27 de julho, de 2023 | 15:15

Opinião: Crescimento da extrema direita e de células nazistas no Brasil: reflexo da miséria e da desigualdade social

André Naves *

As recentes turbulências políticas em Israel, as eleições espanholas, diversos novos governos europeus, ataques violentos nos EUA e no Brasil, são os alertas para o grave fenômeno do crescimento da extrema direita pelo mundo. Infelizmente, esse cenário encontra solo fértil em nosso próprio país, onde células nazistas têm se disseminado, lançando sombras sobre a nossa sociedade. Contudo, para compreender e enfrentar esse fenômeno, é fundamental reconhecer que sua origem reside na crescente desigualdade social e na miséria que corroem o tecido social, gerando um aumento da polarização e da violência.

O aumento da desigualdade social tem sido um combustível para a disseminação de ideologias extremistas. Países onde as estruturas sociais são mais desiguais estão mais suscetíveis a movimentos que prometem "soluções" radicais e simplistas para os problemas complexos da sociedade. A extrema direita, aproveitando-se das brechas sociais e da insatisfação popular, apresenta-se como uma alternativa sedutora para aqueles que se sentem marginalizados, desesperançados e esquecidos pelas políticas tradicionais.

Nesse contexto, a disseminação de células nazistas em nosso país é uma chaga que reflete a profundidade das desigualdades e a ausência de políticas públicas efetivas para mitigá-las. A crescente polarização política e social apenas amplia o abismo entre os extremos, fomentando um ambiente de animosidade e violência.

A polarização política e o apelo ao populismo exacerbam a divisão entre "nós" e "eles", transformando adversários políticos em inimigos mortais. Nessa dinâmica, o inimigo político deixa de ser apenas um oponente de ideias e passa a ser encarado como uma ameaça existencial. Esse "canto mortal das sereias populistas" convence uma parcela da população de que a eliminação do "outro" é a solução para os problemas sociais.

“É fundamental reconhecer que a origem reside
na crescente desigualdade social e na miséria que corroem o tecido social”


Contudo, acreditar nessa cilada é um equívoco que pode ter consequências catastróficas. O combate a problemas sociais não pode ser simplificado na eliminação física ou no silenciamento de grupos e indivíduos divergentes. Investir contra os aparentes problemas, sem analisar suas raízes e nuances, é condenar-se a uma empreitada vazia e ineficaz.

Para combater essa colheita macabra, é urgente mudar o plantio. Isso significa abraçar a democracia e seus valores fundamentais. Democracia é muito mais do que votar em representantes periodicamente; é assegurar a vontade da maioria sem desrespeitar a dignidade das minorias. Aprofundar e concretizar os Direitos Humanos é o caminho para uma sociedade mais justa, igualitária e inclusiva.

Os direitos humanos não são meros conceitos abstratos; eles estão intrinsecamente ligados à essência da vida humana. Garantir a plenitude das condições existenciais das pessoas, respeitar sua liberdade, promover a igualdade de oportunidades, assegurar a propriedade e a segurança em suas diversas dimensões são pilares para uma sociedade mais justa e menos suscetível ao ódio fascista.

Aliás, os direitos humanos devem ser entendidos como todos aqueles decorrentes da Vida, entendida como a plenitude das condições existenciais da pessoa; da Liberdade, entendida como a possibilidade de cada indivíduo ser, e se portar, segundo seus desígnios; Igualdade, entendida como igualdade concreta de condições de emancipação humana; Propriedade, entendida como possibilidade de se assegurar, e desenvolver, tudo aquilo que é próprio ao ser humano; e Segurança, que vai muito além do combate à violência, materializando-se como a oportunidade de satisfação das necessidades existenciais humanas (segurança alimentar, segurança sanitária, segurança educacional...).

A equalização das barreiras estruturais da sociedade, a promoção da inclusão social e a busca por uma convivência diversa e plural constituem a melhor vacina contra o segregacionismo. Ao enfrentarmos a desigualdade social, desarticularemos a base que sustenta o ódio e o extremismo político e social.

Uma sociedade verdadeiramente sustentável é aquela que reconhece e valoriza a diversidade, que protege e fortalece os direitos humanos de todas as pessoas, independentemente de sua origem, etnia, gênero ou crença. Somente através de uma sociedade inclusiva e justa poderemos construir um futuro melhor, livre dos grilhões do ódio e da violência.

É fundamental reconhecer que o crescimento da extrema direita e a disseminação de células nazistas no Brasil são sintomas de um problema maior: a desigualdade social e a miséria que corroem os alicerces de nossa sociedade. O caminho para combater essa ameaça não é abraçar o extremismo, mas sim aprofundar a nossa democracia, pautada nos valores dos Direitos Humanos.

Ao investirmos na construção de uma sociedade mais justa e igualitária, estaremos plantando sementes de esperança, em prol de um futuro em que a convivência pacífica e a harmonia prevaleçam sobre a polarização e a violência.

* Defensor Público Federal, especialista em Direitos Humanos e Inclusão Social; Mestre em Economia Política.

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Comentários

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Tião Aranha

28 de julho, 2023 | 08:02

“Tem tudo a ver com as desigualdades sociais que são formas de preconceitos. O mundo está em crise econômica e cada pessoa quer manter o seu status quo na Sociedade. Por trás das crises sociais vem as crises dos valores, da competição financeira, e de um querer ter mais que o outro. Isso acontece até no seio familiar. Mas qual o capetao velho que plantou essa semente da discórdia? Fio feio não tem pai. Risos.”

Gildázio Garcia Vitor

27 de julho, 2023 | 18:18

“Não entendi o argumento central do artigo.
A extrema-direita brasileira é muito mais "poderosa" nos estados do Centro-Sul, os mais ricos da Federação, e entre os mais abastados e, por isso, "Donos do Poder" político-econômico. Os mais pobres, em geral, votamos em partidos de centro e das esquerdas. Os meus colegas Professores que se acham ricos, são das Direitas, os pobres, somos esquerdas e centro.
Em nivel mundial, a extrema-direita é poderosa nas ricas e culta Nações Europeias.”

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