
10 de agosto, de 2023 | 13:00
Opinião: A Igreja de San Roman e os alertas do clima
João Guilherme Sabino Ometto *
Na vila de San Roman, na Catalunha, Espanha, uma igreja há muito tempo submersa ressurgiu em 2023. Motivo: o baixíssimo índice pluviométrico nos últimos três anos, reduzindo muito o volume do reservatório no qual se localiza.O inusitado episódio, mais uma consequência do aquecimento global, enfatiza os alertas contidos no relatório de 2023 do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC) da ONU. Os desastres naturais relacionados a essas alterações atingem principalmente as populações mais vulneráveis e os ecossistemas mais frágeis. É o triste caso das 43 mil pessoas que morreram na Somália em 2022 devido à seca.
Novo estudo da Organização Meteorológica Mundial (OMM), divulgado em julho de 2023, mostra que os choques climáticos e meteorológicos extremos estão se agravando na América Latina e no Caribe, em decorrência do aquecimento e da elevação do nível do mar. O Brasil é mencionado no documento por conta das intempéries que prejudicaram a agricultura no início de 2022, das chuvas que causaram numerosas mortes em Petrópolis (RJ) no mesmo período e dos incêndios na Amazônia.
A temperatura média mundial já subiu 1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais. O Acordo de Paris estabelece o limite de 1,5 grau. Para viabilizá-lo, são necessárias reduções rápidas e sustentadas das emissões de gases de efeito estufa. O Brasil tem boas possibilidades de contribuir para isso, como já vem fazendo com o etanol, biometano, autogeração de eletricidade a partir do bagaço de cana e a preservação de florestas e mananciais nas propriedades rurais. A economia verde também apresenta significativo potencial econômico.
A temperatura média mundial já subiu
1,1 grau Celsius acima dos níveis pré-industriais”
No entanto, como destaca o IPCC, o êxito da agenda do clima somente será possível com o aumento significativo do financiamento, principalmente por parte das nações ricas. As ações são urgentes, pois, além de secas e enchentes, como a que assolou o Litoral Norte paulista no Carnaval, há outra consequência do aumento da temperatura terrestre: a insegurança alimentar e hídrica. O risco é apontado em outro relatório da ONU. Dados agora compilados, referentes a 2020, mostram que 26% da população mundial não têm acesso a serviços de água potável gerenciados com segurança e 46%, a saneamento.
O ressurgimento da igreja de San Roman e as variações climáticas são alertas emblemáticos. Não basta assinar tratados para não serem cumpridos, pois a natureza jamais será signatária de acordos desse tipo e continuará punindo seus transgressores e, por tabela, todos os habitantes da Terra.
* Engenheiro (Escola de Engenharia de São Carlos - EESC/USP), empresário e membro da Academia Nacional de Agricultura (ANA).
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