17 de janeiro, de 2023 | 14:00
Opinião: Delírio quase tropical
Nena de Castro *
Foi rápido. Mas foi intenso e lindo. O pequeno pássaro pairou no ar ao ritmo de suas asas diáfanas e beijou minhas flores roxas, tão lindas, tão serenas, tão... flores. Tive vontade de ter asas e voar com ele, traçando arabescos pelos ares, convidando as borboletas para uma dança no azul. Com suas cores brilhantes eu me enfeitaria e daria piruetas, fazendo caretas e riria de tudo e de nada, embriagada por luzes e alegria.Mas estou triste e na fragilidade de meus sentimentos, na impossibilidade de consertar o mundo, choro. As lágrimas escorrem pelo meu rosto numa espécie de catarse.
E o beija-flor se vai, mas eu permaneço passarinho e busco voar para além da Trapobana”. Quero ver drummondianamente, se meu coração é mais vasto que o mundo. Quem me dera! Então traço no espaço um círculo de dores e perdas, deixando supostas alegrias no centro. Deixo-me levar pelo vento, asas abertas, porém imóveis e sonhos cor de violeta me envolvem, sou luz, sou trevas, sou tesouro, sou Ismália, enlouquecida, vejo dualidade de luas...
De repente, não sou mais pássaro e sim um cavalo alado, nascido do sangue de Medusa quando decapitada por Perseu. E galopo pelo espaço, sem destino, sou a criatividade de espírito, imaginação e imortalidade. Minhas asas me levam a Pasárgada, onde Bandeira descansa, em prosa dourada e mansa, liberto de seus grilhões. Perseguido pelas bruxingas, perco-me na floresta tropical e encontro onças e macacos, tucanos e anus, índios e conquistadores!
Barrocamente, no delírio entre corpo e alma, claro e escuro, almejo o céu por entre as fendas das rochas esculpidas por raios furiosos. Rio caudaloso, deserto imagístico, sol e pó inclemente, solo dormente onde caravanas se perdem montadas em camelos-robôs.
Ah, que o dia se esvai, chega a noite com belezas traiçoeiras, canções e emboscadas, inferno astral.
E eis que me retransformo, Pégasus, beija-flor, Iracema, Martin, Helena machadiana, Gabriela do Jorge, Nega Fulô no batuque, requebro as cadeiras incessantemente e Macunaíma bebe sua pinga enquanto se espreguiça, os sapos coaxam meu pai foi à guerra!” -não foi”! Foi”.
Lobos me perseguem, corro, eis um lobisomem pronto pra acertar minha jugular, há um vampiro na disputa e corro, corro, senão morro, acode mamãe, me salva desse delírio, me tira dessa agonia, estão me chamando na esquina onde Mandrake se esconde, ai, que melancolia, me manda pra escola, essa blusa branca tem o seu cheiro e me traz aconchego!
A Sherezade conta um conto de fio a pavio, esperando Ulisses que está com as sereias.
Mãe, quem comeu a moela do frango? era do meu pai e passou a ser minha para o banquete real, D. João VI já regressou a Portugal?
Bem-te-vi riu de mim, vou pegar minha aljava com flores, vou chamar meus amores, ele vai ver só quando a mula sem cabeça der uma marrada, eu vou dar risada.
Perdão pela crônica mal -alinhavada, só presepada, só delírio, na verdade, na cabeça dessa brasileira há estupor, estou amarela de medo e verde de indignação, oxalá os ventos da bonança soprem por Pindorama, que a gente ama! QUEREMOS PAZ! (E nada mais digo)
*Escritora e encantadora de histórias
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Gildázio Garcia Vítor
17 de janeiro, 2023 | 16:22Para você, Grande Nena, Bugra velha:
Poeminha do Contra
"Todos esses que aí estão
Atravancando meu caminho,
Eles passarão ...
Eu passarinho!"
(Quintana)”