vitorioso, seja como franqueado ou franqueador, se gerido, obviamente, com muito cuidado e dedicação, sem esquecer que sempre haverá impactos sociais e ambientais negativos.
A ABF tem feito um movimento para promover a sustentabilidade nos negócios de franquias, inclusive, nesta última feira, para incentivar ainda mais, realizaram novamente o Prêmio ABF Estande Sustentável, que está na 7ª edição, além de promoverem outros prêmios de sustentabilidade ao longo do ano.
O Sebrae é uma outra fonte de conhecimento para micro e pequenas empresas que pensem nos seus impactos sociais e ambientais, principalmente dentro do modelo de franquia, que pode ser um ótimo disseminador destas boas práticas. No site do Centro Sebrae de Sustentabilidade existem diversos modelos de negócios mais sustentáveis, práticas e cartilhas para o dia a dia, como o pensamento no ciclo de vida do produto, gestão de resíduos, água e energia, entre outros.
Fico abismado quando imagino uma empresa de alimentos que está crescendo vertiginosamente no mercado com formato de franquia e que em seu famoso manual não exista nenhuma observação referente à gestão dos resíduos, sejam eles orgânicos, compostáveis ou recicláveis.
Em pleno movimento de implantação da Política Nacional de Resíduos Sólidos no país, uma empresa que tem o poder de multiplicar boas práticas, não importa o local onde vá, não tem uma linha sobre o tema. Isso sem falar na questão energética e hídrica, quando vários estados estão com estes problemas, entre tantos outros temas das questões ambientais.
Outro ponto é a questão social em que algumas franquias se desenvolvem vertiginosamente, mas poderiam ir além das normas e regras da CLT. Puxa, será que estou sendo ingênuo ou sonhador demais? Poderia, sim, trabalhar com questões de desenvolvimento pessoal, empreendedorismo, liderança, relacionamento pessoal, entre outras temáticas.
Afinal, se franqueado e franqueador investirem nisso, talvez, realmente, o negócio cresça, seja perene e não somente um local com alto turnover para iniciantes laborais. Além disso, não podemos esquecer do poder multiplicador de influenciar fornecedores e distribuidores com as boas práticas do real desenvolvimento sustentável.
Não posso deixar de colocar aqueles negócios que já nascem com esta vertente, como as empresas que inserem os orgânicos e a alimentação saudável, franquias que lavam carro quase sem água, negócios sociais que ajudam pessoas, entre outras.
Pensar somente em crescer e multiplicar produz um organismo desagradável que se espalha pelo planeta e aniquila outras espécies. Espero que o segmento de franchising entenda o poder que possui de replicar processos, negócios, marcas, produtos e serviços, e que use este “poder especial” de multiplicação para melhorar e mitigar os impactos sociais e ambientais que todo negócio possui. E talvez, quem sabe, eliminá-los e ser um organismo de regeneração.
* Professor da ESPM; sócio-diretor da iSetor; palestrante sobre sustentabilidade, empreendedorismo e estilo de vida.
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