30 de abril, de 2023 | 16:00

Opinião: Luta Livre, Sempre

Marli Gonçalves *


Todo dia é dia de luta. Todo dia primeiro, seja de maio ou não, é sempre dia de uma luta inglória com a gente se engalfinhando com a lista de contas, prestações e quetais a pagar, que se estendem por todo o período, em círculos; acabou uma vem outra, e outro mês. Pelo que se luta? A favor ou contra? Justiça ou repressão? Pelo que cerramos os punhos, levantamos braços, nos mobilizamos?

O que quero dizer é que vivemos, de alguma forma, sempre engajados em alguma luta, e isso independe até de posições políticas - que agora até a rançosa direita, oportunista, se apropria de falar que – logo ela, que as abate - está lutando por coisas que sempre nos foram caras, tal a confusão estabelecida. Estabelecida, repito. Lutar contra fake news é ir contra a liberdade de expressão? A busca de regular as redes sociais e suas empresas milionárias que estão sempre deixando o barco correr com a navegação de tudo que é muito ruim é certa ou errada? Isso pode se virar contra nós em algum futuro? Podemos gritar “fogo!” em um ambiente fechado cheio de gente para ver no que dá?

Precisamos tomar sempre todos os cuidados com essas discussões que ocuparão um bom espaço nos próximos tempos neste nosso endiabrado país às voltas agora com a busca de aprovação de projetos de leis, com o andar de uma CPI sobre o maldito 8 de janeiro, com as decisões da Suprema Corte e de alguns ministros mandões. O Brasil está chacoalhado, dividido, armado. Com armas e ideias retrógradas, além das desinformações. Descuidado da educação, da cultura, da história, o Brasil deixou crescer barbaridades, influências, medos e ignorâncias e não há pós-verdades simples que resolvam pelo menos não tão cedo, nem com tesouradas de censura, muito menos com atos autoritários. Nossa gente está doente, apavorada, insegura.

Conversando essa semana com uma mulher simples, de comunidade, esta me contava, aflita – quando perguntei como estavam as coisas – que achou, dentro da mochila que o seu mirrado filho de oito anos levaria à escola, uma faca de cozinha, toda enrolada em papel alumínio e panos. Ele, agoniado, explicou que era só para se defender caso o “matador” (o novo bicho-papão das crianças) invadisse sua escola.

Mais, ela me contou que poucas escolas de sua área estão funcionando normalmente, que as fake news (sim, ela sabe o que é isso e usou essa expressão) rolam multiplicadas entre as mães que há quase um mês se recusam a enviar seus filhos para estudar. Disse ainda que, mesmo com reuniões constantes com as forças policiais e com os diretores e professores garantindo segurança, as coisas não melhoram. E que tem até professor assustando alunos anunciando massacres, reverberando boatos que continuam rolando em redes sociais.

Imaginei isso em escala nacional. Não bastasse a rasante que a pandemia causou na educação, isso tudo acontecendo agora que ela precisa ser retomada. Como preencher esse vácuo, esse atraso no aprendizado? Como reestabelecer a tranquilidade de uma mãe que necessita deixar os filhos na escola para trabalhar, isso, claro, quando ainda tem um trabalho a garantir?

A quem interessa que sigam essas molecagens digitais sem controle? Censura, aprender os autores? Quantos pais estão conversando ou averiguando as mochilas de seus filhos até para entender onde estão os seus medos? O que escutam dentro de suas casas ou na igreja que frequentam? Que gerações futuras sairão disso tudo?

Que braços levantamos, que punhos cerramos para continuar, toda a sociedade, e muito além do dia disso ou aquilo, feriado ou não? Mulheres, contra a misoginia, para sobreviver à violência doméstica, aos cuidados e segurança dos filhos. Negros contra o racismo. A comunidade LGBTQIA+ contra o preconceito e a violência que mata e sufoca. Todos, por trabalho, moradia digna, acesso à saúde física e mental. A luta ainda é livre. Vale tudo. Vale todas. Mudam o mundo.

* Jornalista, consultora de comunicação, editora do Chumbo Gordo, autora de Feminismo no Cotidiano - Bom para mulheres. E para homens também, pela Editora Contexto. (Na Editora e na Amazon). [email protected] / [email protected]

Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]

Comentários

Aviso - Os comentários não representam a opinião do Portal Diário do Aço e são de responsabilidade de seus autores. Não serão aprovados comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes. O Diário do Aço modera todas as mensagens e resguarda o direito de reprovar textos ofensivos que não respeitem os critérios estabelecidos.

Tião Aranha

01 de maio, 2023 | 20:10

“? sempre gratificante ouvir o recado dum educador. É uma pena que a sociedade civil no geral, está muito presa ainda nessa visão estreita de governantes que só sabem subtrair - para baixo - as verbas da Saúde e da Educação. Com certeza, essa mentalidade ridícula afasta os ideais de Democracia e tidos os sonhos de Esperança das mentes dos jovens e dos adultos. O fato é que a classe da burguesia já não tem mais o domínio total sobre a Economia. O PT não tem outra opção a não ser de esquerda. De nada adianta ter um país muito rico, mas sem pessoas sábias, despreparadas, e sem visão futurista da vida em Coletividade. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

01 de maio, 2023 | 09:29

“Excelente artigo! Parabéns! Obrigado!
Sr. Tião, convivo com Professores há quatro décadas e, infelizmente, poucos, pouquíssimos, são "apegados" aos livros e à leitura de jornais e revistas, inclusive sobre os assuntos/matérias/disciplinas que eles propõem ministrar.
Faço parte de uma geração, da década de 1960, que ainda acredita que: "Quem lê muito, sabe muito; quem lê pouco, sabe pouco; e quem não lê nada, não sabe nada", essa aprendi com a minha amiga e Mestra, Margarete Abreu Xavier. Desconsiderando os exageros margaretianos, é uma excelente lição.
Esta, aprendi com o meu Pai, que não tinha o antiquíssimo 4° ano "de grupo" da roça: "Só se ensina o que sabe"!”

Tião Aranha

30 de abril, 2023 | 19:26

“Bom texto, o pessoal simples de comunidade nunca foi apegado a livros-, daí a necessidade do marxismo cultural - mesmo porque a ideologia simples como quer muita gente tb nunca leva a lugar algum. Antônio Gransk deixou muito claro a questão do centralismo politico da Esquerda. Risos.”

Envie seu Comentário