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04 de agosto, de 2019 | 12:00

Um coração que bate no lado direito

Em condição rara, Aquinel Lima tem o coração do lado direito do peito

Wôlmer Ezequiel
O simpático aposentado relata como tem sido sua vida: normal e sem sustos, a não ser por um acidente de trânsito O simpático aposentado relata como tem sido sua vida: normal e sem sustos, a não ser por um acidente de trânsito

“Amigo é coisa pra se guardar, no lado esquerdo do peito”. Os famosos versos interpretados por Milton Nascimento, em Canção da América, tocam o coração. Mas no caso de Aquinel de Souza Lima, a emoção vem do lado direito. O aposentado de 74 anos vive com uma condição rara, a dextrocardia. Hoje em dia ele divide seu tempo entre o Córrego da Fumaça, em Itanhomi e Brighton, em Massachusetts, nos Estados Unidos e afirma: nunca conheceu alguém como ele.

Conforme explica o médico cardiologista do Hospital Márcio Cunha, Felipe Machado Milagres, a dextrocardia é uma anomalia congênita, que ocorre desde o nascimento. Nela, o coração se encontra posicionado do lado direito do tórax, em vez do lado esquerdo, que é o posicionamento normal do coração. É considerada uma patologia rara, ocorrendo em cerca de dois indivíduos a cada 100 mil nascimentos.

“A dextrocardia está frequentemente associada com outros ‘defeitos’ cardíacos, assim como em outros órgãos do corpo. Então, é muito importante que a pessoa que tenha esse problema passe por uma avaliação médica especializada, geralmente um cardiologista ou, quando diagnosticada durante a infância, por um médico cardiopediatra. Pois o diagnóstico precoce, principalmente nos primeiros anos de vida, é fundamental para que o tratamento seja implementado adequadamente, permitindo que a pessoa tenha uma vida praticamente normal, em muitos casos”, pontua. A frequência e a necessidade de um acompanhamento médico durante a vida dependem de cada caso. Em geral, o seguimento cardiológico é indicado.

Aquinel conta que sua condição foi descoberta quando ele tinha apenas sete anos de vida. “Tive uma espécie de pneumonia e, na ocasião, minha mãe pensou que o meu coração tinha parado, me levaram às pressas para o hospital que ficava na cidade, a 13 quilômetros de distância. Fui a cavalo, pensaram que eu estava morto. Chegando lá, foi constatado que meu coração estava no lado direito. Por causa disso, fui levado para o Rio de Janeiro para ser estudado. Mas não quis esmiuçar isso. Fiquei dos sete aos 18 anos sem ver um médico, por medo. Pouco depois, no mesmo ano, já em Belo Horizonte, me internei e diversos exames foram feitos. Recebi um convite de um jornalista da Globo, dei entrevista para muitas pessoas, fui até no programa Chacrinha”, recorda.

O aposentado, que já viajou para vários países, nunca encontrou alguém, vivo, que fosse como ele. “Em New Jersey (Nova Jersey, nos Estados Unidos) tinha um menino português, mas quando cheguei por lá, tinha morrido. Na Colômbia também não encontrei ninguém. Até hoje, não vi ninguém com a mesma condição. Mas vivo bem, com saúde. O único porém foi um acidente, nos Estados Unidos, quando fui atropelado ao sair da igreja. Um carro me acertou e caí no chão. Fiquei em coma por 18 dias. No momento do socorro, os bombeiros tentaram me reanimar fazendo massagem cardíaca no lado convencional, o esquerdo, foi quando uma conhecida da igreja informou a eles que meu coração era do outro lado. Os bombeiros ficaram espantados e só acreditaram quando meu corpo começou a reagir com a massagem feita do lado direito”, conta.

Aquinel circula pelos Vales do Aço, Rio Doce e Estados Unidos, desde 1985. “Isso desde a morte do Tancredo Neves, ex-presidente. Quando saí de Ipatinga ainda tinha muito mato. Em minhas andanças por aí, todos estranham eu ter dextrocardia, porque é uma condição muito rara. Hoje ne, percebo e só descobrimos porque, na filosofia da minha mãe, meu coração tinha parado. Mas não temos outro caso na família e nenhum amigo. Passei muitos anos pesquisando em diversos países, mas não achei. Já participei de encontros, pesquisei na biblioteca de Boston e nunca encontrei”, acrescenta.

Milton Nascimento
Certa vez, o dextrocardíaco avistou Milton Nascimento, um dos autores de Canção da América, numa rua, nos Estados Unidos e tentou puxar assunto. “Mas ele passou muito rápido, não consegui conversar com ele. Queria dizer isso, que o que para ele é lado esquerdo, para mim é diferente, mas tudo tem o mesmo sentimento”, brinca. O senhor Aquinel tem familiares em Minas Gerais e em Brighton. Por aqui, ele aposentou-se como professor do ensino fundamental.

“Atualmente, o que tenho feito é tentado encontrar pessoas novas, que possuem a mesma condição que eu, para saber como enfrentam a vida. É uma condição e um problema, porque não sabe se vai acordar no dia seguinte. Descobri que o coração faz funcionar toda a ‘máquina’, qualquer coisa que o afete, representa o fim de tudo. Qualquer falha ou anomalia representa um risco para a vida. Mas só uma escola no mundo estudou algo sobre, lá na Itália, mas não avançou por falta de recursos. Também não se vê muitos livros sobre”, observa.

Apesar da curiosa condição, a vida, até agora, foi generosa com Aquinel. “Sempre vejo a vida com bons olhos e do lado direito (risos). Já escrevi dois livros e mais três estão sendo produzidos. Em um trecho especifico eu aponto: ‘A vida não é um mar de rosas e nem um oceano de espinhos. A vida é uma arte, onde o artista é o homem, o palco é o mundo e ela só é dura pra quem é mole’. É uma mistura que precisa muita filosofia para entender. A vida tem coisas boas. E só torna duro pra quem não tem coragem”, conclui. (Repórter - Bruna Lage)


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Comentários

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Micheli Porto

26 de junho, 2024 | 23:10

“Tenho dextrocardia e sigo minha vida normal, estou com 37 anos de idade e tenho uma filha linda de 8 anos.”

Magno Matos Almeida

26 de maio, 2024 | 20:44

“Eu tenho coração voltado para o lado direito, tenho dextrocardia”

Gustavo Dias

05 de agosto, 2019 | 09:29

“Minha mãe tem isso, quando ela vai fazer eletrocardiograma, por exemplo, se colocarem os eletrodos para o lado mais a esquerda não pega nada, tem que colocar para a direta. Coincidência ou não, a origem da família da minha mãe é de região próxima (Tarumirim).”

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