
07 de agosto, de 2023 | 13:42
A escolha
Nena de Castro *
Resolveu sair. Penteou os cabelos, pegou a sacola de juta, encostou a porta da cabana e saiu. Caminhou pela trilha até o lago que rebrilhava sob os raios do sol nascente. Parecia um caminho de prata, superfície calma, mas ela sabia que sob as águas havia vida. Então dirigiu-se para as árvores centenárias onde os pássaros se abrigavam. Cantando uma canção ancestral, abraçou o tronco de uma delas e falou as palavras mágicas. No tronco, com um chiado, apareceu uma porta, que ela abriu suavemente, entrando por um caminho cheio de musgo e urzes.À medida que caminhava passava pelas cabanas onde viviam os elfos. Cumprimentou-os e continuou caminhando até chegar ao jardim encantado. Flores de todas as cores e formas balançavam-se e enchiam o ar de odores diversos, todos muito agradáveis. Passou por elas e tomou o caminho que a levaria à cascata; no meio do murmurejar das águas, avistou a fada rainha banhando-se enquanto cantava uma doce canção. Esperou o término das abluções, esperando sua vez de falar com a rainha, o que aconteceria somente quando ela permitisse.
Após sair da água, sacudir os cabelos e as asas, vestir-se com o manto real, a Fada dirigiu-lhe o olhar inquisidor.
- O que deseja?
- Saudações, senhora. Já se passaram cinquenta luas, e vim saber se posso retornar ao reino das fadas.
- Ainda não. Você deve ficar mais um tempo entre os mortais, disse a rainha.
- Fiquei lá tanto tempo... Por que devo permanecer ainda?
- Você sabe a causa. Relacionar-se com um mortal é um erro gravíssimo, e você cedeu à paixão. Então foi condenada a tomar forma humana, sem poderes e viver entre os mortais. Seu amado foi encantado. No entanto, vejo em seu coração que o amor está cada vez mais forte e você sente falta dele. Não, não pode voltar.
- Mas eu sinto falta da convivência com as outras fadas, sinto falta de voar pelos caminhos dourados pelo sol, a ausência das maravilhas que realizava para os humanos...
- Volte para sua cabana, consulte seu coração. Sabe o que fazer para decidir seu destino. Adeus!
A fada tornou-se invisível aos seus olhos e ela tomou o caminho de volta, pensativa. À noite, depois de muito pensar, tomou uma decisão: cortou o longo cabelo, queimou sua varinha mágica, e começou a entoar uma canção de amor. E aí, seu amado foi desencantado, ela perdeu os poderes mágicos e uniu-se a ele, para uma vida comum, mas enfeitada pela mística mais forte entre os humanos: ela escolheu o AMOR!
* Escritora e encantadora de histórias
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Tião Aranha
08 de agosto, 2023 | 21:44Bom texto, realmente está muito difícil viver por entre os mortais. Só mesmo com muita magia, pois o ser humano está perdendo mesmo é a capacidade de amar tornando-se cada vez mais frio e calculista - tipo geração Z. Ou será que é preciso ter mais paciência com os jovens? De repente, envelhecemos e nem percebemos. Risos.”