06 de abril, de 2023 | 13:00
Opinião: O bruto charme da burguesia
Normando Rodrigues *
Brutal”, no vocabulário da dúzia de famílias obscenamente ricas que se esconde sob o nome de mercado”, é Lula tentar direcionar o gasto público em favor da maioria da população.Em 1921 o britânico Somerset Maugham publicou o conto conhecido no Brasil como O Degenerado”, numa das raras adaptações que resultou num título mais feliz do que o original. Na história se opõem as visões de mundo dos personagens Bateman e Edward, a princípio forjados na pujante burguesia da Chicago de inícios do século XX, mas logo separados pela devoção absoluta de um ao sucesso econômico, e pela pulsão de vida dominante no outro.
Maugham é um sensível descritor de mundos exóticos” predados pelo imperialismo europeu e estadunidense, e em quase toda a sua obra está presente o tema da aparente brutalidade dos nativos” e dos que vivem os riscos de se entregar às paixões, em contraste com os civilizados” valores da burguesia capitalista.
Passado um século, a indagação sobre quem de fato é o bruto, é tão atual quanto o são o imperialismo e o próprio capitalismo. E a pergunta é também válida para entender as relações entre Lula3 e os porta-vozes dos donos do dinheiro, como A. C. Pastore.
Pastore, como último presidente do Banco Central na Ditadura, foi quem entregou o país com 235% de inflação ao ano e desemprego de 19%. Agora, idosa vestal, o personagem se permitiu advertir que o arcabouço fiscal de Haddad-Tebet levará a uma brutal” elevação da carga tributária.
A indagação sobre quem de fato é o bruto, é tão atual
quanto o são o imperialismo e o próprio capitalismo”
Já o Santander, que em agosto de 2021 especulava sobre um golpe de estado capaz de impedir a vitória de Lula em 22, comentou que as regras propostas não são críveis o bastante para sustentar o otimismo dos mercados quanto à dívida pública. É preciso traduzir essa linguagem, de modo a revelar as reais preocupações da Casa Grande:
Carga tributária Ladainha eterna dos liberais escravistas, a redução de impostos tem lado na vida; o custo da manutenção de direitos civis (liberdades e garantias individuais) e políticos (organização e atuação coletivas, e eleições) é muito pequeno; já o investimento público em direitos sociais (saúde, educação, previdência, habitação, trabalho...) é necessariamente enorme; logo, ao contrário do que dizem os sapatênis do Novo-velho”, reduzir impostos significa cortar direitos dos pobres, simples assim;
Dívida pública Se há algo nunca dito por banqueiros e serviçais, é que apesar dos gigantescos valores mobilizados na saúde, educação, previdência, etc., a soma dessas rubricas não compõe o maior custo do orçamento da União; por exemplo, no ano de 2022 o refinanciamento e serviço da dívida interna chegou a 63% do orçamento do Governo Federal; ou seja, de cada 100 reais pagos pela gestão do Brasil, 63 foram para os bancos, graças aos juros estratosféricos.
Nada disso é brutal” aos olhos dos banqueiros e de seu títere, o presidente do Banco Central, Bobby Fields Terceiro (neto de personagem que dedicou a vida inteira CONTRA os interesses dos brasileiros). Sequer é brutal” que 23% não tenham o que comer, segundo pesquisa Datafolha dos 3 dias finais de março.
Na mesma pesquisa, aliás, 80% apoiam o combate que Lula empreende contra a taxa de juros e a enormidade do lucro dos banqueiros. Lucro que, considerados apenas Banco do Brasil, Bradesco, Itaú e Santander, foi superior a 96 bilhões de reais em 22.
Em meio a tudo isso, o jornal dono do Datafolha lamenta que o fascismo tupiniquim seja tão brutal, pois, caso contrário, Bolsonaro poderia "liderar uma oposição saudável ao PT". Em outras palavras, o genocídio dos pobres é admissível, desde que educadinho. E, claro, desde que garantido o ganho dos ricos.
* Normando é assessor jurídico da FUP e do Sindipetro NF
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Gildázio Garcia Vitor
06 de abril, 2023 | 13:15Excelente! Parabéns! Obrigado!
O único livro que li de Somerset Maugham, que eu lembro, foi o romance "Servidão Humana", isso há uns 40 anos.”