29 de maio, de 2023 | 17:20
Luto em Timóteo – Perdemos Robertinho, Pablo e Zaíra de Carvalho
Margarida Drumond de Assis *
O radialista Roberto Luiz Gomes, Robertinho Canhoto, animava as manhãs de domingo em seu programa Domingão do Brega, na Rádio Tropical 96.1, sempre de 7h às 13h. Com 66 anos de vida, teve morte instantânea por um infarto sofrido em seu próprio carro. Com seu falecimento, deixa órfãos a família e um número incontável de ouvintes da emissora.
Também da Comunicação e mais ainda na Cultura, com sua arte musical e dramatúrgica, foi muito sentida a notícia de que partira, aos 54 anos de idade, o artista Pablo Cardoso, natural de Timóteo. Muito ligado à dramaturgia, fazia lindas performances com os tributos em homenagem a Cazuza e Ney Matogrosso, dentre outros. Ele enfrentava um câncer e não resistiu.
Pablo iniciou sua arte nos anos 1980 em teatros e escolas da região e, em 1996, fundou o Grupo de Teatro Gente do Céu, e, em 2003, criou o Grupo Cultural Mineiro Badauê. Ultimamente, Pablo se encontrava feliz por haver realizado apresentação musical no Festival de Cultura de Timóteo – FESTIM, em 14 de abril na Praça 29 de Abril, espetáculo intitulado “Faz parte do meu show, minha cidade”, acompanhado dos também músicos Guilherme, Marcony, Luís Alfredo, Rayone, Everton e músicos convidados.
A outra perda que os timoteenses vivem, hoje, é a do falecimento, aos 86 anos, por leucemia, da escritora professora Zaíra de Carvalho, mulher de coragem e empreendedora em prol da cultura e em benefício social, como o trabalho no Lar das Meninas.
“Embora a tristeza pela perda, fica a alegria
por sabermos que os três cumpriram sua missão,
levando alegria e conhecimento ao próximo”
Timoteense da Fazenda Alegre, hoje bairro Santa Maria, filha de Quintino Alves de Carvalho e Rita Coura de Andrade, Zaíra era professora da área de Letras, muito se dedicou à Educação, Cultura e outras áreas, trabalhando na Santa Casa de Misericórdia, em Ouro Preto, no período em que esteve na Congregação das Irmãs Carmelitas, e também no Hospital Nossa Senhora do Carmo, em Coronel Fabriciano; na Acesita; e outros. Aposentou-se nas redes Estadual e Municipal de Ensino. Falar de Zaíra de Carvalho é falar de cultura em Timóteo, tão grande foi sua dedicação neste segmento.
Imensurável é o valor do legado que Zaíra deixa no município... Em 30 de agosto de 1986, fundou a Associação de Poetas e Escritores do Município de Timóteo – APEMT, no intuito de incentivar a literatura também no Vale do Aço, assim possibilitando o surgimento de novos valores e criando intercâmbio cultural com outros organismos da área no país. Respeitada pelos timotenses, a APEMT possui dezenas de escritores e poetas que estão sempre se apresentando, publicamente, e promovendo outros eventos. Mesmo quando não me encontro em Timóteo, acompanho com alegria e orgulho esta associação da qual sou membro e que hoje tem como presidente o escritor e advogado Carlos Magno que tem feito excelente trabalho como se deu também com outros que guiaram os destinos da entidade, a exemplo da própria Zaíra e da professora Kakau.
Dentre os feitos culturais de iniciativa de Zaíra de Carvalho, com a APEMT, destaco as Coletâneas literárias editadas, a primeira delas em 1987, Vale Poesias; concursos em escolas, a partir de textos da Coletânea; e a II Convenção Nacional da Trova, em abril de 1989, do qual tive a alegria de participar. Após a II convenção, outras ela também conseguiu levar ao município, até o ano de 1994. Já com a Convenção, em 1989, o município abriu um leque de amizade entre os intelectuais da cidade com os de vários estados brasileiros.
Somam-se ainda as ações sociais de Zaíra de Carvalho, quando se afastou temporariamente do meio literário, passando a se dedicar a meninas necessitadas de amparo. Fundou o Lar das Meninas Jesus de Nazaré, em 1993, e o Lar das Meninas Joanna de Ângelis, em 1998.
Escritora, Zaíra de Carvalho deixa à posteridade os livros Coquetel de versos em taças de amor; O choro da criança na missa do prefeito; Bichinho de pé; e Histórias de Timóteo, dentre outros. A ela, a gratidão de cada um de nós, em especial desta que ora lhe faz este tributo. Foi Zaíra quem prefaciou meu primeiro livro editado, Um conflito no amor, escrito em 1977, lançado oito anos depois. A ela a gratidão de todos nós, timotenses, notadamente nós escritores e poetas timotenses e da região do Vale do Aço. O céu a acolhe, tornando mais bela a cultura por lá.
* Professora, escritora e jornalista
Obs: Artigos assinados não reproduzem, necessariamente, a opinião do jornal Diário do Aço
Encontrou um erro, ou quer sugerir uma notícia? Fale com o editor: [email protected]
Tião Aranha
29 de maio, 2023 | 20:54“Bom texto. Grande Margarida. O Universo da Reflexão tem que passar pela boa formação, sendo essa nós herdamos de nossos pais. A cultura local perdeu três grandes nomes. Somente através da leitura, que é a valorização da Cultura; pois, só assim, poderemos realmente esperançar um novo mundo. Zaira acreditava muito nesta presença do Espírito Santo - como capacidade suficiente - para o renascimento vindouro 'deste novo homem'. Risos.”
Gildázio Garcia Vitor
29 de maio, 2023 | 20:52“Não tinha pensado nas recentes perdas de importantes personagens da nossa cultura de forma coletiva, apenas individualmente. Assim, como muito bem expôs a Escritora Margarida Drumond, o vazio se torna maior, não só para a comunidade timoteense mas para todo o Vale do Aço.
Conhecia e admirava a obra de todos os três, mas, apesar de fã e apaixonado por livros e artes cênicas, sentirei mais falta do Roberto Canhoto e de suas performances dominicais em seu impagável programa "Domigão do Brega".
Obrigado por ter alegrado as manhãs de nossos domingos!”