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14 de dezembro, de 2018 | 14:00

Drogas: e a família?

Glaucilene Campos Godinho *

A família está tão envolvida na droga assim como o dependente, o primeiro comportamento observado na família codependente é a negação”

É possível perceber uma luta incansável contra a doença chamada dependência química, um investimento alto de dinheiro, tempo, terapias, em alguns, casos acompanhamento médico e outros na busca da recuperação do dependente químico. A dependência química é uma doença reconhecida pela Organização Mundial da Saúde (1950) e hoje se tornou um caso de saúde pública. O que pouco se sabe e se fala é o diagnóstico da codependência familiar. A codependência é um termo antigo, mas em construção na área das terapias psicológicas.

De acordo com Romina Miranda (2015), o termo foi utilizado pela primeira vez em 1940 nos Estados Unidos, pelas esposas de Bill e Bob, fundadores dos Alcoólicos Anônimos. Elas perceberam que também compartilhavam dos mesmos comportamentos frente ao vício de seus maridos e conseguiam se posicionar de maneira diferente quando trocavam experiências, dessa forma fundaram o Alanon, grupo destinado para apoiar e receber os familiares e amigos de alcoólatras. Em 1970 o termo volta a ser usado na área da terapia psicológica para designar os familiares de dependentes químicos. Entende se como codependente todo aquele que está envolvido numa trama de situações, relacionamento e família disfuncional que abre mão de sua vida, do seu “eu”, em muitos momentos de forma consciente e inconsciente.

Para a Psicóloga Maria Aparecida Zampieri, a codependência pode ser definida como uma condição emocional, psicológica e comportamental, como um padrão relacional. A família está tão envolvida na droga assim como o dependente, o primeiro comportamento observado na família codependente é a negação, mesmo havendo indícios a família nega, essa é uma forma de se proteger da dor de encarar que o seu familiar está fazendo uso de drogas, negando, tudo se mantém da mesma forma, doentia, mas da forma que ela consegue lidar, sem crises e sem grandes tomadas de atitudes para as quais ela não está preparada.

Quando aceita a situação, se faz necessário sentir parte do processo e assumir algumas mudanças de comportamento, rever conceitos, histórias, avaliar a dinâmica familiar e partir rumo a mudanças. Após a aceitação, a família sem saber agir de forma adequada, acredita que controlando excessivamente pode reverter o quadro de drogadição do sujeito. Vale ressaltar à medida que a família fica obcecada em controlar a vida do outro, ela deixa de lado o controle de sua própria vida e se afasta cada vez mais de si. Outro sentimento presente nesse processo é a culpa, que levanta questionamentos como, “onde foi que eu errei’?

A culpa paralisa, pois remete ao passado, a verdade é que ninguém tem culpa nas escolhas erradas que o outro faz, interessante é a responsabilidade que movimenta, envolve na busca de uma solução, de ajuda e de mudança. É possível perceber características semelhantes nas famílias codependentes; privar o dependente de responsabilidades sobre seus atos e escolhas, falta de limites, dificuldade de dizer não, necessidade de agradar sempre e ser aceito, dificuldade de discutir problemas e dinâmica familiar disfuncional. Essa situação gera uma condição emocional, tal como, necessidade de ser útil, presente, estima comprometida ou baixa, vazio, autopiedade, perda da identidade, falta de projetos de vida, medo, angustia, vergonha, solidão e desespero.

Se estamos falando de “condição emocional”, vale ressaltar que temos dentro de nós ferramentas e recursos para modificá-la, para usar tais ferramentas, precisamos de conhecê-la, ou seja nos conhecer. Importante lembrar, para iniciar essa jornada, precisamos nos desligar do outro, voltar nosso olhar para nós mesmos, no futuro, na possibilidade de ser e fazer diferente na construção de uma vida saudável, equilibrada e feliz. Vale a pena refletir na máxima, “O mundo muda quando eu mudo", o quanto você está disposto a mudar?


* Psicóloga da Comunidade Terapêutica Fazenda Água Viva
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