11 de dezembro, de 2020 | 13:38
Eleições 2020: A outra face do eleitor
Leandro Rico Moyano *
Cai a tese que o cidadão será compreensível e tolerante junto aos próximos mandatários, que utilizarão o argumento que o primeiro ano de governo serve para arrumar a casa. Não existe mais esse intervalo”Ganhamos a eleição! Candidato eleito e equipe de campanha emergem na alegria retumbante com a sensação de dever cumprido. A partir do dia 15 de novembro até o dia da posse, os vitoriosos exaltarão lembranças de várias passagens ocorridas durante o pleito eleitoral. São momentos que de fato surgem um grande elo de amizade e confiança entre si.
Toda essa comemoração pós-campanha são idênticas a cada eleição. O que vem mudando de verdade de forma oculta e silenciosa a cada pleito é a animosidade dos eleitores, que estão mais experientes, maduros e dessa vez mais pragmáticos.
A eleição municipal deste ano apresentou uma nova face do eleitor, que aprendeu a identificar e principalmente a expurgar as falsas crenças ideológicas e atitudes circenses dos políticos, que definitivamente não enganam mais. O eleitor de 2020 passou a avaliar os efeitos práticos dos mandatos e de suas propostas, resultando no fim das contas a decisão em reeleger, eleger ou derrotar o candidato.
A linha divisória dessa mudança comportamental dos eleitores que surgiu nessa eleição, vêm maturando desde 2013 no protesto Fora Dilma”, cujo estopim foi a ineficiência governamental dos transportes públicos em detrimento da farra do dinheiro público na construção dos estádios e preparativos para a Copa do Mundo de 2014. Foi o período que o PT, no auge de sua funesta ambição pelo poder enxergou na Copa, juntamente com os programas do Bolsa Família e do petróleo do pré-sal, a coroação da era petista no comando do país, garantindo assim a sua prorrogação.
Na ocasião, quem imaginaria que a Copas das Copas”, slogan usado por Dilma Rousseff, seria o pavio da execração do PT, cujo partido encolheu pela 2ª eleição seguida, passando de 630 prefeitos eleitos em 2012 para 254 em 2016 e 178 prefeitos eleitos em 2020.
O aprendizado do eleitor até chegar ao pragmatismo explícito de hoje ficou registrado na linha do tempo, ao vivenciar campanhas eleitorais com temas ideológicos encantadores, tais como: nós contra eles; lava-jato; político profissional; anti-sistema político, corrupção sistêmica, entre outras narrativas com cunhos verdadeiras e outros oportunistas. Na contramão das bravatas ideológicas, surge no mesmo ano das eleições municipais de 2020 a famigerada covid-19, obrigando o eleitor ao pensamento pragmático do voto diante das ações anti-covid realizadas pelos atuais gestores que disputaram a reeleição.
A eleição na região do Vale do Aço serve como exemplo. Basta comparar as atuações dos quatros prefeitos articuladas diante do pico da crise da covid, bem como os diferentes posicionamentos, com características que vão da inércia ao hashtags, do prudente ao assertivo. Ipatinga e Santana do Paraíso os prefeitos recém eleitos foram novos candidatos, mas não podem ser considerados o Novo” como foi na eleição de 2018, cuja preferência do eleitor na ocasião foram os candidatos denominados de outsiders, que representavam o fim da corrupção sistêmica desvendadas pela lava-jato. Esses novos prefeitos que foram eleitos em Ipatinga e Santana do Paraíso, se deve muito mais à miopia dos prefeitos derrotados, que atuaram tanto durante o mandato, quanto em campanha, totalmente desconectados com os valores da maioria do eleitorado, validando a máxima do marketing eleitoral: Ganha a eleição quem erra menos.
Da mesma forma a votação maciça dos prefeitos reeleitos de Timóteo e Coronel Fabriciano, que tiveram posicionamento singular frente a pandemia da covid, mas ambos conectados com os análises pragmáticas de seus eleitores. Também serve de exemplo a vitória acachapante do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, que quebrou todas as regras do populismo eleitoral para ser resolutivo em suas ações anti-covid, utilizando a frase doa a quem doer”.
E para o desconforto dos prefeitos eleitos, a pauta pragmática continuará crescente desde o primeiro dia de 2021. Assim, de imediato cai a tese que o cidadão será compreensível e tolerante junto aos próximos mandatários, que utilizarão o argumento que o primeiro ano de governo serve para arrumar a casa. Não existe mais esse intervalo!
Os prefeitos eleitos e reeleitos diante dessa nova fase do agora cidadão pragmático, terá que dar respostas logo nos primeiros 100 dias de governo para o alívio respiratório dos mesmos. Se por ventura, diante da prevista crise econômica em 2021, não for possível concretizar políticas públicas de saúde logo nos primeiros seis meses de mandato, demanda nacional em todas as cidades da Federação, o gestor vai evitar sair de casa para não ter que encontrar o seu eleitor. Se o encontro for inevitável, terá que deletar do vocabulário a velha retórica que o município está quebrado e não tem como fazer nada. Neste caso será mais nobre pedir para sair - entregar a chave da prefeitura, literalmente.
Há tempos a gestão na qual prefeitos passavam os quatros anos lutando para manter a coleta de lixo, salários dos servidores em dia, remédios nos postos de saúde, merenda escolar, entre outras iniciativas, deixaram de ser elogiáveis pelo cidadão. O gestor, para atender essa nova fase do pragmatismo, terá que produzir políticas públicas inovadoras, modernas e acessíveis.
Como toda hipótese precisa de tempo para a sua comprovação será necessário aguardar a eleição de 2022 para averiguar se os candidatos que surgiram como outsiders na eleição de 2018, serão reprovados ou não pelo eleitor. E de nada adiantará os rompantes debates, delirantes ou radicalizado, se não houver nada de concreto para apresentar, tanto como pessoa, quanto como gestor. E, se de fato o pragmatismo é a nova ordem política, será na eleição de 2024, onde os candidatos à reeleição para prefeitos terão a resposta clássica, que nunca é respondida a contento após a derrota: Onde foi que eu errei?”.
* Especialista em Administração, Marketing, Comunicação e Gestão Pública pela Escola de Contas do TCEMG. Consultor para a formação de Consórcios Públicos Intermunicipal Multifinalitário, Estudo de Mercado e Inteligência da Informação
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Tião Aranha
11 de dezembro, 2020 | 17:25? preciso ter mais cobrança e maior transparência nos serviços públicos. A verdadeira Sabedoria nos ensina que a felicidade não está nas riquezas ou no bem-estar, nem na glória humana ou no poder, nem em qualquer obra humana, por mais útil que seja, como as ciências, a técnica e as artes, nem em outra criatura qualquer, mas apenas em Deus, fonte de todo bem e de todo amor.”