12 de abril, de 2022 | 13:48

As pererecas das velhinhas

Nena de Castro *

Logo após a curva do povoado, havia uma pequena casinha pintada de azul. Na entrada, num pequeno jardim, tinha sido plantados pés de malva, pés de beijo branco e roxo, açucenas e margaridas. À direita, um pé de brinco-de-princesa enfeitava o local e, rente à parede, tinha uma roseira daquelas que davam cachos de rosa branca de intenso perfume, que serviam até para fazer remédio. Não havia no jardim nem uma folha caída, porque Rinovara, filha de dona Mocinha, varria o quintal duas vezes por dia. Sim, as moradoras da casa, mãe e filha, eram zelosas, extremamente limpas e gostavam de tudo nos trinques... Aliás, dona Mocinha às vezes pensava o que a filha exagerava na limpeza e no nojo que tinha de tudo. Suas coisas eram limpas com excesso, a casa tinha que estar brilhando e a comida era um problema pois tudo era ferventado. Rinovara passava sabão nas folhas de alface e couve, lavava o tomate, colocava na água quente e depois o despelava só assim o comia. Convencera a mãe a comprar três filtros, trazia a água, colocava em um, depois retirava a água filtrada e punha no segundo e finalmente no terceiro: só assim bebia o líquido. Quando saía de casa, não aceitava nada, tinha nojo de qualquer coisa que outras pessoas preparassem, não se importava que a chamassem de metida, de entojada, de doida. E assim a vida seguia, com manhãs ensolaradas e tardes azuis com pássaros brincando nos galhos das árvores, cantando lindamente.

Naquela noite, feitas as orações, as duas já iam se deitar, cada qual em seu quarto, quando dona Mocinha deu um grito de pavor. Ao entrar no banheiro deu de cara com uma perereca. Isso Rinovara não admitia, bicho dentro de sua casa, nem pensar. Puxou a porta do banheiro e pediu pra mãe trazer o pano de chão, a pá e a vassoura, para resolver o problema. Quando dona Mocinha abriu a porta da cozinha, deu de cara com outra perereca que pulou para dentro e se instalou debaixo do fogão. A velhinha deu um grito e subiu numa cadeira, alertando a filha. Rinovara saiu do banheiro, pegou o pano e a vassoura e voltou correndo. Começou a operação espanta-perereca, a bichinha pulou para a janela. Quando Rinovara foi tentar tirá-la, a bichinha emitiu um som estranho e pulou em sua direção, aproveitando para direcionar um jato de xixi na boca aberta da moça!

Bom, foi uma gritaria danada, a pobre moça gritando e cuspindo e a perereca se instalando no cantinho mais alto da parede onde a porta era afixada. O resultado foi que as duas se trancaram no quarto e de lá não saíram até o dia amanhecer, quando o irmão de dona Mocinha chegou para pegar umas ferramentas.

O tio caçou as meliantes. E a história acabou. O que aconteceu com a moça, não vou dizer. Talvez tenha deixado de ser nojenta. Talvez tenha enlouquecido e sido enviada para o hospital psiquiátrico em Barbacena. Quem sabe tenha se tornado política pois dizem que política é a arte de engolir sapos – perdão - pererecas! (Na verdade, quem engole porcaria são os eleitores, tendo que suportar uma inflação galopante, alimentos caríssimos, gasolina com preço na estratosfera)... Vocês, meus 5 leitores, escolham o fim da história. E em outubro, escolham com muiiiiiito cuidado o candidato em que votarão. Pra não ficar com a boca cheia de formigas e mais amarga do que chá de boldo. E ver o país ir pro brejo. E nada mais digo. Au revoir.

* Escritora e encantadora de histórias

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Comentários

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Tião Aranha

12 de abril, 2022 | 19:48

“Granhido de pererecas e políticos com garganta larga pra engolir bastante sapos. Sem gente nova para administrar as casas executivas, legislativas e judiciárias o povo estará condenado a ver a subtração dos valores morais da classe trabalhadora ora suprimida com baixos salários. É essa a única razão da sobrevivência? Risos.”

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