15 de fevereiro, de 2022 | 14:02
A busca...
Nena de Castro *
Saiu de casa assoviando. Seguia devagar olhando tudo e nada vendo pois seus olhos do espírito estavam ligados e enxergavam o interior de sua alma. Assentiu com a cabeça ao ver a saudação de seu anjo-guia. Pensou que devia ter trazido o guarda-chuva, a qualquer hora podia desabar uma chuva de verão, encharcando a terra... O cheiro das rosas cultivadas pela mulher, sempre vestida de luto, chegaram-lhe às narinas e se conectaram às belezas que vislumbrava dentro de si. Rosas, pensou: rosas amarelas, rosas cor-de-rosa ou rubras como o sangue, oráculos da beleza e paz. Entretanto, sabia de sua missão e como urgia cumprir seu dever.Caminhou nas estradas floridas de seu mundo interno, as folhas rebrilhavam ao sol, havia murmúrio de pássaros, cricrilar de grilos, cigarras ensurdecendo a todos com seu chamado amoroso e centenas de insetos dourados pelo sol, voando em círculos dourados. Então, com o olho interior, avistou o Vento Leste que soprava, brincando de fazer redemoinhos, levantando pó, folhas e galhos e deixando-os cair, numa brincadeira infinda.
Entrou nos círculos sagrados dos pinheirais e fez uma prece, pedindo força e sabedoria para sua jornada, que não desistisse, que buscasse sempre, que a esperança fosse guia e luz.
-Onde está? perguntou. E o vento lhe respondeu que não sabia, mas que ia inquirir de seu irmão, o Vento Norte, ele com certeza saberia.
Mas o poderoso Vento Norte declarou que não dispunha da informação, talvez o irmão do Sul soubesse informar. Que ele desculpasse a pressa, suas tarefas o aguardavam, pouco podia conversar. E partiu.
Qual o quê, o Vento Sul, apressado, disse desconhecer o paradeiro do que ele queria, mas quem sabe o vento Noturno dava notícia?
Por sua vez, o Vento Noturno o aconselhou a procurar a Lua. E saiu, levando a brisa fresca da noite aos montes e serras e vales silentes.
Então ele perguntou: Lua, você anda brilhando por toda parte, nos campos e nos bosques e deve saber. Onde está?
Usando um raio mensageiro, a Lua lhe falou: - Não sei dizer, ilumino a noite, encanto corações apaixonados, inspiro poetas, cuido das marés, vejo muitas coisas mas não tenho notícia do que procura. Pergunte ao sol.
-O sol com certeza não sabe, pois o que busco está encantado e não suporta a luz do astro-rei. Continuarei a procura. Agradeço-lhe.
E voltou a caminhar, fechando os olhos do espírito, retomando o caminho, agora consciente do que se passava a seu redor. Carros e bicicletas disputavam o espaço das ruas, crianças entravam para uma escola, pessoas passeavam com seus cães...
Atravessou a ponte cinzenta, tirou do bolso os farelos de pão que levava no bolso e atirou-os aos peixinhos que saltaram em festa, abocanhando o alimento. Ouviu o canto da água que lhe perguntou se havia sido bem-sucedido.
Respondeu que não, mas que ela aguardasse, pois ele havia de encontrar a Pomba da Paz, desencantá-la e trazê-la novamente ao mundo dos homens. E tudo seria diferente...
* Escritora e encantadora de histórias
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Tião Aranha
15 de fevereiro, 2022 | 16:31Tá muito difícil essa pomba da paz voltar para o chão. Tem mais é que continuar voando, mesmo sabendo que o céu não é o limite do homem. Risos.”